Edição 86

Mensagem Profética

Entre a dor e o silêncio

Iêda Rocha

imagem_27Entre a dor e o silêncio,
jazem gritos não ouvidos
de meninos e meninas
por “monstros” perseguidos,
podem ser os da família
ou mesmo desconhecidos.

Eles agem no silêncio,
de maneira camuflada,
ameaçam os pequenos,
que não podem fazer nada,
por medo da violência
e da cobrança exagerada.

Pois a criança é utilizada
numa relação desigual
de um poder que reprime
e uma proteção descomunal
que proporciona “prazer”,
a “satisfação” sexual.

Há homens e mulheres
que são os agressores.
Não protegem as crianças
nem aliviam suas dores.
E, também de adolescentes,
eles são os abusadores.

Achegam-se de mansinho
numa atitude afetuosa,
oferecendo segurança
da forma mais perigosa,
despertando a confiança
de maneira tortuosa.

Independentemente da classe
ou da posição social,
criança e adolescente:
não há um preferencial.
Conquista-se a amizade
para o fim intencional.

Quando a criança sente
o precipício profundo,
mergulha numa tristeza
que preenche o seu mundo,
rouba-lhe toda a alegria,
e o medo é pano de fundo.

Não gosta de estar sozinha
ou perto do adulto ficar.
Perde o sono e o apetite
e o prazer de estudar.
Chora sem uma razão
que se possa verificar.

Isolamento e depressão
são marcas também legítimas,
como a culpa e a vergonha
que recaem sobre as vítimas,
originando na autoestima
consequências altíssimas.

Porém, nós todos devemos
certa atenção dispensar
para entender o silêncio
na dor a se expressar
de tantos adolescentes
e crianças em todo lugar.

Ao conhecermos o fato,
nós devemos respeitar
e, na história da vítima,
sinceramente acreditar,
e não deixar o silêncio
sobre a injustiça reinar.

Seja o pai, a tia ou a mãe,
não podemos descuidar,
se for o tio mais querido
ou a secretária do lar,
e até mesmo o vovô,
sua punição vai ganhar.

Abuso sexual é um crime
que devemos combater,
adolescente e criança
não poderão mais viver
entre a dor e o silêncio
sem poder se defender.

Porém, nós devemos olhar
para todos os abusadores
de um modo acolhedor
e compreender suas dores,
pois, certamente, sofreram
na infância esses temores.

Geralmente quem abusa
um dia já foi abusado,
reproduz o mesmo trauma
que padeceu no passado.
Por isso, além de punido,
ele precisa ser tratado.

Mais que uma punição,
precisa é de cuidado.
Cada um deve ser visto
como um ser inacabado
e passível de mudanças
em qualquer ato errado.

Pois há um ser humano
além de todo o sofrimento,
o abusado ou o abusador
precisam de tratamento
e entender que a vida
não é só esse tormento.

Devemos acompanhar
e suas dores entender,
investindo no sentido
e humanização do ser,
de modo que a vida
assim possa renascer.

Iêda Rocha é graduanda em Letras pela Faculdade Frassinetti do Recife (Fafire), cordelista e pesquisadora de literatura de cordel.
Endereço eletrônico: iedajrocha@bol.com.br.

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