Edição 93
Matérias Especiais
Coaching serve para quê?
Eliana Dutra
Há duas principais linhas de pensamento em treinamento e desenvolvimento. Uma recomenda reforçar os pontos fortes enquanto a outra aponta como primeira necessidade corrigir os pontos fracos. Quem está certo?
Marcus Buckingham, em seu livro Descubra seus pontos fortes e, no anterior, First break all the rules, baseia-se nas pesquisas da Gallup para mostrar que, se você usar as ferramentas de desenvolvimento para corrigir pontos fracos, a empresa tem um retorno muitas vezes menor do que quando investe esforço e recursos para desenvolver talentos.
Nós todos instintivamente sabemos disso. Ninguém chega para um filho genial em matemática e diz: Filho, vá fazer faculdade de Letras, matemática é fácil para você!
No entanto, nas organizações a tendência muitas vezes é justamente essa, ou seja, avaliam-se as competências e o gestor fica “preso” na necessidade de corrigir o que está errado no funcionário. O que está por trás disso? Alguns fatores culturais. O bom, o valorizado em nossa sociedade, é tudo o que é difícil, heroico mesmo. Não é por outra razão que filmes como Duro de matar já está na décima edição. Além disso, outro fator cultural é o fato de que foi assim que fomos educados em casa, na família, na escola, no primeiro emprego.
Naturalmente, ninguém está dizendo que as falhas graves nas competências não precisam ser cuidadas. A questão principal é: onde colocar a maior carga de energia? Nos pontos fracos (ou oportunidades de desenvolvimento) ou nos talentos? No coaching, a discussão se assemelha, e, sem dúvida, podemos usar essa técnica tanto para lidar com conversas que requerem coragem quanto para alavancar potencial e cultivar talentos. E é exatamente isso que empresas no mundo todo estão fazendo.
Então é certo dar maior ênfase à descoberta dos talentos de cada um ou é melhor dar maior atenção à correção das falhas? A resposta é: depende! Sim, depende da cultura que você quer criar na empresa ou no setor. Se você precisa de obediência cega, fique na correção das falhas e dos erros. Se você precisa de gente motivada, que trabalha com autonomia, recomenda seu produto aos amigos, se você precisa de inovação (e quem não precisa?), concentre-se na descoberta dos talentos de cada um.
E saiba que a técnica de coaching foi criada a partir dessa premissa, como explico em meu livro Coaching – O que você precisa saber. “…Existem várias versões sobre a origem do coaching. A que, na minha opinião, é a mais coerente é a que W. Timothy Gallwey publicou em 1974, The inner game of tennis (O jogo interior do tênis). Nessa obra, o autor descreve como o jogador pode lidar com os obstáculos criados pelo seu próprio estado de espírito, o que o leva a render muito mais do que normalmente. Gallwey também aponta uma técnica para que o treinador do jogo de tênis, em vez de ensinar, ajude o esportista a destravar o seu potencial, suas energias, e, assim, jogue muito melhor.”
Destravar o potencial, enaltecer os pontos fortes, este é o maior trunfo do coaching. Busque usá-lo desta forma e verá que os resultados serão surpreendentes.
Eliana Dutra é CEO da Pro-Fit e primeira Master Coach Certified pela ICF da América do Sul.