Edição 130

Como mãe, como educadora, como cidadã

A vaca no estacionamento Uma parábola Zen contemporânea

Zeneide Silva

Usar a raiva para resolver um problema é como jogar um carvão em brasa na outra pessoa.
Provérbio tibetano

Resolvi observar com mais atenção as pessoas com quem convivo e outras que encontro por este mundo afora. Vejo, com muita frequência, a impaciência das pessoas, que, em minutos, transforma-se em raiva. Hoje, vivemos em uma sociedade marcada pela violência no trânsito e nas escolas e pelos abusos domésticos, nos ambientes de trabalho e nas mídias sociais. Profissionais raivosos e adolescentes que se metem em brigas coletivas. Vivemos o medo diário de supervândalos dispostos a matar para extravasar sua ira.

O livro A vaca no estacionamento: um guia para superar a raiva e controlar melhor as emoções, baseado em princípios da filosofia Zen, oferece uma abordagem refrescante e eficaz para quem precisa enfrentar as frustrações cotidianas e conduzir melhor os momentos em que o sangue sobe à cabeça; no vocabulário popular, o pavio curto. A questão é: o que é a raiva, de onde ela vem e por que é tão difícil administrá-la?

Resolvi, então, retirar alguns trechos do livro para meditarmos um pouco sobre o tema raiva, uma emoção normal dos seres humanos, mas que precisa ser controlada.

Você está na inauguração de um shopping center no outro lado da cidade. Há dez minutos, você está dando voltas no estacionamento, procurando uma vaga. Finalmente, bem na sua frente, um carro embica para sair. Você liga a seta e aguarda enquanto o carro sai de ré. De repente, da outra direção, vem um jipe e entra na sua vaga. Para piorar, quando você buzina, o motorista sai do carro, faz uma cara feia e, com um gesto obsceno, manda você para aquele lugar. Você fica zangado? Agora, faça uma pequena alteração nesse cenário. Em vez de um motorista de jipe mal-educado, uma vaca chega da outra direção e se acomoda bem no meio da vaga. Quando você buzina, ela olha para cima e solta um mugido, mas não sai do lugar. Você fica zangado?

 

Vamos refletir sobre a raiva de acordo com a obra.

• A raiva é uma emoção destrutiva.
• A primeira pessoa a ser prejudicada pela raiva que você sente é você mesmo.
• Quando você age guiado pela raiva, é improvável que aja de forma racional.
• Você é capaz de reduzir a quantidade de raiva na sua vida se escolher fazê-lo.
• À medida que você reduzir a quantidade de raiva, ficará mais feliz e mais eficiente.
• A destruição que a raiva causa no nosso mundo é quase óbvia demais para demandar um debate. A ideia de que a vingança é o remédio ideal para a raiva alimenta a destruição há gerações.
• Quando agimos exclusivamente motivados pela raiva, desprezando as consequências, não estamos buscando a melhor solução, mas aquela que dá vazão ao nosso desconforto. E o resultado pode piorar a situação em vez de melhorá-la. Algumas disciplinas, especialmente as artes marciais, ensinam que, quando você age com raiva, está mais propenso a perder.
• A raiva é tóxica para o nosso corpo e para a nossa saúde. Uma recente retrospectiva de mais de quarenta estudos científicos confirmou a forte associação de raiva e hostilidade com o desenvolvimento de doenças cardíacas em pessoas saudáveis, bem como um prognóstico ruim para aqueles que já sofrem desse mal. Quando alguém com fatores de risco para doenças cardiovasculares, como hipertensão, vai ao médico, prescrevem-lhe um remédio que, por sua vez, costuma ter o efeito de mascarar a raiva, que é parcialmente responsável pelo problema, tornando-o ainda mais difícil de administrar.
• É mais do que evidente que agir sob efeito da raiva costuma resultar em atos irracionais e contrários aos nossos interesses.
• A boa notícia sobre reduzir ou abdicar da raiva é que, desde o primeiro minuto em que você escolhe não a sentir ou não a extravasar, você se sente melhor. Depois que tiver experimentado essa diferença, você não vai mais querer voltar ao velho hábito.
• Algumas pessoas argumentam que a raiva é necessária e tem lá seus propósitos. É verdade. A raiva que sentimos pode ser uma indicação de que há algo errado com a forma como estamos nos relacionando com os outros e com o nosso meio. Ela também pode nos impelir a reagir a algo que nos parece moralmente errado.
• Você não precisa aceitar nenhuma dessas premissas como verdade, basta que esteja aberto e disposto a experimentar.

Agora, pergunto: como você lida com a raiva?
1. Quais são as situações que despertam raiva em você? Por quê?
2. Você consegue perceber seus pensamentos quando sente raiva?
3. Pense na última vez que você sentiu raiva. Em uma escala de 0 a 10, como você percebe essa emoção em relação à intensidade? O que poderia ter sido feito para que essa nota diminuísse?
4. É possível controlar a raiva? Você já conseguiu isso alguma vez? Já falou sobre essa experiência com alguém?
5. A raiva é uma emoção inata do ser humano ou pode ser aprendida? E quanto à sua raiva, ela é inata ou aprendida?
6. A raiva pode ser considerada adequada e útil em algumas situações? Quais? Por quê?
7. Quando você sente raiva, consegue se perceber enraivecido? Consegue mudar o estado emocional ou fica alimentando a sua raiva?
8. Quando seu aluno sente raiva, como você lida com essa emoção?
9. Qual sentimento domina você após um momento de raiva?
10. Você sente raiva ao se perceber desvalorizado, desrespeitado e/ou humilhado?

 

Desejo que este artigo seja importante para você e que ele possa servir de reflexão com o objetivo de ajudar seus alunos.

Desejo uma boa leitura.

cubos