Edição 07
Espaço pedagógico
Entrevista
Construir Notícias – Qual a importância do trabalho com projetos dentro de uma escola?
Ana Maria Kaufman – Há muito tempo, a maioria das escolas trabalha com projetos, mas cada uma tem uma concepção distinta sobre o assunto. Os projetos que nos trabalhamos são projetos de leitura e escrita de textos sociais, cotidianos, como os textos dos jornais, e de textos literários, que as crianças também podem escrever. O importante é que nesses projetos, os textos que as crianças escrevem devem ter um destinatário, ou seja, um leitor. Também é fundamental que todos entendam que esses textos produzidos pelas crianças na Escola não são importantes para que elas tirem uma boa nota, mas sim para provocar um determinado efeito nos leitores.
CN – Na sua opinião, que contribuição os pais podem dar em relação a aquisição da leitura e da escrita?
AMK – Eu creio que é fundamental que os pais entendam que filhos, quando são muito pequenos, ainda bebês, podem ler através deles. Com a ajuda dos adultos, a criança pode entrar em contato com a linguagem escrita antes mesmo de saber ler. Na medida em que os pais vão lendo para os filhos, eles podem aprender. Muitos adultos sabem disso e leem para suas crianças, mas outros não dão tanto valor a leitura e isso é muito ruim. É importante que eles compartilhem os livros com seus filhos.
CN – Você considera que uma criança estimulada para a leitura tem mais facilidade de compreensão e introjeção do aprendizado?
AMK – Vai aprender mais e melhor quem teve a oportunidade de, precocemente, ter contato com a leitura. Essas crianças tem mais condições de aprender a ler cedo do que as que não sabem como são os textos. Um bom leitor, ao ler um texto, agrega conhecimentos. A criança que já conhece um poema, que já conhece um conto, um texto de uma enciclopédia ou uma receita de cozinha desde pequena, vai ler mais facilmente que outra criança que não tem idéia de como é nenhum tipo de texto.
CN – Qual a importância do conto na vida da criança?
AMK – O conto é um texto privilegiado, é um texto muito bom porque é completo, tem uma narrativa, tem uma história com estrutura de começo, meio e fim. Quando uma criança gosta de um conto, ela lê e reler aquele conto várias vezes, gosta de ouvir a mesma história e quando os adultos mudam qualquer coisa na hora contar a história que ela está acostumada a ouvir, a criança diz logo que está errado. O conto também é muito importante para os escritores porque tem uma estrutura perfeita, redonda.
CN – Como a Senhora avalia a escolha de alguns profissionais em classificar a literatura de acordo com a idade das crianças?
AMK – É importante saber o que ler para a criança, de acordo com a idade dela, mas é bom não subestimar a criança porque muitas vezes elas entendem mais do que um adulto pensa. Nós achamos que as crianças, porque são pequenas, não podem ler contos clássicos da literatura, o que não é verdade. Temos que ter cuidado para não pensar que as crianças pequenas só podem ler coisinhas pequenas. É importante lembrar que queremos formar leitores autônomos, com critérios para saber o que devem ler, o que é bom ou não para eles.
CN – Você considera o resumo um suporte imprescindível apenas para as aulas de língua portuguesa?
AMK – Eu estou dirigindo uma investigação sobre a construção de resumos escritos por crianças. A primeira pesquisa que fiz foi com alunos da quarta a sétima série. Neste universo, observei a maneira como eles faziam o resumo, observei a qualidade do texto que eles obtinham, que estratégia utilizavam para resumir e depois o que faziam os professores para ensinar esses alunos a resumir. Acabei descobrindo muitas coisas interessantes. Creio que o resumo é importante na medida em que o aluno entende o que é importante para resumir. Como uma técnica que se aplica a qualquer texto, o resumo não serve, mas como uma técnica de estudo, o resumo é muito bom. Resumir é estudar, é reescrever um texto uma vez e outra vez, até que se entenda o que há de mais importante naquele texto. Dentro desta perspectiva, creio que o resumo é fundamental porque implica na verdadeira compreensão do texto. Compreender um texto, é saber extrair dele o mais importante, é saber organizar tudo logicamente e saber excluir o que não é importante. Se alunos e professores entenderem o resumo como uma técnica que consiste em ler rápido, sublinhar e copiar, creio que não vale a pena.
CN – Existem inúmeras concepções a respeito do resumo, como síntese, sinopse, esquema. Na sua opinião, quais seriam os procedimentos que facilitaram uma melhor compreensão por parte dos alunos?
AMK – Na Argentina, os professores sabem que há uma diferença entre síntese e resumo. Síntese é o texto construído com as próprias palavras. Resumo é o texto construído com palavras de outro texto. Nos dois casos, são textos breves e curtos. Segundo a argentina Maria Helena Rodrigues, especialista em linguística, não existe diferença entre síntese. Ela costuma dizer que isso é uma invenção da escola e dos professores e que, linguisticamente falando, essa diferença não existe. O que não da para entender, é que, apesar de saberem que um resumo é feito com as palavras de outro texto, os professores querem que os alunos façam resumos com as próprias palavras. Dizem que quando o aluno escreve um resumo com palavras próprias, eles sabem que o aluno entendeu tudo, mas quando escrevem com as palavras do autor do texto eles não sabem se o aluno entendeu. O problema que eu vejo é o seguinte: em alguns textos, as palavras específicas de determinados autores e disciplinas não podem e não devem ser trocadas. Na minha opinião, portanto, eu estou em desacordo com a teoria de que o resumo e a síntese são técnicas que mecanicamente podem ser aplicadas a qualquer texto. O mais importante é ler repetidamente para aprender e extrair o que é mais importante em um texto. Ninguém pode estudar e aprender algo com uma só leitura.
CN – Na escola, existe trabalho sistemático de resumo de texto. Nas séries de ensino fundamental, da primeira a quarta séries, que critérios devem ser observados para que o aluno tenha uma produção coesa e seja competente nesta atividade?
AMK – Os mesmos critérios que usam para ler e escrever qualquer texto. Eu acredito que crianças com apenas cinco anos já podem trabalhar com enciclopédias e ler tudo através da professora. Desta forma, elas já sabem definir que dados são os mais importantes. As crianças falam para a professora e sugerem o que deve entrar no resumo. Os critérios não podem ser diferentes da primeira a quarta nem da quinta a oitava séries. Eles são os mesmos. E que critérios são esses? O primeiro é trabalhar com textos que são resumíveis, que sejam longos porque se não são longos já são um resumo. É importante não subestimar as crianças e ler com elas textos grandes para que elas possam escolher os itens que devem ser resumidos, ou seja, os itens que consideram os mais importantes no texto. A diferença é que, quando são menores, é mais importante a leitura da professora porque as crianças não são leitoras autonômas. Mas é bom lembrar que, através da professora, elas tem condições de hieraquizar a informação e excluir aquilo que não é importante.
Escola, leitura e produção de textos apresenta uma classificação simples e precisa dos textos que estão sendo produzidos na atualidade, estando articulada com uma proposta didática para que as crianças venham a ser boas leitoras e escrevam corretamente e com autonomia. As autoras propõem que se trabalhe de forma construtiva com os erros e que sejam criadas situações de contato, exploração e reflexão sobre a produção de textos que permitam aos alunos otimizar seu aprendizado, aproveitando ao máximo suas possibilidades.