Edição 116
Matéria Âncora
Escuta ativa
Anna Luiza Ramsthaler
“A natureza nos deu dois ouvidos, dois olhos e uma língua para que pudéssemos ouvir e ver mais do que falar”, observa Zenão, velho filósofo grego.
E um filósofo chinês faz a seguinte observação: “O bom ouvinte colhe, enquanto aquele que fala semeia”.
Seja como for, até há bem pouco tempo, dava-se pouca atenção à capacidade de ouvir.
O ouvir é algo muito mais complicado do que o processo da audição.
O ouvir, de forma eficaz, ocorre quando o receptor é capaz de discernir e compreender o significado da mensagem do emissor.
Escutar os outros representa uma atividade que todos consideram saber fazer. A verdade é que as pessoas não estão habituadas a dedicar atenção ao outro. Escutar ativamente se constitui na técnica que é preciso aprender e praticar, principalmente por todos aqueles que, em decorrência de sua profissão, mais lidam com o público.
A escuta ativa torna-se uma ferramenta muito útil quando alguém chega até nós desestabilizado por alguma ocorrência, por exemplo. Nesse momento, precisamos manter o equilíbrio e respirar fundo para ajudar a pessoa a se expressar e, assim, sermos capazes de compreender aquilo de que ela necessita e que pretende manifestar.
Princípios da escuta ativa
• Saber falar.
• Colocar-se em empatia com o outro.
• Centrar-se no que é dito.
• Manter os canais de comunicação abertos.
• Eliminar juízos imediatos.
• Não interromper o outro.
• Controlar as emoções pessoais.
• Reformular as mensagens.
• Utilizar as capacidades de intuição, memória, percepção.
RAMSTHALER, Anna Luiza. A arte de se relacionar: impulsionando a produtividade. Fortaleza: Conhecimento, 2012.
É preciso ouvir para colher
Correndo pela mata, estava, a dona Formiga, na sua incessante tarefa de investir em prol do seu sustento. Não havia tempo para passatempos, distrações ou qualquer outra interferência que perturbasse a ordem dos seus afazeres. Uma jovem cigarra fazia o contrário. Não tinha pressa. Queria mesmo era ser ouvida, que apreciassem suas histórias cantadas, que se juntassem a ela para aumentar a festa. Parecia não se importar com o futuro, jogava conversas ao vento. Muitas vezes, a cantoria era até em homenagem à colega trabalhadora — um acorde para cada passo que a Formiga dava em direção ao seu próprio interesse.
Ah! Sem julgamentos, por favor, pois, como se já não tivesse muita coisa, a Formiga se encarregou de fazer isso também.
— Como pode? Eu aqui trabalhando, e ela só puxando papo! Que preguiçosa! Veja lá se eu tenho tempo para ouvir conversa?!
Mas o Gafanhoto também não perdia tempo, não. Estava à espreita dos proventos da Formiga fazia tempo. A Cigarra até que tentou alertar a pobre batalhadora, mas, como não teve tempo de dar ouvido a ninguém, o aviso entrou por um ouvido e saiu pelo outro.
O final dessa história você pode imaginar. O motivo por tanto labor acabou indo com o Gafanhoto. Restou à Formiga a espera por um novo tempo de colheita. Mas agora ela já sabe que, para colher, é preciso também saber ouvir.
Se você compartilha da mesma opinião da Formiga de que, para poder ouvir, é preciso ter tempo, você está certo. É preciso tempo para ouvir e entender o que o outro tem a dizer. E tempo, nos nossos dias, não é coisa fácil de se achar, principalmente porque sempre tem de haver a capacidade de falar mais e melhor que o outro, não é mesmo? É difícil ouvir sem dar palpites ou julgamentos.