Edição 75

Como mãe, como educadora, como cidadã

Temos que oferecer o melhor

Zeneide Silva

oferecendo

Fotos: Acervo pessoal

Estava voltando de Caruaru/PE, depois de visitar algumas escolas onde estive compartilhando ideias para o planejamento anual. Nesse momento, eu era a mestra.

No caminho, tive a alegria de conhecer Pedro, um garoto de 10 anos, um mestre. Agora eu era a aprendiz e refleti sobre o pensamento de Guimarães Rosa: “Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende”.

Tudo começou quando Cau, meu marido, parou em frente a uma barraca na BR–232, no município de Bezerros, para comprar bolachas. Foi quando Pedro começou a oferecê-las, dizendo que eram deliciosas e o quilo custava R$ 10,00, e nos apresentou os sabores: alho, cebola, charque, churrasco, queijo e até mesmo uma “para não perder a paciência!”. Cau foi logo dizendo que queria dois sabores, 1 kg de cada.

Pedro voltou para a barraca, subiu no banquinho e começou a abrir os sacos com certa dificuldade. Nesse momento, eu ainda estava dentro do carro, observando, e lembrei-me da minha infância com papai na bodega, vendendo farinha, feijão, açúcar… Vivi isso com muita intensidade durante 30 anos.

Resolvi descer e pedi a Pedro para ajudá-lo. Ele permitiu, e ficamos conversando enquanto enchia os sacos. Perguntei pelos seus pais, irmãos, pelos estudos e se era feliz. A cada resposta, um conhecimento, um aprendizado.

Mas o aprendizado maior foi quando fui pesar o primeiro pacote e deu 960 g. Tirei-o da balança e comecei a fechá-lo. Pedro pegou o saco e disse:

— Espere, vamos colocar mais um pouco — deixando-o com 1.100 g. Sorri para ele. O mesmo aconteceu com o segundo pacote, mas dessa vez eu disse que não precisava completar, e Pedro respondeu de maneira segura e precisa:

— Dona, temos que oferecer o melhor! — novamente sorri.

Agradeci, me despedi e voltei para o Recife refletindo sobre a atitude de Pedro, um grande mestre. “Temos que oferecer o melhor.” Comecei nesse momento a listar algumas atitudes em que, quando oferecemos um pouco mais, certamente, fazemos uma grande diferença em nossa vida de mãe, de educadora e de cidadã.

Oferecemos o melhor quando:

• Paramos para escutar nossos filhos, nosso marido, nossos pais, alunos e colegas de trabalho.

• Aceitamos nossos filhos e alunos como eles são.

• Ao chegar na porta de nossa escola, batemos os pés no capacho e deixamos as preocupações que trouxemos de casa para trás e, quando chegamos em casa, batemos também os pés no capacho e deixamos as preocupações da rua, da escola, do lado de fora.

• Organizamos e cumprimos todas as metas estabelecidas no início do ano.

• Nos preocupamos com nossa vida espiritual.

• Pensamos que nossa passagem aqui na Terra é por pouco tempo e que devemos fazer o melhor, já que aqui é a preparação para o céu.

• Entendemos que o futuro não se adivinha, mas se constrói.

• Entendemos que, provavelmente, só há um erro na vida: não acreditar naquilo que fazemos.

• Compreendemos que não devemos nos alterar diante dos problemas. Não importa a magnitude da tempestade, sempre haverá um arco-íris nos esperando no final do aguaceiro.

Enfim, quando lembramos que estamos no mesmo barco e que é necessário cuidar dos movimentos que você realiza para não machucar ninguém.

Um grande beijo.

cubos