Edição 42

Livro da vez

Histórias que eu vivi e gosto de contar

Autor: Daniel Munduruku

Ilustrações: Rosinha Campos

Editora Callis

historias01Histórias que Eu Vivi e Gosto de Contar, de Daniel Munduruku, com ilustrações de Rosinha Campos, é um daqueles livros que têm a sutileza de integrar vários aspectos da literatura.

Os contos apresentados levam o leitor a unir o real ao maravilhoso. Isso signifi ca que seres criados pelo imaginário (como Curupira, Surucucu, Mãe-d’água e outros) tornam-se tão verdadeiros como outros personagens que fazem parte do real, como a presença do próprio autor, nas narrativas.

Vale a pena salientar também que há bastante espaço na leitura para a análise da matéria literária, cuja base está fundamentada nos valores ideológicos (fi losofi a de vida, padrões ideais de comportamento, consciência de mundo, aspirações, metas a serem alcançadas, etc.) presentes na obra. É possível aproximar-se do universo do povo indígena do qual o autor faz parte. Ao longo da obra, estão presentes aspectos da cultura, das tradições e dos costumes, assim como a construção ética e moral desse povo.

Dessa maneira, pode-se afi rmar que tais elementos (matéria literária e valores ideológicos) estão no primeiro plano da obra, e, em segundo plano, está o conteúdo manifesto. Portanto, o autor procurou dar ênfase ao aspecto literário das narrativas, embora se possa também observar a presença do aspecto didático ao longo do texto.

Em relação às ilustrações, pode-se dizer que foi uma decisão acertada restringir a sua quantidade, por ser interessante que as crianças possam desenvolver a imaginação e a criatividade sobre o espaço e o tempo correspondentes às aventuras apresentadas. Essa exploração pode acontecer por estarem diante de um espaço e tempo desconhecidos, já que é provável que a maioria dos leitores nunca tenha morado em uma fl oresta. Assim, solicitar que elas pensem como é a vida na fl oresta, que o autor apresenta com tanta propriedade, torna-se uma atividade extremamente estimuladora.

Por meio da leitura, ainda é possível trabalhar o projeto cultural da obra, ou seja, o encantamento pela literatura, e também o projeto de vida do livro, isto é, encontrar um sentido para sua própria vida a partir da leitura do texto. Portanto, os textos e as imagens do livro podem ser vistos além de um mero instrumento de transmissão cultural, mas devem ser valorizados como um poderoso recurso de integração e respeito entre culturas, passando, a partir dessa postura, para a prática no mundo em que vivemos.

historias

cubos