Edição 11

Ambiente-se

Projeto Ponte a ponte

Um projeto, cuja nascente de idéias fluiu de alunos e professores, que seguiu, ao longo de seu curso, objetivos e metas conscientemente definidas, deságuam em afluentes alimentados por ações, movimentos, criações e propostas para um leito com perspectivas de infinitas realizações.

Estamos tratando do projeto Ponte a Ponte, desenvolvido pelo Instituto Capibaribe sob a coordenação dos educadores: Ana Tereza Heráclio Ferreira (Ciências), Lêda Maria Telles Tavares de Lima (Matemática), Maria Júlia Verget de Menezes (História) e Eduardo Sidney Simões de Oliveira (Geografia), conta ainda com a participação dos alunos do ensino Fundamental.

Por sua grandeza e importância, convidamos todos a navegar nessa corrente límpida de atitudes éticas com a natureza e repletas de cidadania.

O projeto Ponte a Ponte nasceu de uma proposta dos Institutos Capibaribe e Helena Lubienska, quando houve a apresentação do estudo sobre os aspectos geográficos do rio Capibaribe e sua importância para o Recife, no programa Recidade – Cidade Cidadão.

Durante o trabalho, alunos e professores, tomaram conhecimento da péssima situação do rio, comparando seu estado ontem com hoje através de levantamento de fotos e gravuras antigas que comprovou a necessidade de conservação. Esta tomada de consciência fez fluir uma corrente de idéias para revitalizar o rio, que criou uma abundante fonte chamada: projeto Ponte a Ponte.

Em seu curso, tem o objetivo geral de revitalizar a margem do rio Capibaribe no trecho compreendido entre as pontes da Capunga e da Torre. Para atingir essa meta, seus idealizadores traçaram uma rota de objetivos específicos que levam a caminhos diversificados:

Integrar alunos, pais, professores, funcionários da escola na efetivação do projeto, além da população adjacente;
Sensibilizar as pessoas para promoção da cidadania e relacionamento cooperativo;
Compreender a Geografia e História do trecho determinado;
Estudar a fauna e a flora do rio Capibaribe;
Fazer levantamento dos esgotos da área citada e outros tipos de poluição;
Sensibilizar a população quanto à importância da limpeza da margem e do rio;
e Retirar o lixo local.

Definidos os rumos, sensibilizados pelo mau trato e desrespeito com o rio e informados que 30% da área do Recife é de águas com dezenas de pontes, os coordenadores do projeto perceberam que se não gritassem pela saúde do rio a nossa cidadania estava comprometida. Com este olhar, alunos e professores traçam uma rota. Iniciaram por manifestações escritas, que não só justificam o projeto, mas, e principalmente, nortearam uma gama de ações e propostas que margeiam todo o curso das realizações. Assim, textos foram criados.

Ser recifense é ser Capibaribe!

“Nossa escolha, nossa luta, nossa cidadania a ele estão ligadas porque, no Recife, o rio se imporá eternamente à sua característica, quer na urbanização, quer nos costumes, na alimentação, nos mangues, nas pontes. Tudo transpira o nosso rio. Esse teu povo sempre namorou contigo. Quem se sente recifense já olhou as tuas águas, as tuas margens e as amou. Amamos hoje o nosso rio e quando o objeto do nosso amor está fragilizado não merece maiores cuidados, mais atenção?”
“Capibaribe, a ti pedimos desculpas porque te maltratamos tanto: aterros, braços teus amputados frutos do teu amor morto, matando o teu ecossistema. Poluíram tuas águas. Dragagens roubam tuas areias. Retiradas tuas entranhas, mais vidas são mortas. Engraçado é que as tuas areias estão servindo à construção de edifícios e muitos são construídos nos lugares onde, um dia, foi o teu leito. Edifícios que, além de te roubarem o espaço, ousam, seus moradores, despejar seus dejetos. Esgotos domésticos e industriais te poluem. Capibaribe é um nome caro aos nossos corações nosso rio, nossa escola, duas doces afeições.”

O projeto ganhou a criação de um folder contendo a primeira proposta de operacionalização das atividades: “Agora adote uma margem” – é preciso ter consciência de que a margem do rio é um bem público, com isso em mente, propuseram a revitalização dos manguezais sem privatizá-los, como conseqüência, melhoria das condições da população ribeirinha e da qualidade de vida, por causa dos alimentos retirados do mangue e favorecimento à desova, acasalamento e abrigo de muitos peixes, crustáceos e moluscos, que precisam dos estuários como fonte de ciclo de vida. Essa meta foi atingida em parte, através da limpeza das margens do rio e hoje já existem alguns esgotos tratados.

Ocorreram ainda outras realizações no curso do projeto, contemplando os seguintes trabalhos:

Conscientização porta a porta dos moradores do bairro;
Contato com a vizinhança do Instituto Capibaribe;
Brigada ecológica com passeata divulgada em carro de som e outdoor;
e Estudo dos bairros locais enfocando o histórico do espaço, levantamento fotográfico e desenhos para análise das possibilidades e alternativas a serem propostas.

Estas realizações consubstanciaram duas culminâncias do projeto consideradas marcos para uma nova dimensão: a participação dos alunos na VII Ciência Jovem, conquistando o prêmio Paulo Figueiredo, e a participação no 1º Seminário SOS Capibaribe, com a presença do Prefeito de Recife, Secretários e outras autoridades.

Neste seminário, a prefeitura aprovou o projeto com propostas de preservação do Capibaribe, que contempla a construção de um espaço de convivência e debates na margem do rio. Para este espaço, foram estruturadas ações que englobam:

Construção de um espaço, o Areópago Capibaribe, para reunião, reflexão,
troca de experiências e discussão de ações em defesa de rios;
Tratamento de todo esgoto das margens e a instalação de placa para
contagem regressiva a cada esgoto tratado;
Montagem de um painel com informações sobre o rio Capibaribe;
Urbanização do espaço para o aproveitamento coletivo com brinquedos, bancos e mesas;
e Disponibilizar depósitos de lixo para reciclagem.

Como a água, o projeto passou a assumir diferentes espaços e desaguou, em 2002, outras propostas, consolidadas na audiência pública sobre o rio Capibaribe na Câmara Municipal do Recife, defendidas pelo Instituto Capibaribe juntamente com cinco escolas, num clamor que pretende ser “a voz e a vez de quem não tem voz”, são elas:

GUARDIÃO DAS ÁGUAS
Criação de mascote, símbolo que fosse visto no meio do rio;

RAÍZES
Replantio das matas ciliares;

A FORÇA DA MÃE D’ÁGUA
Desenvolver sementeiras nas escolas;

MESMA MESA
Organizar dois seminários anuais sobre o rio;

GARIPIVARAS
Garis das margens do rio, que fariam a limpeza das margens;

HOJE TEM ESPETÁCULO
Nas margens e nas pontes do rio, apresentação de espetáculos voltados para a necessidade de sua preservação e sensibilizardo as pessoas para isso;

BOCA DE FORNO
Suspensão das construções de prédios que sufocam a ventilação no leito do rio.

Mergulhando fundo, o Instituto Capibaribe iniciou o ano de 2003 com a apresentação da peça de teatro “O sonho será real, depende de nós”, que retrata o sonho de uma jovem que, lendo nos jornais notícias sobre a realização das propostas, quando acorda, passa a acreditar que só depende de cada um a modificação das coisas.
Durante todo seu curso, os participantes do projeto, aprofundaram sua consciência ecológica e cidadã. Avançando para novas metas que revitalizam ações para este ano:

Publicar o jornal Guardião das Águas;
Realizar visita à nascente do rio;
Produzir um curta sobre o rio;
Pedir apoio a empresas para que se responsabilizem pelas margens,
iniciando o trabalho pelos hospitais ribeirinhos;
Criar o site Ponte a Ponte;
Criticar e divulgar amplamente quando houver desrespeito ao rio Capibaribe; e
Organizar um movimento, por meio de abaixo-assinado, para que os rios,
que são bens públicos, não sejam privatizados e sim, vitalizados.

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