Edição 86

Como mãe, como educadora, como cidadã

Tem até graça!

Zeneide Silva

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No ano 2000, resolvi ser empresária abrindo uma livraria infantil chamada Prazer de Ler, no Shopping Recife. Era uma loja linda. As vendedoras eram professoras que sentiam prazer em ler, e tínhamos uma proposta diferenciada de formar leitores. Os pais deixavam seus filhos por uma hora para participarem das atividades na loja e das excursões culturais pela cidade. Foi um projeto muito interessante, mas infelizmente — ou felizmente — não deu certo. Não sei ser empresária; em vez de vender livros, eu os doava. Se o cartão de um cliente não autorizava a compra, eu dizia: “Leve, depois você paga”. Enfim, fali.

Durante o período em que a loja funcionava, tive momentos bem gratificantes e engraçados, dentre os quais vou relatar um para vocês.

Um dia antes da inauguração da loja, tivemos que virar a noite trabalhando na organização dos livros, do caixa, da sala de contos… Quando amanheceu, precisei ir ao banheiro, porém não sabia onde ficava o banheiro externo, já que os sociais permaneciam fechados. Foi quando vi um grupo de moças passando pela loja e perguntei onde ficava o banheiro. Uma delas logo respondeu: “Mas tem até graça! Você faz faxina aqui toda semana e ainda não sabe onde fica o banheiro?…”. Sorri e disse: “Menina, é minha primeira vez, me ajuda”. Ela seguiu, e eu fui acompanhando, sorrindo, mas ao mesmo tempo pensando: como queremos um mundo melhor se uma simples informação não é possível dar?

Penso nessas pessoas que colocam dificuldade em tudo, não valorizam as coisas e vivem sempre reclamando. Nunca estão prontas para servir. Como educadora, conheci muitas professoras com esse comportamento, que simplesmente passaram na vida de seus alunos sem deixar marcas.

Ao escrever este texto, lembrei-me de uma história de autoria desconhecida que acho muito importante trazer para esta reflexão:

O capitão de um navio que estava de saída se dirigia apressado para o porto. Diante da vitrine do restaurante, ele viu um menino quase maltrapilho, de braços cruzados e meio trêmulo.

— O que está fazendo aí, meu pequeno? — perguntou-lhe o capitão.
— Estou só olhando quanta coisa gostosa tem aí para comer…
— Tenho bem pouco tempo antes da partida do navio. Se você estivesse arrumadinho, eu o levaria para que comesse algumas dessas coisas saborosas.

O garoto, faminto e animado pelo fio de esperança de que aquele homem lhe ajudaria, passou a mãozinha sobre os cabelos em desalinho e falou:
— Estou pronto agora!
Comovido, o capitão o levou como estava ao restaurante, fazendo com que lhe servissem uma boa refeição. E, enquanto o garoto comia, perguntou-lhe onde estava sua mãe. Ele respondeu:

— Ela foi para o céu quando eu ainda era muito pequeno.
— E você ficou só com seu pai? Onde está ele agora? Onde ele trabalha?
— Nunca mais vi meu pai desde que minha mãe partiu…
— Mas, então, quem toma conta de você?

Com um jeitinho resignado, o menino respondeu:
— Quando minha mãe estava doente, ela disse que Deus tomaria conta de mim. Ela ainda me ensinou a pedir isso todos os dias a Ele.

O capitão, cheio de compaixão, acrescentou:
— Se você estivesse limpo e arrumadinho, eu o levaria para o navio e cuidaria de você com muita alegria.

Novamente, o menino, alisando os cabelos sujos e malcuidados, voltou a repetir a mesma expressão:
— Capitão, estou pronto agora!

Então, o capitão levou o menino para o navio, onde o apresentou aos marinheiros, dizendo:
— Ele será o meu ajudante e será sempre chamado de Estou Pronto.

Como seria diferente se nós estivéssemos sempre prontos para ajudar, servir, cuidar, orientar, amar, valorizar, entusiasmar, elogiar, amparar…

Na vida, temos duas opções: a de dizer “Tem até graça”, que não se preocupa em servir ao próximo; ou “Estou pronto”, que tem como missão servir.

Eu escolhi ser como o menino Estou Pronto, e você?

 

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