Edição 47

Lá Vem a História

A pequena tigela de arroz Generosidade traz satisfação

Dharmachani Naganaja

historia

Relaxe, aquiete-se e ouça atentamente este conto sobre um homem pão-duro que vivia numa enorme mansão, no topo de um morro solitário. Um dia, aconteceu uma coisa que mudaria sua vida para sempre. Quer saber o que foi? Vamos ver se você descobre!

A casa do avarento era muito antiga e espaçosa, exposta a ventanias. Ele morava lá sozinho, apenas com alguns serviçais e um cachorro, a quem ele nunca se deu o trabalho de dar um nome. Dormia e comia em uma das torres da mansão e passava o dia a contar e a recontar seu ouro. O homem amava esse metal reluzente. Nunca havia dividido ou gastado um centavo que fosse da fortuna, por isso ficou conhecido como o homem mais mesquinho do mundo. Jamais convidou alguém para ir visitá-lo e não sabia o que era dar um presente. Ele saía de casa apenas uma vez ao ano, pois tinha medo de gastar seu dinheiro. Nesse único dia em que deixava a mansão, viajava em sua grande carruagem, acompanhado do cachorro e de um servente, para recolher impostos dos pobres camponeses que cultivavam as terras dele.

Certo ano, ao anoitecer, ele voltava para casa após um próspero dia de coleta de impostos, abraçado a um grande saco de ouro.

Mas a carruagem foi subitamente parada por assaltantes.

— Socorro!, gritou. Foi inútil. Os ladrões tiraram sua roupa!, vestiram-no com trapos velhos e o largaram, junto com o cachorro, em um local bem afastado, sem comida nem água.

O sovina estava muito abalado com o incidente e gritou com seu cachorro (a quem ele nunca havia dado um nome) por não ter atacado os assaltantes. Escurecia, e os dois estavam completamente perdidos. Desesperado, o homem rastejou para debaixo de um arbusto, onde chorou até cair no sono, pensando em seu ouro roubado. O cachorro deitou-se por perto, encolhido.

No dia seguinte, ele acordou faminto, sentindo frio e dores no corpo. Com o cachorro, foi procurar um povoado; andaram um bocado até chegar à beira de uma estrada, mas não viram ninguém. Depois de caminhar o dia todo sem comer, o sovina estava morto de fome e sentia pena de si mesmo. Então, de repente, seu cachorro latiu e saiu correndo.

Seguindo o cão, ele foi dar num pequeno chalé cercado de roseiras. Uma fumaça branca saía da chaminé. O avarento tomou coragem e bateu à porta — mas logo em seguida hesitou, ao lembrar, constrangido, que sempre mandava embora qualquer um que batesse em sua própria porta.

Por que alguém ajudaria um homem todo esfarrapado como ele? Estava para ir embora quando uma voz alegre perguntou:
— Quem está aí?

Aliviado, o avarento respondeu humildemente: — Desculpe incomodar, mas estou perdido e faminto. Você poderia dar um pouco de comida para mim e meu cachorro? E haveria alguma chance de dormirmos em um lugar quentinho? — perguntou ele.

— Claro — respondeu a voz. — Entrem. O homem e o cão entraram na casinha. Ali não havia muita coisa: apenas alguns móveis velhos e uma janela sem cortina. Mas a lareira estava acesa. O dono do chalé, um homem de aparência gentil, estava sentado à mesa com seu cão, que balançava o rabo. Ele levantou-se e sorriu amavelmente:

— É uma pobre alma perdida, Arquibaldo — disse ao cachorro. — Ele lhe trouxe um amigo! Venha, sente-se — virou-se para o sovina —, bem-vindo à festa. Hoje temos um banquete de arroz delicioso — brincou o homem, e foi até a prateleira pegar duas pequenas tigelas.

— Teremos que dividir este arroz, pois é tudo o que tenho, infelizmente. E seu cão pode dividir com o Baldinho — disse, colocando um pouco de arroz na tigela do animal e depois dividindo o restante entre os dois.

O avarento não podia acreditar na generosidade daquele homem. Como alguém podia ser tão pobre e tão feliz? Pensou em seu ouro, em seus serviçais, na sua mansão. Com todos aqueles bens, nunca tinha sido tão feliz quanto aquele homem que possuía tão pouco. Sentiu-se cheio de culpa e vergonha por seu comportamento em todos os anos passados.

Logo sua fome o fez voltar ao presente, e ele voltou-se para o arroz, devorando-o. Nunca algo lhe pareceu tão saboroso! Sentindo-se acolhido pela bondade do homem, o pão-duro confidenciou-lhe a história do roubo, enquanto o outro ouvia atentamente.

— Fico triste ao ouvir sua história. Apesar de possuir tantas coisas, sua vida é solitária e vazia — disse ele.

Então, apontou o lugar onde o avarento dormiria — bem em frente ao fogo —, deu-lhe boa-noite e deitou-se no chão para uma boa noite de sono.

O sovina ficou tão comovido e agradecido pelas gentilezas que, deitado em frente ao fogo e pensando no que tinha acontecido, emocionou-se e chorou. As lágrimas rolaram pelo seu rosto, enquanto pensava na vida terrível que levava. Estendeu os braços até seu cão e afagou-o pela primeira vez. Estava decidido a retribuir a bondade do anfitrião com uma grande surpresa.

Na manhã seguinte, ao acordar, ele convidou o homem pobre e seu cachorro para morarem na mansão — oferta imediatamente aceita. Sem demora, partiram todos para a grande casa no alto do morro.

Desse dia em diante, o sovina mudou suas maneiras. Ele e o homem do chalé tornaram-se grandes amigos e viviam felizes juntos com Arquibaldo e Risonho — como chamava agora seu cão, que ficou alegre por ter a atenção do dono. Nunca mais uma pessoa saiu de mãos vazias depois de passar pela mansão. E, em vez de coletar impostos, o homem — que já não era mais chamado unha de fome e mão de vaca — passou a usar seu ouro para melhorar a vida da população local. Além disso, duas vezes por ano, ele promovia maravilhosos banquetes para seus vizinhos e festas tão divertidas para as crianças que o ex-sovina passou a ser o homem mais querido daquelas terras.

Ganância e avareza trazem coisas ruins para todos. Uma pessoa sábia tem consciência de que o caminho para a verdadeira felicidade é dividir o que se tem, não importa que isso seja muito ou pouco.

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