Edição 123

Espaço pedagógico

O que é ser professor hoje?

Moacir Gadotti

Ser professor hoje é viver intensamente o seu tempo com consciência e sensibilidade. Não se pode imaginar um futuro para a humanidade sem educadores. Estes, numa visão emancipadora, não só transformam a informação em conhecimento e em consciência crítica, mas também formam pessoas. Diante dos falsos pregadores da palavra, dos marqueteiros, eles são os verdadeiros “amantes da sabedoria”, os filósofos de que nos falava Sócrates. Eles fazem fluir o saber — não o dado, a informação, o puro conhecimento —, porque constroem sentido para a vida das pessoas e para a humanidade e buscam, juntos, um mundo mais justo, mais produtivo e mais saudável para todos. Por isso, eles são imprescindíveis.

O poder do professor está tanto na sua capacidade de refletir criticamente sobre a realidade para transformá-la quanto na possibilidade de constituir um coletivo para lutar por uma causa comum. Paulo Freire insistia que a escola transformadora era a “escola de companheirismo”, por isso sua pedagogia é uma pedagogia do diálogo, das trocas, do encontro, das redes solidárias.

Companheiro vem do latim e significa aquele que partilha o pão. Trata-se, portanto, de uma postura radical e, ao mesmo tempo, crítica e solidária. Às vezes, somos apenas críticos e perdemos o afeto dos outros por falta de companheirismo. Como diz Francisco Imbernón, “Para superarmos a crise da escola, primeiramente devemos deixar de falar o óbvio, justificando, assim, não fazer opções ou, o que dá na mesma, atuar como Freire, passando da cultura da queixa para a cultura da transformação” (2000, p. 28).

Uma das expressões mais tristes que escutei certa vez foi a de uma aluna, professora da rede pública, que declarou, depois de fazer uma análise extremamente pessimista da escola onde dava aula: “Diante de tantas dificuldades, eu apenas ligo o piloto automático e vou para a escola”. Dizia que não tinha nenhum ânimo, nenhuma vontade, nenhuma satisfação na profissão e que só estava lá por falta de outra opção.

O professor não se define pela sua função, pelo seu papel, mas pela sua missão. Se ele se considerar apenas como mais uma ruela na máquina educativa, é porque se demitiu como pessoa, como ser humano. Desistiu, matou a criança curiosa que pulsava dentro dele. Não pode mais ensinar. Não haverá superação das condições atuais do magistério sem um profundo sentimento de companheirismo, sem plantar paz e sustentabilidade na escola. Lutando sozinhos, chegaremos apenas à frustração, ao desânimo, à lamúria. Daí o sentido profundamente ético dessa profissão. No fundo, para enfrentar a barbárie neoliberal na educação, vale ainda a tese de Marx de que “o próprio educador deve ser educado”, educado para a construção histórica de um sentido novo de seu papel

GADOTTI, Moacir. A escola e o professor – Paulo Freire e a paixão de ensinar. São Paulo: Publisher Brasil, 2007.

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