Edição 11

Professor Construir

A boa idade de plantar idéias e colher realizações

O projeto Viva o Mangue confirma que a sapiência da boa idade somada à consciência comunitária e voluntária na preservação do meio ambiente, favorece parceria de plena sintonia. Não é simplesmente uma história, nem apenas teoria, registra fatos e dados da idéia do militante ambientalista Genaro Pinheiro, 81 anos, que, pautado na máxima de Geraldo Vandré “esperar não é fazer / quem sabe faz a hora não espera acontecer”, realizou um exercício de cidadania.

Na qualidade de voluntário, Genaro Pinheiro apresentou, em dezembro de 2002 à Prefeitura do Recife, o projeto Viva o Mangue, justificado pela vegetação de mangue representar um significativo referencial ambiental da cidade nos aspectos paisagísticos (possibilita a integração do mangue com a arborização urbana através de bosques ciliares urbanos), ecológicos (favorece o desenvolvimento da fauna aquática e promove a estabilização climática) e sócio-econômicos (potencializa o aumento da produtividade estuarina, cujos crustáceos, moluscos e peixes asseguram a subsistência de comunidades ribeirinhas).

O projeto visa a recuperação de áreas degradadas de manguezais através do reflorestamento de áreas estuarinas urbanas, por meio de uma nova técnica desenvolvida denominada: Plantio Direto do Propágulo Tutorado da espécie Rhizophora Mangle Vermelho, que elimina operações intermediárias, diminuindo significativamente as perdas ocorridas nos métodos convencionais de produção de mudas, pois elimina algumas etapas do reflorestamento de manguezais que inviabilizam o plantio em larga escala.

O método foi concebido através de um trabalho de pesquisa composto de atividades de campo, que consistiram na coleta de propágulos, e de atividades experimentais de enviveiramento de mudas sob várias condições. Consiste em ligar o propágulo, que é a “semente” da Rhizophora Mangle, a uma estaca de capim elefante com cerca de 40cm de comprimento e de diâmetro aproximado ao diâmetro médio do próprio propágulo. A estaca enterrada na lama fixa o propágulo, dando-lhe condições de emitir raízes. Ao fixar o propágulo com o apoio do tutor evita-se o risco da água arrastá-lo, assegurando, desta forma, o enraizamento e germinação.

Os propágulos são coletados nas regiões de mangue que ainda restam por catadores de moluscos e caranguejos, reduzindo, desta forma, os custos de implantação do projeto e ainda fomentando a atividade econômica desenvolvida por estes trabalhadores, complementando sua renda familiar.

Com o apoio da prefeitura através da Coordenadoria do Voluntariado, o projeto foi desenvolvido inicialmente com o plantio de 1.200 propágulos tutorados, sob a coordenação do Sr. Genaro. Pôde ser verificado, por amostragem após 20 dias do plantio, o aproveitamento de 100% de propágulos enraizados. A partir desta constatação, foi realizado o plantio em larga escala dos 10.800 propágulos restantes previstos no projeto para a cidade. Por sua eficácia, o projeto está sendo implantado em outras cidades, como a de Igarassu (PE).

O projeto ganhou Menção Honrosa em participação na Semana do Meio Ambiente e está entre os três finalistas do concurso da revista Superinteressante no prêmio “Superecologia 2003” na categoria flora.

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