Edição 15

Professor Construir

O professor na vitrine

Anita S. M. Pinheiro

Marketing Pessoal faz a diferença

Passaram-se anos, e ainda tenho em mente a imagem dos meus professores da rede pública estadual. Lembro-me bem da minha professora de Língua Portuguesa, Dona Marly, que se vestia de forma simples, mas muito elegante. A professora Estela, de Matemática, chamava a nossa atenção por sua harmoniosa postura física e atitudinal dentro e fora de sala de aula. E o professor de Francês, Eduardo, tinha uma aparência sempre impecável.

Embora de estilos diferentes, os três tinham algo em comum: passavam uma imagem positiva que ensinavam e cobravam dos alunos. Eles tinham como lema: “A prática é o melhor exemplo”.

Como formador de opinião, o professor é um referencial “modelo” para o aluno e, no exercício de sua profissão, ele mostra a sua imagem pessoal/profissional, representa a imagem do corpo docente e vende a da instituição escolar. É disso que trata o Marketing Pessoal, que, naquela época, não tinha identidade.

Seja por falta de conhecimento ou entendimento, preocupar-se com Marketing Pessoal como diferencial para o professor, ainda é uma idéia rejeitada por alguns profissionais da área.
Conhecer significados como também técnicas e ferramentas desse tipo de marketing é hoje uma importante estratégia de empregabilidade utilizada para o exercício de qualquer profissão. Para professores e profissionais da área de educação, o Marketing Pessoal faz parte do seu dia-a-dia. Dessa maneira, a sala de aula é considerada uma verdadeira “vitrine”.

Enquanto, para as organizações, marketing tem a ver com a conquista e manutenção de clientes, o Marketing Pessoal trata da imagem que você mesmo projeta no mercado, ou seja, você sendo o seu principal cliente, como você está e o que está fazendo por você mesmo, indo um pouco além, o que as pessoas irão perceber do que você projeta. O Marketing Pessoal não é algo que você tem ou não tem, como um dom ou talento; é um processo contínuo de conquista que gera, como conseqüência, o valor que você passa a ter no mercado (Reinaldo Passadori, 2003).

Segundo Neto (2001), o Marketing Pessoal não trata as pessoas como um objeto. Antes, valoriza o ser humano em todos os seus atributos, suas características e sua complexa estrutura física, intelectual e até espiritual. Para o autor, o Marketing Pessoal é uma nova disciplina que utiliza os conceitos e instrumentos do marketing em benefício da carreira profissional e da vida pessoal dos indivíduos, valorizando os seus diferenciais mercadológicos, suas vantagens competitivas, catalisando os processos que facilitam o melhor posicionamento de mercado possível. E, para consolidar seu conceito sobre Marketing Pessoal, o autor cita Philip Kotler, pai dessa ciência, que define Marketing Pessoal como sendo: “O processo que inclui a concepção, o planejamento e a execução de ações que viabilizem a projeção pessoal das pessoas e dos profissionais”.

Entrando num estudo mais detalhado de Passadori (2003), ele nos leva a concluir que a postura, a aparência, a indumentária, bem como a voz, a elegância e a confiança, junto com suas atitudes e seus comportamentos, é que formarão esse conjunto de fatores que comporão a sua imagem.

Seguindo essa linha de pensamento, podemos compreender o Marketing Pessoal como sendo uma forma de investimento pessoal, e, para isso, é válido analisar algumas dicas sobre esses fatores. Segundo Lívio Callado, iniciando pela postura, o autor afirma que ela corresponde a 90% do Marketing Pessoal. Refere-se ainda à postura como “equivalente à moldura de um quadro”. Segundo ele, podemos entender a postura classificando-a em dois tipos: física e atitudinal. Quanto às atitudes, muitas são uma agressão a você e aos outros. Ele exemplifica com pessoas que andam projetando a cabeça para o chão e com os ombros caídos. Nessa categoria de postura atitudinal, as pessoas não se sentem à vontade no mundo. Nesse caso, bem mais grave, as pessoas são problemáticas e infelizmente necessitam de ajuda especializada. Para o autor, manter a postura correta é uma forma de respeito às pessoas. Ele também chama a atenção para a importância da postura e recomenda atividades físicas como sendo importantes para o funcionamento do organismo: aumenta mais a resistência às doenças, descarrega as tensões, arruma os ombros e impõe ritmo e energia à forma de caminhar e se comportar.

Para tratar de aparência e elegância, necessariamente, temos que recorrer às normas de etiqueta e boas maneiras. Embora ainda exista muito preconceito, Lívio Callado, especialista no assunto, quebra esse paradigma, ressignificando as normas de etiqueta e boas maneiras como sendo necessárias para deixar que a pessoa saiba se comportar em qualquer ambiente, lidar com os outros, sentindo-se segura, confiante e agindo o mais natural possível. O autor lembra a regra número um do Marketing Pessoal: “Não basta você se achar maravilhoso, as pessoas também precisam achar”.

Espelhados nas orientações do autor, podemos entender que a elegância no vestir para o profissional professor ou professora é um investimento necessário. Para isso, é importante a preocupação com a adequação da roupa com o ambiente de trabalho e sempre se evitar os excessos, como roupas estravagantes, decotes ousados, microssaias, acessórios e maquiagem arrojada. Se a direção da escola optar por uma padronização e escolher “fardamento”, estes deve seguir as mesmas recomendações, somadas a uma boa conservação e troca de modelo sempre que possível, para fazer a diferença. O investimento deverá ser feito em roupas de bom tecido, corte moderno, caimento impecável e cores discretas; orienta o especialista. Quanto aos calçados, o investimento deve ser voltado para o conforto, porém, as professoras devem tomar cuidado com o uso ou não de saltos. Usar sandálias baixas, por melhor que seja a grife, compromete a postura e, conseqüentemente, a elegância. Para complementar o Marketing Pessoal, no tocante à aparência e elegância, o autor recomenda cuidados com os cabelos, indicando um bom corte, higiene com a pele e as unhas, sempre bem cuidadas e, para concluir, o uso de perfume discreto e adequado ao horário e ambiente.

Além da elegância, seu comportamento também faz parte da etiqueta social. Sendo assim, não podemos deixar de lembrar a importância das normas básicas de comportamento à mesa, em sua participação nos eventos, sejam profissionais ou pessoais, como: encontros pedagógicos, congressos, cursos de capacitação. Considerando que a etiqueta social hoje faz parte do currículo, o especialista no assunto recomenda um curso com profissional especializado.

Para tratar do fator comportamento, no Marketing Pessoal, o especialista inicia pela questão “convivência com os colegas de trabalho”. Se, para os profissionais em geral, esse fator é importante; para o professor, passa a ser uma exigência. No dia-a-dia do professor, ensinar aos alunos respeito mútuo, relacionamento transparente e clima harmonioso no ambiente escolar perpassa pela prática desse profissional e funciona como o efeito espelho. Portanto, caro professor, suas atitudes e seus comportamentos, fora e dentro do ambiente escolar, é o próprio ensino. Nesse caso, o autor lembra o uso das palavrinhas mágicas: “por favor”, “com licença” e “obrigado”, antes mesmo das cobranças para com os alunos. Ele ainda ressalta a importância e elegância dos cumprimentos, no dia-a-dia, como desejar um bom dia, um bom fim de semana e, se possível, naturalmente, lembrar os aniversários. Essas atitudes solidificam o relacionamento, promovem bem-estar, geram harmonia no trabalho e fortalecem as equipes.

Complementando as orien-tações sobre as atitudes comportamentais, o autor chama a atenção para a necessidade da leitura. Para ele, esta deve fazer parte do cotidiano do professor. Ler bons livros e revistas dá uma dimensão superior à sua competência. A leitura promove melhor raciocínio, você se expressa com mais facilidade, enriquece seu vocabulário e aprimora sua sensibilidade.

Sem a intenção de esgotar essa questão tão complexa, o autor conclui alertando os profissionais sobre a competência emocional e sua importância nos relacionamentos no ambiente de trabalho. E afirma que quem não é emocionalmente resolvido tem sérias dificuldades de construir relacionamentos. Em sua leitura, a instabilidade emocional transforma você em persona non grata, afastando assim as pessoas que não gostam de estar perto de pessoas negativistas e mal resolvidas. Para ele, a competência emocional deve ser perserguida como se fosse uma pós-graduação. E, para isso, o professor deve buscar ajuda em livros, cursos, filmes e terapias, sentencia o autor.

Para consolidar o entendimento do Marketing Pessoal, retomamos Neto (2001). Por analogia, podemos inferir que o mercado não absorve profissionais apenas por serem eficientes, bons trabalhadores, possuírem capital acadêmico ou experiência prática. Embora, ressalve-se sempre, isso tudo é imprescindível para posicionar-se bem no mercado de trabalho. Este abraça os profissionais que demonstram ser capazes de satisfazer as expectativas pessoais que cada cliente consumidor possui a respeito dos serviços que presta.

Frente a essa leitura, podemos compreender que, mesmo os profissionais de educação, cuja imagem consolidada é a de profissionais dedicados, missionários e, antes de tudo, apaixonados pelo que fazem, passem a se preocupar com seu Marketing Pessoal, para inclusão no mercado de trabalho.

Dentro dessa perspectiva, Reinaldo Passadori (2003) sugere alguns cuidados na busca e estruturação do Marketing Pessoal na profissão do professor:

Faça algo para promover a sua própria imagem, aproveitando as oportunidades que surgirem para mostrar o potencial que tem; quer seja de falar em público, escrever um artigo para um jornal ou uma revista, fazer uma palestra ou tomar decisões para realizar algo desafiante.

Conheça e amplie as suas próprias capacidades, fazendo cursos de especializações ou aperfeiçoamento. Hoje, se faz necessário um conhecimento de inglês e de espanhol e uma constante atualização em informática.

Realize, principalmente em atividades profissionais, aquilo que lhe dá prazer. Estará prestando um grande serviço a você mesmo e aos seus clientes por estar fazendo algo melhor, justamente porque lhe é prazeroso.

Imagine-se no futuro e veja você lá. Imagine-se realizado, com muito sucesso pessoal e profissional e muito feliz. Isso o ajudará a identificar o que precisa fazer hoje para conseguir o que se deseja amanhã.

Viva harmoniosamente com as incertezas e as surpresas. Elas fazem parte do processo da vida. Não se deixe abater por dúvidas, medos ou fraquezas.

Além das orientações acima, Passadori deixa para reflexão: “Procure, acima de tudo, pautar a sua vida por princípios e valores. Lembre-se de que o Marketing Pessoal é apenas um reflexo daquilo que você é, pensa e sente”.

Anita S. M. Pinheiro – Consultora Empresarial, graduada em Psicologia, pós-graduada em Formação de Educadores – UFRPE, Administração e Marketing – UFRPE.
E-mail: anitaspinheiro@terra.com.br

 

Referências Bibliográficas
Revista Vencer . Ano I – nº 6 – março, 2000 – Marketing Pessoal
Sites: http://www.carvalhoneto.com.br/pessoal_01.htm.
Texto adaptado – Marketing Pessoal por Reinaldo Passadori.

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