Edição 112
Como mãe, como educadora, como cidadã
Ser uma azinheira ou bananeira, questão de opção
Zeneide Silva
Há pouco tempo, assisti à homilia do Padre Chrystian Shankar dizendo que queria ser como uma azinheira e que deveríamos ser também. Confesso que não conhecia a palavra azinheira e muito menos sabia que era uma árvore. Escutando a homilia, fiquei impressionada com as características da árvore e logo desejei também ser como uma azinheira.
Pensando no atual momento que estamos vivendo, com essa pandemia que já nos causou tantos transtornos, resolvi escrever este artigo para refletirmos todos juntos, com a certeza de que vamos reconhecer que, em alguns momentos, já somos como uma azinheira, diante de tantas mudanças, como aulas remotas, demissões, cobranças dos pais, saída dos alunos e, além de tudo, o medo que se nos apresenta diariamente com o grande índice de crescimento da Covid-19.
A azinheira apresenta três características muito fortes, como:
1. Sobrevivente
Ela se adapta a quase todo tipo de solo, com exceção do solo com muita água. Se o solo é bom, ela cresce; se a terra é péssima, ela cresce; se tem muita areia, ela cresce. É uma planta resiliente.
Adapta-se a todas as situações mesmo sendo ruins, mas acreditando que as coisas mesmo ruins um dia vão melhorar e com certeza vão ajudá-la no seu desenvolvimento. E nós, educadores, como estão sendo nossas atitudes diante dessa pandemia? Será que estou me adaptando ou só faço reclamar?
Conversei com alguns professores que já pensaram em pedir demissão por não querer tentar o novo. Dizem que não vão conseguir por não se adaptar às novas tendências do mercado, dos valores, das famílias, das escolas. E nossa vida é feita de escolhas. E qual a importância de uma escolha? Quantas vezes escolhemos nossos caminhos sem nos darmos conta do impacto que uma simples escolha pode representar em nossa vida, interferindo em uma longa vida. Quantas vezes, no impulso de resolver algo que nos inquieta, tomamos uma decisão sem pensar nas consequências?
Cada uma das escolhas que fazemos, até mesmo aquelas que parecem não ter importância, gera consequências que nos acompanham por toda a existência. Por isso, é fundamental que cada escolha seja feita conscientemente, porque elas definirão nosso futuro. Enfim, estamos iniciando uma nova vida, e para que isso aconteça é preciso nos adaptarmos e aceitarmos o que há de vir.
A pessoa que tem mais facilidade de se adaptar sofre menos, pois tem coragem e a certeza de que o jogo ainda não acabou.
Se a azinheira tiver condições, chegará a ter 25 metros de altura. Ela tem uma copa larga, que projeta uma grande sombra, que lembra um refrigério. Chamamos isso de desenvolvimento. Como a azinheira, precisamos nos desenvolver emocionalmente, fisicamente e espiritualmente, pois precisamos estar bem para poder ajudar a todos os que estão próximos de nós, principalmente aqueles que estão em formação. É muito importante termos consciência de que, como homens e mulheres, educadores e educadoras, a escola escolariza e que a responsabilidade de educar é dos pais. Isso ajudaria a nossa prática educativa, pois tudo em excesso é prejudicial em qualquer área de nossa vida. Então continuo com minhas perguntas. Será que estou sendo um refrigério, levando alívio para meus colegas de trabalho e para os pais de meus alunos, apoiando a Direção diante das incertezas de quantos alunos teremos ainda e da folha de pagamento? Será que consigo ter esperanças aprendendo a ser forte como o tronco de uma azinheira?
2. Resistente
Ela é provada todos os dias com chuva, sol, seca, calor, frio, mas está sempre verde. Floresce entre os meses de março e maio. Florescer significa que algo de bom está por vir. Depois da flor, vem o fruto. Será que estamos acreditando que, depois de tudo isso, as coisas vão melhorar, sairemos pessoas melhores? Valorizaremos mais o essencial, como família, amigos, parentes, Deus, trabalho, o silêncio para escutar a nós e ao outro? Será? A azinheira suporta ser podada, pois sabe que surgirá mais forte. Será que estamos entendendo que nesses momentos estamos sendo podados para sermos melhores, mais agradecidos, para nossa pratica ser mais verdadeira? Precisamos optar por sorrir mais; ser feliz só depende de nós.
Precisamos chegar na escola felizes, agradecidos e dispostos a fazer a melhor atividade, o melhor projeto, com mais dedicação aos alunos, sendo gentis com os funcionários e com os colegas de trabalho, com os pais e, sobretudo, com a Direção. Precisamos ter foco e aproveitar as condições naturais e disponíveis, principalmente nesse período, acreditando que produzir pode gerar mudanças ao se concentrar em um único ponto. Eu sou capaz; eu vou conseguir. Acho que essa deve ser também a prática da azinheira.
Você precisa também comungar com as ideias da escola e ver a Direção como sua companheira, que confia em você, em seu trabalho, nunca como uma rival, e com a disposição de fazer o outro melhor. Você sabe que é capaz de transformar corações e formar seres com empatia, pensantes, críticos e que será eternamente lembrado por ter feito sempre o melhor. Lembre-se de que como educadores somos responsáveis em podar seres humanos para serem melhores, e a qualidade do que comunicamos determina os resultados em cada área de nossa vida. Agora pergunto: você se lembra com mais carinho daquele ou daquela professora que lhe cobrou só conteúdo ou do/a que marcou sua vida com palavras e gestos que fizeram de você uma pessoa melhor?
3. Tem uma vida longa
Creio que este seja o desejo de toda a humanidade: ter uma longa vida, assim como também o fim dessa pandemia, para que possamos aos poucos voltar à nossa rotina acreditando em dias melhores. O ano de 2020 será lembrado como um ano de muito sofrimento. E, diante do sofrimento, as pessoas reagem de diferentes maneiras. Algumas apenas choram, outras se recolhem caladas, enquanto outras se desesperam. Uma parcela da humanidade entende o sofrimento como castigo; e outra, como provação. Eu prefiro aceitar como provação e reflexão, que deixará em nossa vida marcas bem profundas, como a do umbigo, a cicatriz que me lembra que um dia fui bebê e estive ligada fisicamente a alguém que me trouxe ao mundo. Isso é a vida!