Edição 66
Profissionalismo
Compromisso com a aprendizagem
Hamilton Werneck
A vertente tradicional — aprovar ou reprovar — incluía a noção de um profissional competente, entendendo-se por competência o conhecimento dos assuntos a serem ensinados e uma capacidade de fazer seleção entre os que aprenderam e não aprenderam. Quem aprendeu seguia para o paraíso da aprovação; e os reprovados, para o inferno da repetência.
Uma vertente que poderia não incluir um compromisso para que todos aprendessem. Sem esse compromisso, hoje, os investimentos em Educação podem se considerar em grande parte perdidos e sem retorno social.
A vertente atual — ensinar e aprender — inclui a noção de um profissional competente, entendendo-se como competência o conhecimento dos assuntos a serem ensinados, a capacidade de envolver os educandos no processo de aprender e o desenvolvimento de atitudes que correspondem aos aspectos afetivos da competência.
Esta última vertente, no entanto, trouxe em seu interior um grande engano. Pessoas sem compromisso começaram a entender que se tratava de “empurrar” os alunos para os anos ou ciclos seguintes, mesmo sem que tivessem aprendido alguma coisa. Ou seja: se não devemos reprovar, vamos aprovar automaticamente. Grande erro.
Na verdade, uma escola que envia alunos ao ano seguinte sem que eles saibam não é uma escola que pratica a ética; uma escola que, sem compromisso, reprova e pensa ter cumprido seu papel não tem competência.
Parece um beco sem saída. Porém, não é. O importante é que se coloque alguma coisa no lugar da reprovação. Alguns passos anteriores são importantes: mais tempo da criança nas escolas, porque elas só têm tempo para ouvir aulas; adequação dos conteúdos ao desenvolvimento psicológico da criança; formação continuada dos educadores; e melhores salários para os professores.
Partindo daí é possível planejar uma recuperação paralela, o acompanhamento de alunos dependentes em alguma disciplina procurando estabelecer um processo, e não deixando para tentar corrigir alguma coisa ao final do ano letivo.
O educador responsável e os gestores da Educação — se usarem monitorias, tempo dilatado nas escolas, cursos de férias e demais criações inteligentes — perceberão que existem alternativas mais baratas que a repetência e, muitas vezes, mais eficazes.
Portanto, fique bem claro que o compromisso com a aprendizagem exige um movimento contínuo de métodos e processos, pessoas e sistemas, buscando o maior benefício para o educando como retorno social do que a sociedade investiu.
O centro do problema, assim mostra a experiência, é que os educadores desestimulados com baixos salários, sentindo-se despreparados por falta de formação continuada e sem apoio pedagógico, não conseguem ver a urgente necessidade de mudança no modo de agir e, consequentemente, no modo de encarar os compromissos profissionais.
Hamilton Werneck é pedagogo, escritor e doutorando em Educação. Autor dos livros Professor Você Não É um Coitadinho!, A Hora da Reação Chegou, Professor: Agente da Transformação e Professor, Acredite em Si Mesmo, publicados pela Wak Editora.
Jornal da Educação. Edição nº 242 – Outubro/2010.