Edição 65

Gestão Escolar

Sou professor. Por que preciso ensinar conteúdos?

Sérgio Marcelo Salvino Bezerra

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A prática docente tem sido, ao longo dos anos, tema de muitas reflexões e programas de capacitação de secretarias de Educação. A inquietação dos professores diante do descaso com sua profissão e a falta de compromisso de muitos atores da Educação colocam em xeque a real motivação do educador para estar em sala de aula.

Quantas vezes nos questionamos sobre o que de fato devemos realizar em sala de aula? O que os alunos esperam de nós, professores? O que os educandos buscam nas escolas? Eles sabem o verdadeiro sentido do que estão aprendendo?

Como é difícil entender o que se passa na cabeça dos estudantes… O dia a dia na escola parece ser enfadonho e repetitivo: os professores são inúmeros, mas as aulas parecem ser todas iguais. A tecnologia está à disposição de muitas escolas, mas parece não conseguir atender aos anseios dos alunos.

E os conteúdos? O que estes se tornaram? É preciso, mais do que nunca, refletir sobre a necessidade dos conteúdos no contexto escolar. Mas ensinar conteúdos é realmente necessário? É essa uma tarefa do professor?

Esses questionamentos parecem inoportunos quando o assunto é escola, porém, se estamos no ambiente escolar, cuja meta muitas vezes é concluir um livro ou fechar um ciclo, é evidente que os conteúdos precisam ser ensinados. Talvez esta seja a resposta esperada para os questionamentos iniciais. Não podemos, no entanto, deixar de refletir sobre o valor do conteúdo, pois este, por si só, é incapaz de gerar conhecimento: ele não forma o cidadão e não prepara as pessoas para a vida.

Eis um grande desafio do educador: identificar quando, como e quais conteúdos ensinar (e se deverá ensiná-los). O conteúdo nada mais é do que um caminho que precisamos percorrer e um instrumento que é utilizado para se chegar ao real objetivo da Educação: a formação cidadã do indivíduo.

A sociedade tem cobrado, através do formato adotado para a admissão em universidades, escolas técnicas e institutos federais, uma postura conteudista das escolas, o que compromete a qualidade do ensino e coloca em xeque a formação do sujeito. Tal formato tem deixado professores inquietos e angustiados por perceberem que seus alunos não estão dando conta dos conteúdos nem absorvendo as temáticas propostas pelas secretarias de Educação e por suas políticas educacionais. Definitivamente, ensinar conteúdos não é a tarefa maior do professor. Ensinar conteúdo não pode e nunca poderá ser o objetivo maior do educador.

Vivemos, na atualidade, diante de um grande dilema, que é definir o papel real da escola e de seus atores. Colocamos em lados opostos a qualidade e a quantidade, como se ambas não tivessem possibilidade de interseção. É preciso entender que a união dessas duas variáveis permitirá uma visibilidade da excelência na Educação. Aliar a quantidade de conteúdos com um espaço de tempo adequado promove eficiência e garante a qualidade necessária no processo de ensino e aprendizagem.

Diante desse quadro, o conteúdo parece sair de cena, sendo conduzido ao esquecimento. Não… Não deve ser esquecido, mas deve ser locado em seu devido espaço — ele deve figurar como pano de fundo do ambiente escolar.

Aos educadores da Educação Básica e Superior, é necessária a consciência da sua condição de ensinante, responsável por parte da formação do sujeito, enquanto aprendente e indivíduo, que requer atenção especial e que necessita da compreensão de sua subjetividade.

Professores precisam entender a função que os conteúdos desempenham no sistema educacional, primando pela qualidade e pela formação do sujeito. Conteúdo por conteúdo se perde no tempo e no espaço. É hora de refletir. É hora de pensar em si. Não numa perspectiva egocêntrica, mas pensar em nossa prática docente, naquilo que gostamos e sabemos fazer: educar (será que sabemos e de fato gostamos?). Dessa forma, faremos melhor ao outro e a nós mesmos. Isso facilitará nossa carreira de educador e nos tornará pessoas mais conscientes e com melhores intenções para com a Educação.

Professor, seja consciente da sua condição de educador e faça o que há de melhor. Ensine conteúdos, mas saiba os porquês de cada um deles e o sentido que eles têm na vida de seus alunos. Os frutos certamente virão…

Pense nisso.

Sérgio Marcelo Salvino Bezerra é especialista em Gestão Ambiental, professor das redes estadual e particular de ensino do Estado de Pernambuco.

Endereço eletrônico: sergiobezerra.prof@gmail.com.

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