Edição 96

Profissionalismo

Sou professor, ser ou não um formador de opinião?

Sérgio Marcelo Salvino Bezerra

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Em meio a tantas informações na era da geração Z (caracterizada por pessoas que nasceram a partir de meados da década de 1990), surge um questionamento de significativa parcela de docentes sobre seu papel de formador de opinião. No entanto, formar opinião é um requisito inerente à profissão de professor? É de interesse do docente ser um formador de opinião? E… o que de fato é ser um formador de opinião?

Nos ambientes escolares, há uma variedade de perfis de professores, todos dotados de qualificação profissional em diferentes áreas do conhecimento. Todavia, muitos se apresentam numa postura engessada, sem flexibilidade para mudanças. Velhas posturas ainda permanecem na nova escola. Antigos procedimentos inquietam docentes por não surtirem mais efeitos como os de outrora. Insistir em uma prática arcaica parece ser, para muitos, a regra básica da educação, pois por muitos anos tal postura foi considerada eficiente (será?). Mas qual a relação dessas nuances com ser ou não um formador de opinião?

Bauman (2017), autor do conceito de “modernidade líquida”, fala das mudanças profundas que a civilização vem sofrendo com a globalização e o impacto da tecnologia da informação. Para ele, o formador de opinião de hoje aceita todas as manifestações, mas não apoia nenhuma. Será este um receio do docente diante das transformações do mundo pós-moderno?

A questão é que se precisa compreender a dinâmica da era da informação, cuja tônica é o tempo. A sociedade corre cada vez mais rápido, a palavra paciência parece não mais compor o dicionário das pessoas. Dentro deste contexto estão inseridos o professor e o estudante. Aquele necessita de formação continuada, objetivando atualização em sua área de atuação, como também não se tornar ultrapassado, com um sentimento de obsolescência. Os estudantes, por sua vez, têm acesso à informação em velocidade jamais vista, o que influencia diretamente seu comportamento na escola, podendo gerar diversos conflitos.

Diante disso, surgem questionamentos: como ser formador de opinião numa sociedade tão apressada? Como dominar a situação de estudantes que passam o dia conectados às novas tecnologias? Ou, ainda, como se libertar do quadro e do giz que ainda são utilizados em muitas instituições de ensino no Brasil?

Não é difícil encontrarmos professores ministrando suas aulas escrevendo no quadro e de costas para os estudantes. Neste mesmo cenário, podemos observar estudantes usando celulares, tablets, fones de ouvido ou conversando entre si, alheios à temática da aula. Definitivamente, estamos vivendo um momento de fragilidade na Educação brasileira. Professores e estudantes parecem percorrer caminhos distintos e distantes, cujo ponto de chegada não coincide. A quem devemos atribuir a responsabilidade de tal situação? Será que há algum culpado?

Estudantes e docentes devem ser colocados em lados distintos, não para uma batalha, mas para uma reflexão desprovida de tendenciosismo. Procurar culpados não é o melhor caminho, mas desenvolver estratégias com os pares trará, sem dúvidas, um horizonte de possibilidades.

Não é difícil encontrarmos professores ministrando suas aulas escrevendo no quadro e de costas para os estudantes. Neste mesmo cenário, podemos observar estudantes usando celulares, tablets, fones de ouvido ou conversando entre si, alheios à temática da aula

Para subsidiar este texto, sem pretensões científicas, pude entrevistar 100 (cem) professores, dos quais 94 afirmaram ser formadores de opinião. Ainda foram questionados sobre as dificuldades que enfrentam ao desempenhar este papel. Muitos atribuíram este ponto ao bombardeio que os jovens recebem das redes sociais e dos outros meios de comunicação, com informações muitas vezes sem credibilidade. Áreas como política, religião, diversidade cultural e gênero são as de maior evidência e que chamam a atenção pelo tendenciosismo e pela divulgação de conceitos deturpados. Estas informações parecem mais confundir que esclarecer a mente dos estudantes. Realmente, um quadro que influencia a formação do jovem e que por vezes dificulta o trabalho do professor.

O resultado dessa simples pesquisa nos leva a refletir sobre as diferenças entre esta geração Z e aquela geração X (nascidos no início de 1960 até o final dos anos 1970), que via no professor uma figura de respeito e de grande influência na sua vida. Era o tempo do docente, mesmo sem pretensão, ser um efetivo formador de opinião.

Bueno (2010) afirma que os jovens sempre esperam dos pais e professores um comportamento digno de ser copiado, e, mesmo que estes não desejem tal encargo, a verdade é que são as pessoas que mais formam opiniões.

Ser ou não um formador de opinião não é uma simples e objetiva tomada de decisão, mas uma leitura daquilo que somos e daquilo que nossos estudantes conseguem perceber pela forma como nos comportamos e os tratamos. Somos, mesmo que não queiramos, espelhos para os estudantes, que, em algum momento, irão nos citar como bom ou mau exemplo.

Há, em todo esse contexto, uma nítida batalha chamada de choque de gerações. É neste ponto que precisamos focar e buscar compreender as diferenças que tanto distanciam estudantes e professores. Mesmo os recém-formados, que em geral possuem afinidade com as novas tecnologias, pelo afã do cotidiano, ficam sem tempo para compreender a subjetividade de uma sala de aula e criar estratégias que facilitem e qualifiquem seu trabalho.

É definitivamente complexo, na sociedade atual, o papel de formador de opinião desempenhado pelo professor. É necessária uma compreensão da importância desse papel. Não é preciso verbalizar nem defender vorazmente uma ideia. Basta ser professor, e você terá necessariamente que conviver com essa responsabilidade.

Agora, depois desta breve leitura, convido o estimado leitor a responder todos os questionamentos feitos ao longo do texto e, junto com outros colegas, elencar o que lhes impõe dificuldades na vida laboral. Faça uma reflexão, realize um debate sobre o tema e fortaleça suas ações docentes. Ser ou não um formador de opinião será uma decisão pessoal, a qual necessitará de uma profunda análise sobre as implicações que isso traz em sua carreira de mestre.

Pense nisso.

Sérgio Marcelo Salvino Bezerra é gestor escolar na rede estadual de ensino de Pernambuco; professor na rede municipal do Recife; graduado em Geografia pela Universidade Federal de Pernambuco; especialista em Gestão Ambiental (Faculdade Frassinetti do Recife – Fafire) e Psicopedagogia (Universidade Católica de Pernambuco – Unicap/Cepai). E-mail: sergiobezerra.prof@gmail.com

Referências

BAUMAN, Zygmunt. Vigilância Líquida. Jorge Zahar: Rio de Janeiro, 2017.

BUENO, Erika de Souza. Formadores de Opiniões. O poder de impacto sobre o outro. Disponível em: http://www.planetaeducacao.com.br/portal/artigo.asp?artigo=1878. Acesso em 12 fev. 2017.

FACCINA, Carlos. Carreira e o papel dos formadores de opinião. Disponível em: http://www.learning-performancebrasil.com.br/home/artigos/artigos.asp?id=8183. Acesso em 18 fev. 2017.

MEYER, Maximiliano. Quais as diferenças entre as gerações X, Y e Z e como administrar os conflitos? Disponível em: https://www.oficinadanet.com.br/post/13498-quais-as-diferencas-entre-as-geracoes-x-y-e-z-e-como-administrar-os-conflitos. Acesso em 14 fev. 2017.

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