Edição 75
Ambiente-se
Filosofia, um eterno jogo de saberes
Odilon Conceição Cuti
Filosofar é entrar num emaranhado de saberes que, com frequência, nos proporciona um jogo divertido e desafiador. São temas que se relacionam e determinam as relações de poder que se dão a partir do conhecimento.
Amar… o que é amar? Podemos distinguir amor e amizade? Amor e amizade são duas formas de relacionamento humano ou o amor é só uma forma mais intensa de amizade ou — como a literatura e a vida dão a entender — ambos são diferentes modos de se relacionar com os outros? Se assim for, as regras que se aplicam a eles são diferentes? O filósofo Kant define amizade como a libertação da prisão do eu, uma prisão da qual temos o dever de escapar. E você, o que entende por amor? E amizade?
Desejar… o que é, afinal? Desde Platão se tem interpretado o desejo como uma sensação desagradável, como certa forma de sofrimento, de acordo com sua intensidade, porque, enquanto eu desejo, me sinto insatisfeito e, portanto, não sou totalmente feliz. Na realidade, trata-se de saber se minha felicidade depende mesmo daquilo que desejo. Nossos jovens e adolescentes estão realmente prontos para conviver com a dor da frustração pela não satisfação de seus desejos?
A felicidade depende da vontade?
Buscá-la ou deixá-la vir naturalmente? É questão de sorte ou azar? Na Antiguidade, a felicidade era, em geral, algo que chegava casualmente. A felicidade dependia exclusivamente dos caprichos do destino, de circunstâncias externas, e não de nossa vontade ou das consequências de nossas ações.
Segundo Aristóteles, a felicidade plena se encontra no uso do intelecto. Só pode ser experimentada por meio do pensamento que define a atividade filosófica. Para ele, todas as outras formas de felicidade são medíocres, embora tragam certa satisfação. Kant, por sua vez, pensa que a felicidade não pode ser uma arte de viver, com técnicas pensadas e delimitadas, mas sim um ideal da imaginação, e não da razão. E, para você, o que é felicidade? Você se considera uma pessoa feliz?
E a vontade? Somos movidos por ela? Depende de atos conscientes? Nossa tradição ocidental defende com orgulho o valor da razão, o que permite orientar nossos atos de maneira consciente. A vontade seria, então, a capacidade de querer agir em função do que nos dita a razão ou nossa consciência. Fala-se de ato voluntário quando alguém toma a decisão de agir de determinada maneira, conhecendo as circunstâncias e as consequências de seus atos, quer sejam motivados pelo impulso do desejo, quer pela reflexão. São considerados involuntários os atos realizados sob ameaça ou pela ignorância de consequências que não podiam ser previstas. A vontade permite reconhecer o grau de responsabilidade de um ato.
Sociedade, democracia e liberdade
Que parcela de colaboração eu tenho com a sociedade em que vivo? E, se não faço minha parte, posso criticar quando as coisas não saem como eu esperava? A sociedade pode ser considerada a origem e a finalidade do ser humano: ele nasce numa sociedade, e sua vida consistirá em aprender a viver nela. Mas definir o ser humano como naturalmente social não basta para explicar a origem da sociedade.
Platão e Aristóteles acreditavam que era a necessidade material que estava na origem da formação das sociedades, ao comprovar que o esforço coletivo era mais efetivo. Já o filósofo inglês Thomas Hobbes sustenta que toda sociedade nasce para controlar a violência e o egoísmo natural do ser humano. E a democracia? A democracia grega de Atenas não deixa de ser uma aparência para uma mentalidade moderna. Naquela sociedade, mulheres, estrangeiros e escravos não participavam das decisões políticas. Você sabe quais são seus direitos e deveres na cidade em que vive? O que você entende por democracia?
E a liberdade está no fim do caminho ou na própria caminhada? Para alguns, liberdade é a ausência total de limitações e obrigações. Ou seja, é a possibilidade de fazer o que nos dá vontade e satisfazer nossos desejos. Para outros, agir livremente é agir de maneira meditada para que no dia seguinte não ocorra o arrependimento de ter realizado uma ação movida pela imprudência ou pela impulsividade.
Para o filósofo Baruch Spinoza, não existe uma faculdade própria que seja a vontade. Tomamos decisões, mas elas são determinadas por causas anteriores, como qualquer fenômeno natural. Vivemos pensando ser livres; o que chamamos liberdade é, na realidade, nossa ignorância sobre as verdadeiras causas que nos determinam. Só o conhecimento pode ajudar a ser livre ao dar-nos a entender que tudo o que nos acontece é necessário. Você se considera um ser livre? O ato de ir à escola é um ato realizado com liberdade?
Odilon Conceição Cuti é professor de Filosofia no Instituto Federal Farroupilha e na Escola Estadual de Ensino Médio São Vicente. São Vicente do Sul, RS.
Endereço eletrônico: odiloncuti@hotmail.com.