Edição 60

É dia...

Voz de um menino de rua

Justina Inês Miotto Roman

Ah! Quem me dera
ter a minha mãe comigo,
ter um lar, ter um abrigo
onde eu pudesse morar.
Poder sentir a alegria
que, imagino todo dia,
existe dentro de um lar.

Amo assim mesmo minha mãe,
embora não a conheça.
Creio que mais eu mereça.
Espero da Mãe dos Céus.
Dormindo na rua, eu sinto,
isto eu lhes digo, não minto,
a proteção dos seus véus.

No irmão que me olha, vejo
o que de mim imagina.
Sinto que me discrimina.
Virando para o meu lado,
com um olhar de desprezo,
diz ao amigo, surpreso:
“Vê, mais um pobre coitado”.

Não aceito essa expressão.
Sou também um ser humano
e, no perímetro urbano,
vejo muitas experiências
que, durante a minha vida,
jamais serão esquecidas,
mas são base para a existência.

Me erguerei, com certeza.
Basta que haja, em meus passos,
alguém que, estendendo um braço,
dê força para minha firmeza.
Assim poderei expor
minha capacidade e valor,
pois sou da mesma natureza.
Revista Família Cristã. Ano 72, nº 851.
Novembro de 2006.

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