Edição 59

Ambiente-se

Um novo modelo: a disciplina positiva ou construtiva

Annie Rehbein de Acevedo

Atualmente, os métodos mais adequados de disciplina denominam-se disciplina positiva, proposta por Jane Nelsen, psicóloga norte-americana, ou disciplina construtiva, implementada por Dorothy Briggs, conceituada psicóloga e educadora.

Trata-se de respostas-modelo às consequências negativas transmitidas pelo autoritarismo de gerações passadas. Também conhecidas como disciplina com amor, consistem em aplicar a autoridade não de forma violenta, mas, sim, com carinho, amor e respeito.

Respeitar

Nesse tipo de disciplina, um dos principais objetivos é a necessidade do respeito aos filhos; e isso não significa “não abusar”, e sim tratar bem.

Às vezes, de modo inconsciente, os pais disciplinam seus filhos como se fossem seres aos quais somente é preciso dar ordens, sem nenhuma explicação nem respeito. Apenas lhes dizem: “Penteie-se”, “Você não escovou os dentes”, “Não fale com a boca cheia” ou “Arrume já essa bagunça”.

Pense nisto

É fundamental tratar os filhos com o mesmo respeito dedicado aos amigos.

Nenhum amigo toleraria ser maltratado; então, por que nossos filhos são obrigados a aguentar? É possível que os pais os eduquem sendo, ao mesmo tempo, amáveis e firmes. Vale ressaltar que esses dois aspectos não são incompatíveis.

Ao tentar ser amável com seus filhos, você verá que, gradativamente, eles também vão retribuir esse sentimento. Entender e aplicar isso talvez lhe permita desfrutar mais a criança.

Demonstrar amor

Outro ponto-chave consiste em expressar o amor que sentimos. Se lhe perguntarem sobre o amor que nutre por seus filhos, certamente você responderá que esse sentimento é enorme. Entretanto, seu filho sabe disso?

O amor é expresso por meio dos comportamentos e dos atos cotidianos e também de modo verbal e físico. Com frequência, é fundamental rever se essa mensagem chega aos filhos. Em algumas ocasiões, fazemos e dizemos coisas que não contêm uma mensagem de carinho nem de confiança para com eles, embora acreditemos que sim.

Pense que até mesmo uma repreensão pode ser realizada de forma carinhosa: “Digo e faço isso porque gosto de você”. Quando é feita de modo negativo, os filhos consideram a censura como um ato de perseguição do tipo: “Minha mãe me reprova”, “Meu pai não se importa comigo”, “Nada do que faço lhes agrada”, “Não estão contentes comigo” ou “Ninguém me quer”.

Nas relações familiares, é importante que os filhos não recebam mensagens que desencadeiem esse tipo de sentimento. A melhor forma de educar é com a utilização de disciplina protetora, que deixa entrever o carinho que os pais sentem por eles: “Pelo motivo de ainda não estarem preparados para fazerem tudo sozinhos, vocês não podem ou não devem fazê-lo”, “Vão se sentir melhor se brincarem um pouco, até que a raiva passe”.

Como estabelecer regras e limites

Embora o estabelecimento de certas normas seja fundamental, é aconselhável que não haja nem muitas regras nem limites, porque assim são diminuídas as possibilidades de serem infringidos.

Para que haja boa convivência, é preciso escolher três ou quatro normas básicas que sejam bem estruturadas. Nessa categoria, estão incluídas as regras sobre higiene, alimentação, respeito aos outros e permissões.

Se uma família possui algumas regras diferentes, que incluem não tocar nos enfeites, sentar-se sempre à mesa na hora das refeições, fazer as lições ao chegar da escola, não vestir as roupas dos irmãos sem a autorização deles, entre outras, a possibilidade de a criança se confundir e desrespeitar algumas ou muitas delas é muito maior. Além disso, o resultado é que ela se sente repreendida e com sentimentos de inferioridade.

Se, ao contrário, existirem menos regras, é mais fácil que a criança as cumpra. Além disso, por analogia, ela mesma pode deduzir muitas pistas de comportamento em circunstâncias semelhantes.

Agora, quanto menor for a criança, mais se torna necessário mostrar-lhe o que pode ou não fazer. Por exemplo, se uma criança de 18 meses tenta bater na mãe, é necessário pegá-la pela mão e dizer-lhe que isso não é correto, com firmeza e clareza. Se tentar mais vezes, é aconselhável deixar bem claro a ela: “Você não pode agir assim”.

Para crescer de forma saudável, todo ser humano precisa de limites e de uma boa estrutura. Como pais, nós somos os indicados para estabelecer essas normas. Há coisas que são expressamente proibidas (como, por exemplo, roubar, maltratar, enganar, etc.), e existem valores que devem ser especialmente reforçados com toda a ênfase desde a primeira infância, pois são inegociáveis.

É muito importante levar isso em consideração, pois, hoje em dia, muitos pais, por medo de traumatizar os filhos, tornam-se excessivamente permissivos, e isso transforma as crianças em pequenos “tiranos” sem limites. Essas crianças, por fim, podem causar muitos problemas futuros.

Além das regras e dos limites, também é aconselhável que se estabeleçam horários e rotinas, não só porque isso educa, mas principalmente porque tranquiliza. Dessa maneira, os membros da família sabem o que esperar, sem incertezas.

Vale lembrar que, em certa etapa de seu desenvolvimento, todas as crianças do mundo se revoltam contra os horários estipulados (o momento de dormir, das refeições, para tomar banho, estudar, etc.). Nesses casos, é fundamental que os pais sejam firmes, para fazer com que os filhos cumpram essas obrigações.
Dicas

Proponha à criança opções limitadas. Por exemplo, pode-
-se perguntar a ela: “Que pijama você quer vestir, o azul ou o verde?”. Evite questionamentos como: “A que horas você quer se deitar?”, pois essa é uma opção muito abrangente, em que se perde o controle. Evite dar ordens como: “Vá dormir já!”. Em vez disso, ofereça-lhe opções do tipo: “O que você prefere fazer primeiro, vestir o pijama e depois escovar os dentes ou o contrário?”. Isso vai proporcionar ao menor a sensação de que também participa das decisões de sua vida.

Sempre envolva seus filhos no planejamento das rotinas. Ouça as sugestões deles e a contribuição que têm a dar.

A democracia também é para a família: é fundamental que o poder do lar não esteja com uma única pessoa. A dica é aplicar algo da teoria democrática.

Tenha em mente

Entre alguns conceitos democráticos, pode-se citar: “Meu filho não é nenhuma projeção ou extensão de mim; não é minha propriedade, mas dele mesmo, como também seus sentimentos”.

Não vejamos nossos filhos como pessoas que podem ser manipuladas, mas, sim, como seres “independentes” e com direitos próprios.

É preciso compartilhar a autoridade, e isso envolve o respeito pelas necessidades dos membros da família. A participação democrática implica que os filhos comecem a intervir o quanto antes nas decisões relacionadas à própria vida.

Por último, evite fazer tudo pelas crianças. Assim que conseguirem dominar uma habilidade (como, por exemplo, vestir–se sozinhas), a dica é permitir que elas o façam. O mesmo ocorre com os problemas referentes aos filhos; nesse caso, é fundamental envolvê-los o quanto antes na busca da solução para os conflitos.

É importante que os pais não indiquem aos filhos como resolver as dificuldades, mas sirvam de guia e deixem que eles encontrem as possíveis soluções. Desse modo, os jovens se fortalecem e assumem o controle da própria vida.

Lembrete

A vida dos filhos pertence exclusivamente a eles. Eles são os pilotos, enquanto nós, os pais, exercemos o papel de copilotos.

Se, em algum momento, nos tornarmos autoritários e opressores, os filhos poderão nos fazer descer do avião, ou seja, vão nos tirar de suas vidas.

Annie Rehbein de Acevedo é psicóloga, conferencista e organizadora de programas de orientação familiar.

ACEVEDO; Annie Rehbein de. Disciplina Sim, Mas com Amor. 2. ed. São Paulo: Paulinas, 2007.

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