Edição 29

Matérias Especiais

Sua escola já tem um projeto político-pedagógico?

escola_projetoToda escola deve ter definida, para si mesma e para sua comunidade escolar, uma identidade e um conjunto orientador de princípios e de normas que iluminem a ação pedagógica cotidiana.

Para a concretização dessa tarefa, diretores, orientadores, professores e mantenedores devem contar com a ajuda de um Projeto Político-pedagógico (PPP).

Ele se inicia como um ideal e caminha, passo a passo, até transformar-se em realidade. É diferente de planejamento pedagógico. É um conjunto de diretrizes que norteiam a elaboração e a execução dos planejamentos. Por isso, envolve princípios que são mais permanentes. Eles mostram e definem a identidade da escola.

Quem determina as linhas mestras do PPP são os mantenedores; ao total, ele possui três grandes pilares:

1. Fundamentos ético-políticos (valores).
2. Fundamentos epistemológicos (conhecimento).
3. Fundamentos didático-pedagógicos (relações).

O projeto político-pedagógico reveste-se da maior importância porque permitirá aos pais a escolha da escola com base em seus princípios, sua identidade e em outras características. Veja como estruturar o seu:

1. APRESENTAÇÃO – Relate como o projeto nasceu. Conte um pouco desse trabalho: o tempo transcorrido entre o ideal e o começo de sua elaboração, quem participou da efetivação, as dificuldades encontradas e os resultados alcançados. Relate também os objetivos do plano político pedagógico. Ressalte que esse projeto deve ser a fonte inspiradora de todos aqueles que constroem a história educacional da escola.

2. HISTÓRICO – Conte um pouco da história da instituição. Relate o ideal de seus fundadores e, resumidamente, o caminho que a entidade seguiu, desde o início até os dias atuais.

Coloque a identificação: designação, mantenedores, endereço, atos jurídicos de legalização dos cursos, enfim, aqueles dados que a identificam.

3. DA VISÃO AOS OBJETIVOS – Apresente uma síntese sobre a visão adotada nos seguintes tópicos (lembre-se de que, aqui, você ainda não entrou em sala de aula):

A) Visão de mundo. O mundo se transforma constantemente, e o homem é sujeito da própria educação. Dessa forma, através da reflexão sobre o ambiente, ele contribuirá para as mudanças e melhorias. No mundo tecnológico, não perderá de vista a qualidade de vida.

B) Visão de sociedade. A participação do homem como sujeito da sociedade implica uma postura crítica. A cultura constitui a aquisição sistemática da expressão humana. Por isso, uma escola deve descrever sua visão de cultura.

C) Visão de conhecimento. O conhecimento é a informação elaborada. A educação deve permitir que o homem seja sujeito do seu desenvolvimento e participe da transformação da sociedade. O objetivo da educação é dar condições para que o educando desenvolva suas capacidades como ser pensante.

D) Visão de escola. Cabe à escola, como instituição cultural, transmitir a seus alunos o conhecimento acumulado pela humanidade. Os conteúdos devem ser apenas um meio para levar o aluno a desenvolver habilidades que, harmonicamente conduzidas, — tornar-se-ão competências necessárias para uma vida de qualidade com cidadania.

E) Missão. A primeira missão de uma instituição educacional é formar as crianças para o amor ao conhecimento. A escola tem por obrigação fazer com que os seus alunos sejam felizes. Para isso, é necessário que o conhecimento seja transmitido de uma forma prazerosa. Exemplo de missão: “Oferecer ensino de excelência à comunidade e propiciar condições para uma aprendizagem significativa, atualizada e eficaz, que prepare alunos competentes, éticos e com argumentação sólida”.

F) Objetivos. Nesse espaço, entram os objetivos gerais do mantenedor. Ninguém está pensando em sala de aula, muito menos em conteúdo. Está apenas sonhando com a escola ideal. Exemplo: “Propiciar a formação de cidadãos autônomos e críticos, cuja característica seja a capacidade de argumentação sólida”. Devem ser colocados alguns objetivos gerais, não de conteúdos, e sim de ideais.

Até esta fase, tudo foi elaborado pelo mantenedor. O professor e a comunidade ainda não entraram no projeto. Agora, vamos abordar os fundamentos.

4. FUNDAMENTOS ÉTICO-PEDAGÓGICOS – Neste momento, entra em cena o Regimento Escolar. O regimento é um documento anexo e dá sustentação jurídica ao projeto político-pedagógico.

Aqui, a entidade vai trabalhar os valores éticos, políticos, religiosos, com o objetivo de formar um cidadão com uma “identidade”, isto é, com a marca da escola onde estuda. Nesse item, a escola deve explicitar o tipo de cidadão que deseja formar e para qual sociedade. Deve descrever quais os valores que serão enfatizados e vivenciados prioritariamente durante o processo educativo.

Também é preciso escolher entre três e cinco valores que a escola deverá trabalhar. Exemplos: verdade, justiça, amizade, respeito, solidariedade, competência, integridade, entre outros. Não existe “ecletismo”. Defina sua linha pedagógica com argumentos sólidos.

Por parte da escola, como deverão ser desenvolvidos o valor e o respeito? Exemplo: a escola respeita a individualidade de seus alunos. Por parte do professor, como será desenvolvido o respeito? O professor exerce o papel de educador de seus alunos. Por parte do aluno, como será desenvolvido o respeito? O aluno cuida dos bens de uso comum; exige de seus professores, de forma respeitosa, um ensino correspondente às suas aspirações.

Assim deve ser feito com cada valor escolhido pela escola, desenvolvendo alguns objetivos para a escola, para o professor e para o aluno.

5. FUNDAMENTOS EPISTEMOLÓGICOS – Trata-se da construção do conhecimento. Nesse item, a escola deve definir como tratará o conhecimento, o que pensa ser o conhecimento e como ele é adquirido. Aqui ela vai definir a sua linha pedagógica e desenvolverá a sua argumentação. Exemplos: construtivista, montessoriana, positivista, interacionista, tradicionalista, etc. Os autores teóricos devem ser buscados na literatura.

O que é o conhecimento, como ele se produz, como as pessoas se apropriam dele? A humanidade já respondeu a essas questões. Veja em que autor teórico a escola vai se apoiar, pois não existe prática na escola que não esteja apoiada em uma corrente teórica. Explique como o sujeito se apropria do objeto do conhecimento.

Quando a escola escolhe os teóricos, ela está definindo a didática da sala de aula. Se, por exemplo, o autor teórico for da linha tradicional, a aula terá o professor como centro; o aluno e o conhecimento estarão num patamar mais baixo. O aluno será mero reprodutor de verdades (dogmas).

Se a escola escolher um teórico construtivista sociointeracionista, o professor será simplesmente o mediador entre o aluno e o conhecimento. Resultado final:

* Escola tradicional = Aluno ator.
* Escola construtivista = Aluno autor.

As epistemologias, isto é, as teorias do conhecimento mais em voga são:

* Empirismo/Positivismo, cujo enfoque é o conhecimento visto como descrição da realidade.
*Construtivismo Sociointeracionista, cujo foco é o conhecimento visto como representação da realidade.

Ecletismo não existe. Portanto, a escola deve se posicionar quanto à linha de ação. Em geral, as escolas estão em fase de transição da linha tradicionalista para a linha progressista. Isso porque os professores foram formados na linha tradicional, com o conteúdo estanque. Agora, a lei educacional vigente pede interdisciplinaridade e contextualização. Exemplo: se a escola for de cunho religioso, naturalmente terá muito do carisma do seu fundador.

Quando a escola escolher seus autores teóricos, deve citar um pouco da sua teoria e argumentar por que os escolheu. Por exemplo: Paulo Freire prega, antes de tudo, o gosto de viver, a construção e a realização do homem, mesmo na adversidade.

Há também Pedro Demo, Vygotsky, Howard Gardner, Jean Piaget e outros autores. Para cada um que a escola escolher, deve mencionar um pouco de sua teoria. E a escolha deve primar pela coerência.

6. FUNDAMENTOS DIDÁTICO-PEDAGÓGICOS – Aqui, as “Diretrizes para uma Pedagogia de Qualidade” apontam para três focos: identidade, diversidade e autonomia. A interdisciplinaridade e a contextualização devem ser a nova marca para a educação brasileira.

Nesse item, será descrito qual é o papel do conhecimento, do aluno e do professor, bem como os demais segmentos que compõem a comunidade escolar. As relações entre professor e aluno na escola são orientadas pela pedagogia, que tem como foco de trabalho a educação.

É hora de explicitar a sua contextualização de conhecimento. Os pressupostos citados anteriormente identificarão a instituição. Aqui ela vai esclarecer o que oferecerá em termos de:

Conteúdos
Currículo
Metodologia
Avaliação
Professor
Aluno
isciplina
Administração
Biblioteca
Laboratórios
Equipe pedagógica
Orientação vocacional
Orientação religiosa
Relação com a comunidade

Observação: esse item já pode ser elaborado junto com os professores, pois, daqui adiante, serão eles os autores do PPP, sob a liderança da direção e da coordenação. Em alguns assuntos, pode e deve haver a participação da comunidade.

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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS – Os fundamentos estabelecidos nesse documento serão os indicadores do rumo para a intervenção pedagógica praticada no estabelecimento escolar. Com eles, busca-se responder às exigências da sociedade, que se caracteriza pelo dinamismo de suas transformações em todos os níveis: o social, o político, o tecnológico e o ético.

Criar as melhores condições para ajudar na transformação de um cidadão consciente, crítico e feliz é a grande tarefa educativa que perseguimos. Os princípios estão postos. A ação educativa espera o engajamento de todos que fazem parte do ambiente educacional.

8. PROJETOS SETORIAIS – Os projetos específicos, também denominados de projetos setoriais , são os projetos de cada setor da escola: Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio, Informática, Educação Física. Nesses projetos, devem constar os seguintes itens:

1. Identificação do setor.
2. Introdução: caracterizar o setor quanto às crianças que ali estão, quanto ao seu objetivo.
3. Diagnóstico: como estão a realidade do setor, as dificuldades, os problemas específicos.
4. Objetivos: com base no diagnóstico concluído, o que se pode fazer para melhorar o setor.
5. Metodologia: como vai se trabalhar naquele setor.
6. Conteúdos: que atitudes, conteúdos e procedimentos serão desenvolvidos naquele setor — conteúdos formativos, cidadania, disciplina. Lembre: ainda não entramos em sala de aula, estamos preparando a escola.
7. Avaliação do setor (como será feita a avaliação). Exemplo: nesse setor, avaliaremos os alunos que melhoraram seu rendimento ou que não alcançaram os objetivos propostos. Em que o setor melhorou em comparação com os outros anos?

8.1 Projeto de disciplina – Refere-se a cada uma das disciplinas curriculares. Se os temas transversais forem trabalhados por projetos, deve-se dizer como serão trabalhados, quais as disciplinas que trabalharão interdisciplinarmente, quais serão os temas que o colégio trabalhará no ano. Esse item compõe-se das seguintes questões:

Diagnóstico: como está o ensino desta disciplina? Será necessário repensá-lo?
Objetivo: o que se pretende atingir com o ensino desta disciplina?
Metodologia: como será ministrada?
Conteúdo: qual será o enfoque dado? A que competências dá suporte? Atenção: não se devem relacionar aqui os conteúdos curriculares.
Especificidades: por exemplo, será permitido o uso de máquina de calcular no ensino de matemática? A partir de que série? Como a escola vai trabalhar com jornais?
Avaliação: como ela será feita na disciplina em foco? O que se pretende cobrar dos alunos?

8.2 Miniprojeto

Identificação: os passeios que a escola faz.
Objetivos: o que se quer desenvolver com essas saídas.
Responsabilidade: quem vai ser o responsável?
Material de suporte: relacionar os materiais que serão necessários para sua realização.
Execução: fazer a descrição de como deverá acontecer.
Avaliação: verificar a extensão do miniprojeto.

9. ANEXO – Plano curricular – O plano curricular será anexo do projeto político-pedagógico e será feito como sempre foi. Agora, sim, se está entrando em sala de aula. Cada professor deverá fazer uma lista de conteúdos que vai trabalhar em sala. Sempre dará ênfase ao que vai ser trabalhado. Como será trabalhado ficará para o planejamento. É aconselhável que isso seja feito só depois que o professor conhecer seus alunos. “O planejamento é que deve adaptar-se aos alunos, e não os alunos ao planejamento.”

Nessa fase, já contamos com a orientação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e dos Referenciais de Educação Infantil (REI). Os PCNs e os Parâmetros Curriculares Nacionais Transversais (PCNTs) não são obrigatórios. Servem apenas para ajudar o professor a preparar seu conteúdo. A novidade no Plano Curricular é que não se pode ferir a Lei Educacional, portanto, os professores terão de elaborar os temas transversais em conjunto. A lei vigente pede interdisciplinaridade e contextualização dos conteúdos trabalhados desde o primeiro ciclo.

A Estética da Sensibilidade, a Política da Igualdade e a Ética da Identidade devem ser trabalhadas desde a Educação Infantil.

Quando se trata de Ensino Médio, o plano curricular deve ser feito por blocos. Planejar em conjunto será necessário.

Deve-se explicar também como será feito o sistema de avaliação. A avaliação deve ser contínua, e a qualidade deve prevalecer sobre a quantidade, sem esquecer que a recuperação é paralela ao período letivo.

Conselho de classe e exame final também devem ser explicados. Atenção: o ano letivo será de, no mínimo, 200 dias letivos e 800 horas. O exame final não estará dentro dos 200 dias. Se a escola adotar o exame final, deve aplicá-lo após os 200 dias.

O plano curricular deve ser feito como sempre foi: anexar a grade curricular, o calendário escolar, etc. Enfim, tudo como de costume.

Observação : tudo o que for trabalhado na escola durante o ano letivo deverá estar no Regimento. Por exemplo, se a escola adotar a progressão parcial, deverá constar no Regimento. Se a escola adotar classificação e reclassificação, terá de constar no Regimento. Nada que não esteja previsto no Regimento poderá acontecer.

Para finalizar, antes de fazer sua Proposta Político-pedagógica e seu Plano Curricular, consulte a Lei nº 93.94/96 e as normatizações do Conselho Estadual de Educação de seu Estado.

 

Marly Maria Weber – Professora e pedagoga, formada pela Universidade de Brasília – UnB. É pós-graduada pelo Ceub (Brasília) e mestre pela Universidade de Extremadura (Espanha). Dedica-se à área educacional formal e informal. Ministra cursos e palestras para educadores e gestores escolares.

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