Edição 107

Mensagem de vida

Os três devedores

Pedro José Conti

Um homem muito rico tinha também muitos devedores. Estava ficando velho e percebeu que não dava mais tempo para receber de volta o seu dinheiro. Por isso, mandou chamar os que lhe deviam mais e lhes fez esta proposta: “Visto que vocês não vão me pagar as suas dívidas neste mundo, se jurarem solenemente que darão um jeito para me pagar na outra vida, eu queimarei as notas promissórias que assinaram”.

O primeiro devedor lhe devia uma pequena quantia e jurou que na vida futura seria o seu cavalo, assim o levaria para onde quisesse. O velho aceitou e queimou as notas dele. O segundo devedor lhe devia mais dinheiro e jurou que na vida futura seria o seu boi, portanto trabalharia na roça, puxando o arado e as carroças, como todo boi faz. O velho aceitou também essa proposta e queimou as notas dele. O terceiro devedor lhe devia uma quantia enorme e disse: “Para pagar a minha dívida, na vida futura eu serei seu pai”. O velho ficou furioso com o devedor irreverente, que continuou: “Antes de mandar me bater, por favor, deixe-me explicar. A minha dívida é muito grande e não posso pagá-la sendo somente o seu cavalo ou o seu boi. Estou pronto para ser o seu pai. Dessa maneira trabalharei dia e noite para você; vou protegê-lo quando for pequeno e o vigiarei até quando crescer. Arriscarei a vida e enfrentarei qualquer sacrifício para não lhe faltar nada. Enfim, quando morrer, deixarei para você todas as riquezas que tiver conseguido juntar. Não acha que tudo isso vale muito mais do que ser simplesmente o seu boi ou o seu cavalo?”.

O evangelho de Mateus nos fala de uma mulher, estrangeira e pagã, que insiste com Jesus para que cure a filha dela (cf. Mt 15, 21-28). Apesar de não ser tão bem tratada no começo, o próprio Jesus reconhece, depois, a fé da mulher cananeia. Ela foi corajosa e, podemos dizer, ousada, superando exclusões e preconceitos. Somos surpreendidos pela insistência dela e também pela clareza da sua fé em Jesus: é somente a ele que pede com humildade e paciência. Não é uma fé genérica ou vazia: ela confia em Jesus e o chama sempre de Senhor! Além disso, não pede nada para si, mas, sim, a libertação de sua filha do demônio que a atormentava.27

Imediatamente pensamos em tantos pais e mães que não medem esforços para conquistar a saúde e o bem-estar dos seus filhos, os quais nem sempre sabem agradecer. Pensam que, afinal, os pais têm obrigação de lhes dar tudo, como se fosse uma dívida a ser paga simplesmente por tê-los colocado no mundo. Também existem pais que, por conta das suas muitas responsabilidades, pensam do mesmo jeito: criar filhos é quase como pagar prestações que nunca acabam.

Todos nós, hoje, somos tentados a reduzir as chamadas obrigações entre pais e filhos a algo quase exclusivamente material, como se o dinheiro e as coisas resolvessem tudo e conseguissem substituir as simples relações humanas. Se fosse assim, os pais mais ricos seriam os melhores educadores, e o contrário valeria para os pais mais pobres. Nada disso. Se os bens trazem conforto e ajudam, nunca podem, porém, oferecer o carinho, o afeto e, muito mais, a experiência da generosidade e da gratuidade que sempre revela o verdadeiro amor. Por isso, os pais, muitas vezes, sacrificam-se pelos filhos, não para pagar uma dívida, mas porque os amam e querem que eles aprendam a amar e a se doar.

Cabe aos filhos, também, encontrar formas simples de gratidão. Pode ser o beijo da criança pequena; pode ser ainda a busca do diálogo do adolescente e do jovem com os seus pais, porque, quando um rapaz ou uma moça procuram os seus pais para conversar, estão lhes dizendo — sem precisar de grandes explicações — que confiam neles, que lhes dão valor e que precisam do seu apoio e da sua amizade. Isso é gratidão, é amor. Procurar os pais somente para pedir que paguem as contas é reduzi-los a criaturas utilitárias, como o cavalo ou o boi da historinha.

Por mais defeitos que tenham, os pais precisam também de incentivos para cumprir mais plenamente a sua difícil missão. Se conseguirem encontrar algum tempo para os seus filhos, ganharão o afeto e a gratidão deles. Não será mais necessário comprá-los. Ter filhos será uma alegria, e não somente uma conta a pagar.

CONTI, Pedro José. A verdade que liberta – contos e parábolas para compreender melhor o Evangelho. São Paulo: Paulinas, 2014, p. 225-227.

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