Edição 63

Entrevista

Uma conversa com a doutora Lucélia Elizabeth Paiva

Isabela Nóbrega

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Construir Notícias – A partir de que idade se deve falar de morte com as crianças?

Lucélia Paiva – Podemos falar de morte com as crianças desde sempre. Não devemos excluir o tema morte de nossa vida.

Podemos falar da morte não só com dor, nos momentos de perda, mas, sim, com naturalidade, pois ela faz parte do ciclo vital, faz parte do cotidiano.
Devemos educar nossas crianças acolhendo as “várias mortes” ao longo da vida (chamo de várias mortes as perdas que sofremos ao longo da vida, desde a infância). Não devemos menosprezá-las nem desvalorizá-las, pois elas ajudarão no enfrentamento
de perdas maiores e da morte propriamente dita.

Podemos falar da morte com amor, com humor, explicando o que acontece quando o ser vivo morre, como parte do ciclo da vida, falar através de metáforas…

CN – Como o adulto deve proceder e qual a melhor forma de dar, a uma criança, a notícia da perda (morte)?

LP – Deve-se ser direto, objetivo e claro, mas dar a notícia de forma acolhedora, com afeto; manter uma comunicação aberta com a criança, dando a oportunidade de ela perguntar, tirar suas dúvidas, falar a respeito sempre que quiser. No entanto, deve-
se sempre ter em mente que o principal é manter um clima de confiança e afeto e de segurança.

CN – Como você analisa o preparo do profissional de Educação na arte de falar da morte para as crianças?

LP – Primeiramente o profissional deverá assumir a morte como uma etapa natural do ciclo vital. Quando a morte começar a ser encarada dessa forma, provavelmente, o adulto começará a falar da morte com maior naturalidade e sua dificuldade em tratar do assunto com a criança diminuirá.

CN – Como aceitar que uma criança entenda a morte se o próprio adulto tem dificuldade de lidar e nega esse fato real?

LP – Pelos estudos feitos por Wilma Torres, de acordo com o desenvolvimento infantil, a criança começa a adquirir o conceito de morte nos seus atributos básicos entre 5 e 7 anos, mais ou menos.

Atributos básicos:

– Universalidade/inevitabilidade: entender que todo ser vivo vai morrer um dia, inclusive seu bichinho, sua mãe, seu pai e ela própria.
– Irreversibilidade: entender que, quando se morre, não se volta mais. Morreu, morreu. Não dá para morrer só um pouquinho.
– Não funcionalidade: entender que, quando se morre, o corpo não funciona mais: o coração para de bater, não respira mais, não sente mais nada — fome, frio, medo…

CN – Quando uma criança perde um animal de estimação, por exemplo, o adulto deve respeitar o processo de luto e deixar que ela sinta a dor da perda ou substituir o bichinho para que a criança não sofra?

LP – É importante que se vivencie a dor da perda. Não podemos desvalorizar tal dor, pois isso seria desvalorizar a relação que se teve com aquele que morreu. Por isso, não se deve substituir o animal de estimação de imediato. Somente depois de um tempo de luto, pode-se oferecer outro animal de estimação para a criança. Deve-se perceber que é natural sofrer quando se tem uma perda significativa.

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