Edição 89
Espaço pedagógico
Estratégias diferenciadas de ensino:
Bianca Acampora
A importância dos pressupostos da pedagogia em qualquer etapa do ensino
Atualmente o bom docente trabalha com o currículo de forma contextualizada, utilizando planejamentos criativos e flexíveis. Entretanto, ainda apresentam muitas dificuldades em utilizar as estratégias diferenciadas de ensino previstas na didática. Para ministrar suas aulas com sucesso, é necessário utilizar a práxis pedagógica (relação entre teoria e prática) e saber utilizar a transposição didática. Ou seja: não basta apenas ter o domínio do conteúdo, é necessário saber transmiti-lo com uma linguagem acessível ao aluno, trocando experiência e levando em consideração o conhecimento prévio do educando. Desse modo, não se concebe mais docentes atuantes sem os conhecimentos pedagógicos básicos do campo da Pedagogia.
Pedagogia é a área que trata dos princípios e métodos de ensino, na gestão de escolas e na condução dos assuntos educacionais. O pedagogo trabalha para garantir e melhorar a qualidade da educação e tem dois grandes campos de atuação: a gestão e o magistério, de tal modo que pode tanto gerenciar e supervisionar o sistema de ensino quanto orientar os alunos e os professores ou ministrar aulas.
De acordo com Saviani (2007), as estratégias de ensino e aprendizagem estão contidas na área de estudo da Pedagogia. Conhecer a forma como os alunos aprendem auxiliaria o docente a intervir no processo de aquisição do conhecimento, proporcionando ao aluno aprender a aprimorar o uso das estratégias de aprendizagem.
Muitos docentes ainda estão presos ao modelo tradicional de ensino, em que apenas o professor detém os conhecimentos elaborados, ou seja, o saber teoricamente fundamentado, o que configura um tipo de ensino com determinados métodos.
Entretanto, atualmente muitos docentes já utilizam as tendências pós-modernas de educação, com base no paradigma ecossistêmico, que vê o sujeito e o processo como um todo, e o professor é mediador e estimulador da aprendizagem.
O estudante expressa seu interesse naquilo que julga valioso aprender e percorre, com o auxílio do professor, os passos de sua educação, que configuram o método de aprendizagem pelo qual constrói os próprios conhecimentos.
A prática social se põe, portanto, como o ponto de partida e o ponto de chegada da prática educativa. Daí decorre um método pedagógico que parte da prática social em que professor e aluno se encontram igualmente inseridos, ocupando, porém, posições distintas, condição para que travem uma relação fecunda na compreensão e encaminhamento da solução dos problemas postos pela prática social. Cabe aos momentos intermediários do método identificar as questões suscitadas pela prática social (problematização), dispor os instrumentos teóricos e práticos para a sua compreensão e solução (instrumentação) e viabilizar sua incorporação como elementos integrantes da própria vida dos alunos (catarse) (SAVIANI, 2007, p. 12).
Saviani ainda defende que os objetivos das instituições de ensino e dos cursos concretizam-se no currículo, que, por sua vez, é efetivado por meio das atividades de ensino, visando atingir resultados em termos de qualidade cognitiva, operativa e social das aprendizagens. O conjunto currículo-ensino constitui os meios mais diretos para se atingir o que é nuclear na escola, a aprendizagem dos alunos, com base nos objetivos.
Para tornar esse núcleo mais eficaz, existe outro conjunto de meios que são as atividades de planejamento (incluindo o projeto pedagógico-curricular e os planos de ensino), de organização e gestão, e de avaliação, sendo que as práticas de organização e gestão põem em prática o planejado. Tais atividades estão englobadas nos eixos de estudo da Pedagogia.
A práxis pedagógica dos docentes pode ser mais elaborada, pois muitos professores dominam apenas uma estratégia de ensino, a da exposição. Outros, apesar de conhecerem diferentes estratégias, ficam com medo de usá-las por não se sentirem seguros. Além de outros diversificarem suas estratégias unicamente pelo desejo de diversificar, não se preocupando em adequá-la ao grupo para o qual estavam lecionando.
É na sala de aula que os professores exercem sua influência direta sobre a formação e o comportamento dos alunos: sua postura em relação ao conhecimento específico de sua matéria, aspectos do relacionamento professor-aluno, sua atitude em relação à instituição, seu planejamento, sua metodologia de ensino, seus valores, seu relacionamento com colegas de outras disciplinas.
É necessário considerar que não significa que queremos normalizar as situações de ensino, adotar formalidades e controles ou enquadrar os professores em receitas didáticas nos aspectos pedagógicos e didáticos. Sabemos que cada área de conhecimento tem suas especificidades epistemológicas e metodológicas.
O que a Pedagogia propõe ao ensino são medidas que desencadeiem ações para conhecer mais de perto o que está acontecendo nas salas de aula e prover as condições necessárias para se obter mais qualidade de ensino, dentro de práticas participativas e colaborativas em que os docentes sejam protagonistas dos processos de mudança. A ideia é introduzir espaços de reflexão conjunta, troca de experiências, formas de negociação e tomada de decisões coletivas.
[…] o conhecimento da matéria ensinada e o conhecimento pedagógico (que se refere a um só tempo ao conhecimento dos alunos, à organização das atividades de ensino e aprendizagem e à gestão de classe) são certamente conhecimentos importantes, mas estão longe de abranger todos os saberes dos professores no trabalho (TARDIF, 2000).
Neste contexto, é importante que o docente leve em consideração o conhecimento prévio do aluno em sua sala de aula. Ao ministrar um conteúdo, deve iniciar com uma conversa informal questionando sobre o que os alunos sabem em relação àquele assunto. A partir daí, irá desenvolver o tema ampliando os conhecimentos dos alunos, inserindo os conteúdos que devem ser trabalhados. Entretanto, deve transpor a linguagem do conhecimento científico para a linguagem do conhecimento “ensinável”, isto é, com condições de ser aprendido pelo aluno.
O professor que consegue transpor a sua linguagem científica para a linguagem ensinável consegue um nível de aprendizado maior em sua turma do que aquele que fica apenas no nível científico de conhecimento. A pedagogia propicia este ato docente que em qualquer etapa do ensino é de suma importância.
Para que a transposição didática ocorra, esta pressupõe a interdisciplinaridade e a contextualização. A interdisciplinaridade engloba a interseção das disciplinas entre si de forma que elas não sejam mais fragmentadas. Podem ser trabalhadas através de projetos, e a contextualização pressupõe ações e estudos voltados para a realidade e situações cotidianas que acontecem na comunidade, no Município, no Estado, no País e no mundo.
A interdisciplinaridade: viabiliza interconexões – causa e efeito; supera visão fragmentada da produção do conhecimento; produz coerência entre os múltiplos fragmentos do acervo do conhecimento; possibilita a reconciliação epistemológica decorrente da fragmentação; concilia os conceitos pertencentes às diversas áreas do conhecimento; promove avanços à produção de novos conhecimentos; possibilita ainda a compreensão do mundo e a possibilidade de modificá-lo, a visão correta da realidade multifacetada, a visão do homem como sujeito e agente de transformação.
A transposição didática pressupõe dar significado ao conhecimento mediante a contextualização, ou seja, evita a compartimentalização mediante a interdisciplinaridade.
O professor deve desenvolver em sala de aula atividades em que os estudantes construam situações em coletividade em busca de resolução de problemas ou de elaboração de experimentos acadêmicos de autoria própria.
Neste sentido, os saberes, não mais centralizados e hierarquizados, formam-se em teias de conhecimento que se alastram pelas interdisciplinaridades, criando novas conexões a partir de um tema de estudo, contextualizando os saberes. Ao invés da absorção passiva do conhecimento, é necessário dialogar ativamente – e interativamente – com elas, selecionando conteúdos, estratégias e ritmos para as aprendizagens, tornando-as significativas e interativas.
Sala de aula mágica: estratégias diferenciadas
1) A referência para as atividades do ensino é a aprendizagem.
2) A sala de aula é um espaço de construção conjunta do conhecimento.
3) A aprendizagem está relacionada com a atividade de pesquisa tanto do aluno quanto do professor.
4) A sala de aula é todo espaço em que os alunos podem aprender.
5) Toda aprendizagem precisa ser significativa, isto é, os conteúdos precisam fazer sentido para o aluno, com base nos próprios sentidos que os alunos atribuem ao que estão aprendendo.
6) A sala de aula implica uma aproximação entre a teoria e a prática. A aprendizagem se realiza mais facilmente e com maior compreensão e retenção quando acontece em diferentes ambientes.
7) A aprendizagem universitária está associada ao aprender a pensar e ao aprender a aprender. O ensino precisa hoje estimular o estudante a desenvolver habilidades de pensamento e identificar procedimentos necessários para aprender.
O docente deve buscar a formação continuada, que trará contribuições para melhorar a qualidade de ensino, visto que as transformações sociais são também responsáveis pelas transformações do ensino. Desta forma, a formação permanente desses profissionais, pode melhorar e transformar sua prática.
O professor necessita utilizar as estratégias pedagógicas a fim de ter um nível de excelência em relação ao ensino-aprendizagem, pois atualmente os professores devem trocar experiências, levar em conta a interdisciplinaridade, devem fazer a transposição didática e trabalhar os elementos da didática, dos projetos, do currículo, para que, cada vez mais, se tenham universidades-modelos.
Bianca Acampora é doutoranda em Ciências da Educação, Mestre em Cognição e Linguagem e psicopedagoga.
Referências
LIBÂNEO, José C.; PIMENTA, Selma G. Formação dos profissionais da educação – visão crítica e perspectivas de mudança. Educação e Sociedade. Campinas: Cedes, n° 68, 1999.
SAVIANI, Demerval. Pedagogia: o espaço da educação na universidade. Cadernos de pesquisa. Vol. 37. Nº130. p. 99-134. jan./abr. 2007.
TARDIF, M. Saberes profissionais dos professores e conhecimentos universitários. Rio de Janeiro: PUC, 2000.