Edição 07

Matérias Especiais

Uma questão de limites

Paula Perím / Coloboracão Regina Valente

Para driblar a resistência dos pais e conseguir o que desejam, as crianças testam vários tipos de comportamentos até descobrir qual deles funciona melhor.

Algumas recorrem à chantagem emocional.

Outros discutem, contestam, com o intuito de vencê-los pelo cansaço e há, ainda, as que fazem um dramalhão quando contrariadas, para intimidá-los ou comovê-los.

Tudo depende do temperamento de cãs uma.

Levar esse detalhe em consideração. Lembram os psicólogos, é o primeiro passo para conseguir líder melhor com os filhos. Confira.

Entrevistada: Silvana Rabello, psicóloga clínica, psicanalista
e professora da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).
Revista Crescer – Editora Globo – N. 78 – Ano V

Valorize o não

Na hora do confronto com os adultos, a imaginação dos pequenos não ter limites – o que , infelizmente, não acontece com a paciência dos pais. Para enfrentar essas situações é importante lembrar da necessidade de colocar regras e limitações com firmeza, sem se deixar intimidar. Dizer “não” aos filhos, em algumas situações, significa a iniciar uma verdadeira batalha, mas é preciso enfrentá-la quando for realmente necessário. “Fundamental nesse processo é valorizar o “não” e isso só se consegue quando se tem bons motivos para impô-lo. Caso contrário não se consegue sustentá-lo, e aí ele perde a força”, lembra Silvana Rabello.

O argumentador

É o tipo comunicativo, cheio de energia, que jamais aceita um “não” como resposta e quer saber, a todo custo, por que as coisas não podem acontecer como ela gostaria. Questiona insistentemente os pais com o objetivo de fazer com que eles desistam de impor o que querem e acabem concordando com ele. O que, aliás, não é difícil de acontecer, porque cansa os adultos ou acaba incutindo neles um sentimento de orgulho (“meu filho sabe o que quer”) quer os torna complacentes.
O sedutor

Esse não se intimida com palavras autoritárias ou repreensões. Tenta manipular os pais com olhares, brincadeiras ou sorrisinhos marotos para persuadí-los a esquecer da bronca. É esperto o suficiente para detectar exatamente o ponto fraco dos adultos e fazê-los se render aos seus encantos.

O que não funciona com ele:

Entrar no jogo da sedução. Apesar da tentação, evite cair na risada ou demonstrar irritação diante das gracinhas dele, porque isso lhe assegura que tem o poder de controlá-la emocionalmente, o que torna sua “técnica” eficaz.

O que funciona:

Ignora seus truques. Ser firme e demonstrar confiança naquilo que está dizendo. Explicar por que ele não pode fazer uma determinada coisa e não se intimidar com suas gracinhas.

O perfeccionista

Estabelece padrões muito rígidos para si mesmo e é muito crítico quando comete algum erro. Crianças desse tipo, quando repreendidas ou censurada, tendem a dizer “ninguém gosta de mim “ ou se culpa pelo que fizeram.

O que não funciona com ele:

Criticá-lo. Depois do “não”, evite frases do tipo “você já deveria saber disso” ou “estou triste com você”. O perfeccionista já tem um sentimento agudo de decepção consigo mesmo e não precisa de reforço nisso. Além de piorar sua auto-estima, a crítica não fará com que mude de atitude.

O que funciona:

Envolver a criança na solução do problema. Quando ela se recusa a aceitar um determinado limite, demonstre que confia na sua capacidade de resolver a questão. Assim se sentirá valorizada e você não correrá o risco de ser chantageada com frases mais apelativas do tipo “sou mesmo uma idiota e você me odeia”. Se isso acontecer, resista à tentação de dizer “isso não é verdade; nós te amamos”. A criança precisa entender que sua bronca não tem nada a ver com seus sentimentos em relação a ela. Se continuar insistindo em se culpar ou menosprezar, procure a orientação de um psicólogo.

O desligado

Ele vive no “mundo da lua”, inclusive quando é repreendido. Ignora completamente o que seus pais estão dizendo e continua envolvido em suas atividades, deixando claro que não se importa com a opinião deles.

O que não funciona com ele:

Pensar que suas orientações serão ouvidas apenas porque você as repete com freqüência. Se a criança não estiver com a “antena ligada” e, principalmente, interessada no que você tem a dizer, não vai conseguir absorver a mensagem. Insistir em “brigar sozinha” diante do desprezo absoluto dela irá apenas deixar você cada vez mais nervosa.

O que funciona:

Olha bem dentro dos olhos da criança e pedir que ela a escute. Se for preciso, você deve intervir de maneira mais objetiva: pegue-a no colo e retire-a do local onde não deveria estar, ou coloque-a na cama se chegou à hora de dormir, sem discutir ou permitir qualquer tipo de argumentação. Se ela continuar ignorando totalmente, e com freqüência, suas investidas em discipliná-la, convém buscar a ajuda de um psicólogo.

O Dramático

É criança que dá a impressão de sofrer intensamente com as repreensões ou limitações. Cai em prantos, joga-se no chão, arma a maior cena quando chega a hora de dormir. O objetivo é intimidar os pais que, por pena ou constrangimento, acabam por desistir de enfrentar o escândalo se sucumbem aos seus desejos.

O que não funciona com ele:

Fazer escândalo. Claro que é muito difícil manter a calma diante de uma criança se debulhando em lágrimas, no auge de um ataque de histérico. Mas se você se descontrolar e demonstrar sua irritação com a mesma intensidade que ela, estará lhe ensinando que essa é, de fato, a forma correta de se comportar em situações de conflito.

O que funciona:

Falar baixo, de maneira objetiva, e com muita convicção. Muitas vezes é difícil manter a serenidade diante das cenas que a criança apronta. Se perceber que vai perder o controle, conte até dez, respire fundo e aceite, no máximo, negociar com ela. Por exemplo: “Agora você não pode comer chocolate porque está na hora do almoço. Se quiser, podemos deixá-lo para a sobremesa”. Algumas vezes a criança precisa de um tempo para se acalmar e perceber que seu escândalo não está surtindo efeito.

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