Edição 06
Espaço pedagógico
Ciências
Adequação dos conteúdos
A seleção dos conteúdos muitas vezes é feita reforçando essa posição secundária do currículo de Ciências, apresentando conteúdos que servem apenas de “ornamento curricular”. Devem-se evitar listas de nomes a serem memorizados, classificações antropocêntricas e estereotipadas. É essencial que o conteúdo desenvolvido seja pertinente, socialmente relevante e acessível aos alunos da faixa etária a que se destina. Professor e aluno devem encontrar conteúdos que permitam uma exploração inteligente da ciência e dos fenômenos aos quais ela se dedica, encarando-se a criança como aprendiz inteligente, capaz de entender e criticar o conhecimento científico, dentro das características próprias da idade.
Atividades propostas
O texto didático sugere, explica ou implicitamente, atividades e posturas a serem incentivadas nos alunos. A passividade do aluno, estimulada mediante cópias, exercícios que se limitam a localizar no texto trechos a serem transcritos, memorização de enunciados, experiências mal formuladas, que não atingem seus objetivos, ou mesmo meras demonstrações, cujos resultados são conhecidos antecipadamente dever ser evitada. Por outro lado, atividades instigantes, problemas realistas, proposição de projetos de investigação, atividades em grupo, entrevistas, dramatizações, debates e exposição de trabalhos incentivam a troca de idéias, a tolerância e a valorização dos saberes do alunado.
É Preciso que o livro didático seja concebido para o leitor a que se destina, que deverá compreendê-lo em sua totalidade, percebendo a ligação que deve existir entre suas partes. Não se pode partir do princípio de que os conteúdos precisam estar encadeados, como se um conceito levasse necessariamente a outro, ou dele decorresse forçosamente. É necessário, no entanto, que o aluno perceba a relação existente entre as várias partes de um fenômeno natural. Deve-se, portanto, incentivá-lo a analisar cada fenômeno à luz de diferentes ciências, considerando-o sob todos seus aspectos: físicos, químicos, biológicos, geológicos, etc.
Valorização da experiência de vida do aluno
É normal desprezar-se, como errado – absolutamente ou por definição – o conhecimento que o aluno traz para a sala de aula. Ou então, o que é ainda pior, considera-se que ele sofre de um completo vazio intelectual, que a escola deverá preencher. O saber popular não é analisado em seu contexto específico, mas descaracterizado e rotulado como crendice ou senso comum. Existe uma hierarquização marcante do conhecimento, como se o saber científico tivesse um valor intrínseco muito superior ao de outras formas do saber.
O texto didático deve incentivar a exposição de idéias dentro do universo cultural ao qual se aplicam, ainda que não estejam perfeitamente de acordo com o conhecimento científico sistematizado. É preciso respeitar a cultura do povo, seus valores éticos e religiosos, sem a pretensão de mostrar que o conhecimento científico tem respostas para todas as indagações, o que, aliás, não é verdade. O ponto de partida para o desenvolvimento dos saberes do aluno deve ser, na medida do possível, o conhecimento que o aluno já tem do mundo e dos fenômenos de que já tratou. Muitos desses fenômenos são frutos das elaborações originais de sua mente, outros foram introduzidos pelo convívio social. Em ambos os casos, eles devem ser a referência básica a partir da qual se procura caminhar progressivamente em direção ao saber científico sistematizado.
Referências bibliográficas, citações e sugestões de leituras
São freqüentes as acusações de plágio que fazem entre si as editoras e autores. Ilustrações redesenhadas, sem citação da fonte, informações enunciadas sem indicação da origem e ausência total de referências bibliográficas são bastante comuns nas publicações didáticas. O autor constrói em torno de si a imagem do detentor de um saber acima do normal, verdadeira fonte de inesgotável de conhecimento. Uma publicação didática deve expor de forma clara e honesta as fontes que foram utilizadas, citando a origem de informações que possam de alguma forma parecer insólitas ou mesmo inéditas. Seria preferível citar publicações em português, que fossem razoavelmente acessíveis ao professor. Da mesma forma, a autonomia do aluno seria incentivada com a sugestão de leituras complementares, que proporcionassem mais informações ou permitissem um aprofundamento dos estudos.