Edição 36

É dia...

Este é o Nosso Dia, Professores

e_diaEste é o seu dia, professor! O nosso dia. Dia 15 de outubro — dia de dizer o que não se deve dizer.

Este é o dia de não nos culparmos por termos escolhido a profissão mais importante do mundo, porque todas as outras profissões precisam de professores.

Este é o nosso dia, professores! Dia sem vitórias, sem lorotas, sem notas, dia que não se pode adiar e que sempre volta, acusando-nos de professar o que professamos.

Segundo Aristóteles, a única indicação de que realmente sabemos alguma coisa é quando podemos ensiná-la a alguém. Mestre Aristóteles, vamos e venhamos! Só sabemos que sabemos algo quando, ao ensinar, descobrimos que mal sabemos, da missa, a metade.

A nossa missão, professores, é ensinar como ninguém.
E ninguém melhor do que os professores para aprender a ensinar.
Ensinar é descobrir a necessidade de aprender tudo de novo.

É descobrir que, às vezes, mais importa o subproduto de uma aula do que o produto premeditado… Porque podemos ensinar com maestria todas as meias verdades (produto), e o subproduto da curiosidade, sim, ser nossa maior contribuição.

E aquilo que um professor não sabe é justamente aquilo que os alunos ouvem. Daí a necessidade de ampliarmos ao máximo a insatisfação de nossos alunos. Sim, a insatisfação!

Nossos alunos olham para nós e pensam. Pensam? Se não pensam, nós é que precisamos pensar duas vezes antes de entrar em sala de aula.

Para que sejam aulas belas, aulas vivas, aulas fortes, aulas ricas, aulas aulas, aulas sem adjetivos, aulas inesquecíveis, aulas para sempre.

É impossível errar se não sabemos o caminho. Por isso é muito bom aprender a errar. Nota dez para quem errar! Errar é sinal de que temos um rumo. Sinal de que podemos retomá-lo a qualquer momento. E, um dia, chegar aonde é preciso chegar.

Mas chega de imaginarmos alunos perfeitos! Eles já existem na imaginação, aos milhares…
Os alunos reais — os que, de fato, interessam — são aqueles que ainda temos de descobrir em nossos alunos. A esses alunos, devemos ensinar a arte de cometer erros criativos. Os erros que tudo ensinam. Os erros que nos oferecem as certezas, e essas certezas valem a pena!

Este é o seu dia, professor. Dia de não ensinar nada de útil, nada de edificante.
Dia de esquecer as grandes lições.
Dia de não dizer o que sempre esperam ouvir de nós.

Fonte: PERISSÉ, Gabriel. Crônicas Pedagógicas. São Paulo: Ômega, 2006. p. 11.

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