Edição 42

Matérias Especiais

Interações na sala de aula, afetividade e aprendizagem: Um Estudo da Educação Infantil

Carmem Dolores de Souza Reis¹
Maria Carolina Lopes Bezerra Cireno²
Artur Gomes de Morais³

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Este artigo é resultado de um estudo de caso que procurou examinar as interações que têm lugar em salas de aula e analisar possíveis implicações dos aspectos afetivos na aprendizagem. O estudo revelou um protagonismo da expressão das professoras e uma tendência a que tratassem os alunos coletivamente. As crianças pouco trabalham em grupo ou cooperativamente. De ambas as partes (professora–alunos, alunos–professora), foram pouco freqüentes as expressões de afeto. Discutiremos, ao fi nal, as implicações para a formação inicial e continuada de professores.

Palavras-chave: Interações na sala de aula, afetividade, ensino–aprendizagem, Educação Infantil.

1. Introdução

Na sociedade em que vivemos, fica cada vez mais visível o crescimento de atitudes individualistas e competitivas entre os seres humanos.

Conseqüentemente, percebemos que o processo educativo, algumas vezes, acaba sendo resumido à preparação para futuras situações de exame e que, em certas instituições escolares, o estudante acaba se tornando apenas um número, uma estatística, preferencialmente positiva para atrair novos alunos.

Segundo Gabriel Chalita (2001), para o educando, ser o aluno mais bem colocado no processo seletivo de uma boa universidade não terá sido uma grande conquista caso ele não tenha desenvolvido a maturidade necessária ao enfrentamento de problemas concretos de sua vida.

Acreditamos que, em pleno século XXI, precisamos formar homens e mulheres ativos, que exerçam sua cidadania de forma crítica e consciente, ou seja, precisamos encarar o desafi o de formar indivíduos “vivos, inquietos e participantes; com um professor que não tema suas próprias dúvidas; e com uma escola aberta, viva, posta no mundo” (Marchand, 1985, p.5).

Dessa maneira, a escola não pode mais ser entendida enquanto um espaço destinado à mera transmissão do saber; ela necessita propiciar aos alunos o desenvolvimento de suas capacidades cognitivas, afetivas e sociais.

2. Algumas considerações sobre a Psicologia do Desenvolvimento para o enfoque das interações sociais e da expressão da afetividade na escola

De acordo com as idéias de Vygotsky (apud Coll e Colomina, 1996), o processo educativo pode ser caracterizado como essencialmente social. Isto é, através das relações sociais, das relações com os outros, a criança vai se apropriando das práticas culturais da sociedade em que está inserida.

Enfatizamos, ainda, que a qualidade da experiência vivida pelo indivíduo com o outro imprime um sentido afetivo ao objeto de conhecimento. Portanto, além das emoções de ordem positiva, as negativas (medo, vergonha, etc.) também produzem seus efeitos no processo educativo. Por esse motivo, para que a criança possa ousar pensar, questionar, debater, romper paradigmas, ela precisa estabelecer relações interpessoais positivas.

3. A afetividade na Educação Infantil

No momento em que a criança chega pela primeira vez à escola, acontece um rompimento parcial de sua vida familiar. A partir daí, a criança passa por uma nova experiência de socialização, que é uma continuação do que vem acontecendo no contexto familiar desde o nascimento.

Por conta disso, a criança precisa se sentir aceita, bem recebida e segura, pois, dessa forma, aquela nova experiência passa a ter um signifi cado afetivo positivo para ela. Quando a criança sente que os indivíduos participantes desse novo contexto (a escola) são compreensivos, democráticos e tentam ajudá-la com dedicação, possibilita-se o sucesso dos objetivos educativos.

Para Wallon (apud Almeida e Mahoney, 2000), é através da emoção que o aluno exterioriza seus desejos e suas vontades. Portanto, além de demonstrar carinho, o professor precisa estar atento aos seus alunos, mostrando-se acessível, dando abertura para que eles sintam-se seguros ao se expressarem. É importante saber ouvir o que o aluno tem a dizer, valorizando-o.

Coll e Solé (1996) afi rmam que não é só um professor ideal ou os métodos de ensino eficazes que facilitam o processo de ensino–aprendizagem. Faz-se necessário um estudo mais suscetível do que ocorre nas aulas.

Na dinâmica real da sala de aula, as crianças precisam se sentir igualmente aceitas, amadas e respeitadas. A maioria dos pedagogos tende a defender que não deve haver comparações nem devemos salientar as diferenças entre meninos e meninas, e sim superar a promoção da comparação para a cooperação.

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4. Considerações finais

Entendemos que as crianças precisam ser preparadas para os problemas concretos da vida, ou seja, devemos ensinar nossos alunos a serem pensadores, e não repetidores de informações.

Educar não é simplesmente repetir palavras, porém, para compreender o verdadeiro sentido de educar, o educador precisa, antes de tudo, ter em mente qual sua real função educativa e social.

Nosso estudo mostra que a interação professor–aluno está basicamente ligada à postura que o professor assume dentro da sala. Assim sendo, se o professor acredita que ele detém todo o conhecimento e que o aluno está ali apenas para recebê-lo, será normal para ele o fato de sua fala ocupar muito mais tempo que a fala do aluno, por exemplo. No entanto, se o professor tem consciência de que ele é apenas um mediador entre a criança e o conhecimento a ser adquirido, o normal será mais freqüência, intensidade e variedade nas falas dos alunos.

A disposição dos móveis, a falta de espaço recreativo, a exposição pública dos alunos, o castigo, a predominância da fala do docente e de tarefas fechadas são indícios de que ainda estamos um pouco distantes de alcançar esse sucesso.

Nosso estudo, porém, não permite fazer generalizações, já que se desenvolveu num pequeno universo, mas permite sugerir aos educadores, sobretudo os da Educação Infantil, que se mostrem acessíveis aos seus alunos, estimulando mais a fala destes e possibilitando que isso ocorra em situações diversas, como contar histórias, dar recados, dizer o que aconteceu nos fi nais de semana e pedir informações, permitindo que eles comuniquem suas idéias, seus pensamentos e suas intenções. Acreditamos que é necessário favorecer um clima de confi ança, respeito e afeto, proporcionando o prazer da comunicação, estimulando o diálogo e trabalhando a auto-estima dos alunos, fator fundamental no processo educacional.

Sugerimos, ainda, que os recursos de formação de professores ofereçam condições para que os docentes que pretendem trabalhar com Educação Infantil estejam bem preparados para lidar com essa fase tão singular do desenvolvimento humano. Eles precisam conhecer detalhadamente como funciona a evolução da criança e quais são as características que imperam nessa fase, para poder trabalhar com ela respeitando seus traços e sua idiossincrasia.

¹ Graduada em Pedagogia pelo Centro de Educação da Universidade Federal de Pernambuco.
E-mail: minhareis@hotmail.com (autora).
² Graduada em Pedagogia pelo Centro de Educação da Universidade Federal de Pernambuco.
E-mail: carolcireno@gmail.com (autora).
³ Professor doutor do Centro de Educação da Universidade Federal de Pernambuco.
E-mail: agmorais@uol.com.br (orientador).

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Referências Bibliográficas

ALMEIDA, L. R. de e MAHONEY, A. A. Henri Wallon. Psicologia e Educação. São Paulo: Loyola, 2005.
CHALITA, G. Educação: A Solução Está no Afeto. São Paulo: Gente, 2001.
COLL, C. e COLOMINA R. Interação entre Alunos e Aprendizagem Escolar. In: COLL, C., PALACIOS, J. e MARCHESI, A. (orgs.) Desenvolvimento Psicológico e Educação: Psicologia da Educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
COLL, C. e SOLÉ, I. A Interação Professor–aluno no Processo de Ensino e Aprendizagem. In: COLL, C., PALACIOS, J. e MARCHESI, A. (orgs.) Desenvolvimento Psicológico e Educação: Psicologia da Educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
MARCHAND, M. A Afetividade do Educador. São Paulo: Summus, 1985.

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