Edição 15

Espaço pedagógico

Projeto VEM LER NA PRAÇA

Despertar o gosto pela leitura, valorizando a literatura em suas diferentes formas de expressão e promovendo a cidadania. Esse é o objetivo principal do projeto Vem Ler na Praça, criado em 1999 por um grupo de educadoras, artistas locais, escritores de livros infantis e empresários da cidade de Olinda-PE. Articulando leitura, cultura e lazer, o Vem Ler na Praça surgiu do desejo de organizar um projeto que resgatasse o prazer de ler e ouvir histórias, uma vez que esse tipo de iniciativa não vinha acontecendo na cidade de Olinda ou apenas ocorria de forma tímida e restrita aos interiores das salas de aula de algumas escolas. Somado a isso, pensava-se em mobilizar a comunidade em prol de uma maior integração escola e comunidade, já que ambas se encontram inseridas num mesmo lugar. Assim, o grupo reuniu-se em torno dessa idéia de promover uma atividade cultural que colocasse as crianças em contato com os livros e que possibilitasse também desmitificar a figura do autor de livro, concebida muitas vezes, de forma errônea, como algo do passado, que não existe mais.

Surgiu então o projeto Vem Ler na Praça, tendo à sua frente a Escola Gostar de Aprender, representada pelas educadoras Celeste Santos, Katiana Ribeiro e Horasa Andrade; e os autores de livros infantis José Airton e Socorro Miranda. Na ocasião, essas lideranças buscaram o apoio de pessoas e empresas que viessem a viabilizar o projeto e conseguiram a adesão e o incentivo de importantes setores de comunicação do Estado, como os jornais Folha de Pernambuco, Jornal do Commercio e a Pretexto Comunicação. Receberam o apoio, também, das editoras Bagaço, Ática e Scipione, das livrarias Modelo e da Prazer de Ler, além da colaboração dos comerciantes locais, sempre empolgados em apoiar o projeto.

Como forma de resgatar a cidadania e promover a inclusão social, pensou-se que o projeto, promovido por uma escola particular, no caso a Gostar de Aprender, deveria extrapolar os muros da instituição, ir além da sala de aula e integrar-se à comunidade. Para concretizar essa intenção, favoreceram-se atividades de leitura, através de uma vivência lúdica e participativa, nas quais as crianças da Gostar de Aprender (particular) puderam, numa praça, considerada espaço comum de convivência, partilhar momentos de leitura de histórias e de atividades culturais e recreativas com outras crianças, de escolas públicas.

Participaram também desses momentos outras crianças da comunidade, algumas delas, inclusive, não-freqüentadoras de escolas. As escolas públicas que já participaram desse projeto foram a Escola Dom João Costa, a Professor Paulo Freire e a Lions Dirceu Veloso. Como o Vem Ler na Praça está se firmando em seus propósitos, além de obter o reconhecimento da população local, o respaldo dos meios de comunicação e o incentivo de algumas empresas, a organização do projeto é procurada freqüentemente para que amplie a participação para outras escolas. Neste ano, haverá a inclusão da escola pública Dom João Crisóstomo.

Horasa Andrade faz questão de ressaltar que o projeto Vem Ler na Praça acontece todos os anos e, desde que foi criado, realiza diversas atividades, dentro e fora do ambiente escolar, nos meses de agosto a outubro, tendo como culminância, no último mês, um evento na Praça Norma Coelho, em Bairro Novo, Olinda. “A cada ano se elege um tema que norteia as propostas de atividades que serão realizadas com os participantes, partindo do princípio de que a literatura é um instrumento que possibilita ao homem alimentar um sonho e formar uma nova visão de mundo”, explicou. E foi assim que já se investigou o ambiente por meio da literatura e da poesia do pernambucano Ascenso Ferreira. Neste ano, a temática será A Paz do Mundo, havendo, inclusive, a divulgação de uma coletânea de textos produzidos pelas crianças participantes do projeto.

Nos seus cinco anos de realização, o Vem Ler na Praça proporciona o saudável contato das crianças com livros e autores, além de promover atividades que incentivam o hábito de uma boa leitura, seja dentro ou fora da sala de aula. Ouvir e ler histórias na praça; conversar com autores e autoras infantis como Lenice Gomes, Socorro Miranda e Edmilson Lima; organizar campanhas de doação de livros para as bibliotecas públicas; apreciar a declamação de poesias de Ascenso Ferreira; dançar ao som das músicas e da poesia dos autores José Airton e Myriam Brindeiro; assistir à apresentação de grupos de dança e de teatro; participar de oficinas artístico-literárias são exemplos de algumas das atividades que foram proporcionadas pelo projeto e bastante apreciadas pelos participantes. Dessa forma, a realização do Vem Ler na Praça realmente proporciona cultura, integração, conhecimento e lazer a crianças e adultos das escolas envolvidas e da comunidade, favorecendo, indiscutivelmente, a cidadania e a inclusão social.

PROJETO VEM LER NA PRAÇA

Melhores Momentos — Atividades Interessantes:

Autores (Lenice Gomes, Socorro Miranda, Edmilson Lima) fazem Hora do Conto com a criançada.
Adriano Cabral declama poesias de Ascenso Ferreira para o público.

José Airton e Myriam Brindeiro, autores de livros infantis, cantam cantigas de roda e outras músicas infantis.

Crianças de escolas públicas e da Gostar de Aprender fazem apresentações umas para as outras com base no livro que leram.

Professora vestida de “vovó” conta histórias e fornece livros para as crianças lerem na praça.
Histórias lidas pelos alunos são recontadas no teatro de fantoches.

DESMITIFICANDO A FIGURA DO AUTOR

Já imaginou a cena: você entra na sala e se depara com a autora do livro que a professora leu, ela está lá, vivinha, em carne e osso… e você olha para a foto dela no final do livro e diz: “É Socorro Miranda, ela tá aqui”.

Foi isso que um aluno do Infantil I comentou ao ver a autora do livro A Burrinha Manhosa, que estava em suas mãos…

Era verdade! A autora não só estava lá, como também conversou com as crianças, contou histórias de outros livros seus, falou um pouco de sua vida e até mostrou o primeiro livro que levou para a editora. Aproveitou a oportunidade para brincar com fantoche e fez oficina de dobradura sobre os personagens do seu livro que trata do folclore: Brincando, Cantando e Encantando.

Realmente não dá para esquecer um momento como esse. Socorro Miranda é autora de livros infantis pela Bagaço. Os professores aproveitaram a oportunidade para ler outros livros dela, escrever sua biografia, criar personagens na aula de sucata e organizar teatro com as crianças.

SITUANDO O PAPEL DA LEITURA

Quem não já ouviu falar que o livro é “um gênero de primeira necessidade”? É assim que Ziraldo busca convencer a todos sobre o papel e a importância da leitura, pois é praticamente impossível viver no mundo sem ler. Desde cedo, lemos e interpretamos o que está à nossa volta. Lemos o mundo, percebemos e interpretamos imagens e códigos… começamos a entrar num mundo “letrado”. E é nesse universo “letrado” que as palavras adquirem vários sentidos e várias conotações. A prática da leitura nos dias atuais está relacionada diretamente à cidadania; por isso, precisamos ler as palavras e também o que está além das palavras… Precisamos ler para conhecer os assuntos/temas, para nos manter atualizados, obter informações ou, como dizem os apaixonados pela literatura: “Para nos deleitarmos no prazer que a leitura proporciona”.

Não podemos dizer que os esforços que vêm sendo feitos para formar leitores nas escolas não estão surtindo efeito, pois, tanto na esfera pública quanto na privada, vêm sendo desenvolvidos programas e projetos de incentivo à leitura, muitos deles, inclusive, obtendo bons desempenhos, principalmente por levar a literatura infantil e infanto-juvenil para diferentes locais e pessoas, proporcionando práticas inclusivas e garantindo acesso ao saber/conhecimento.

A criança tem uma curiosidade que lhe é peculiar, uma grande fascinação pela aventura e um interesse próprio em ouvir e em contar histórias. E nada melhor do que um bom livro para despertar sonhos, sentimentos e todo um potencial criativo.

A história ouvida ou contada pelas crianças ganha um contexto próprio e especial, e o fascínio delas por ouvir e folhear os livros é algo impressionante. Não é à toa, portanto, que o mercado de livros dedicado ao público infantil vem crescendo muito nos últimos tempos.

A leitura, além de proporcionar a cidadania, é uma fonte de lazer e de cultura imprescindível às pessoas. Poder-se-ia dizer até que todo professor, independentemente da área em que ensine, deveria ler com seus alunos pelo menos três livros durante o ano. No Brasil, temos uma farta oferta de bons livros e excelentes autores que escrevem ou escreveram para o público infantil, como Ziraldo, Ruth Rocha, Eva Furnari, Ana Maria Machado, Sylvia Orthof, Cecília Meirelles, Pedro Bandeira, José Paulo Paes e Roseana Murray, além de autores de nossa região, como Marcus Accioly, José Airton, Socorro Miranda, Lenice Gomes, Edmilson Lima, Myriam Brindeiro e outros.

E por falar em bons livros e autores, não podemos esquecer de desenvolver com nossos alunos situações significativas de aprendizagem explorando a literatura de Monteiro Lobato, que, com seus personagens do Sítio do Picapau Amarelo, eternizou o “ser criança”.

DICAS PARA O PROFESSOR

Ao ler um livro com seus alunos, explore o autor e sua biografia, mas não deixe de chamar a atenção também para quem ilustrou a história.

Ao vivenciar um projeto ou tema específico, selecione livros que tenham relação com o que você está trabalhando.

Leve para a sala de aula outros livros do autor que você esteja trabalhando com os seus alunos.
Pesquise e leve para seus alunos entrevistas ou outros artigos de jornais sobre o autor em foco. Se possível, pesquise na Internet.

Nos clássicos da Literatura, principalmente nos contos de fada, explore as diferentes versões para uma mesma história.

Leia sempre e procure levar para sua classe diferentes gêneros e tipos de leitura.
Estabeleça relações entre os livros que estão sendo lidos e outras situações cotidianas: uma música, um filme, um fato acontecido…

Explore os livros em diferentes áreas, e não apenas em Língua Portuguesa.

COMO TUDO COMEÇOU… “NOSSA PAIXÃO PELA LEITURA”

Refletindo sobre a importância da leitura, as diretoras da Escola Gostar de Aprender perceberam que ler e ouvir histórias de diferentes gêneros deveriam ser uma prática rotineira. A partir dessa percepção, a exploração da literatura na Gostar de Aprender passou a acontecer diariamente, e os temas que seriam explorados sempre se iniciavam a partir de um livro de história. Nesse período, também a literatura infantil passou a subsidiar os projetos de trabalho de cada classe, sendo comum a seleção das histórias e de diferentes textos para serem usados nas situações de aprendizagem planejadas.

Além das crianças se sentirem mais motivadas, as salas de aula se tornaram “laboratórios a todo vapor”, onde aconteciam experiências riquíssimas de incentivo à leitura e apreciação da literatura em suas diferentes formas de expressão. As crianças passaram a levar livros emprestados para que seus pais lessem para elas. A professora do Infantil, Mabel Cristina Silva, comentou: “Acho uma atividade bastante interessante o empréstimo de livros… Quando a criança volta para a escola, comenta a leitura que a família fez com ela”.

Nas situações que iam sendo vivenciadas, as professoras diziam que era preciso “ouvir, ouvindo”; “ler, lendo”; e “sentir, sentindo”, e, assim, muitos momentos interessantes foram acontecendo, e algumas práticas se consolidaram como prioritárias num programa de incentivo à leitura e ao desenvolvimento do gosto literário na Escola. Era comum ouvir os alunos dizendo na sala: “Ah, eu sei outro livro de Ana Maria Machado… aquele do tatu”. Outro dizia: “Ela tem o da centopéia e o do índio Poti”.

Foram nas experiências desenvolvidas que surgiram a Sala de Leitura, o Conversando com o Autor, a Biblioteca em Sala de Aula, o Ateliê (no qual se teatralizam as histórias) e o projeto Vem Ler na Praça.

Vale ressaltar que todo esse processo foi respaldado também pela busca de referenciais teóricos para subsidiar a prática. Assim, a equipe pedagógica da Escola participou de cursos na Fafire e na UFPE e do Biblioteca Viva, promovido pelo Centro de Pesquisa em Psicanálise e Linguagem. A equipe também leu livros e revistas que traziam idéias e referenciais teóricos de Esther Grossi, Ana Teberosky, Emília Ferreiro, César Coll, entre outros.

Nesse período, ocorreram estudos com profissionais que atuam nessa área e que foram convidados para fazer uma atualização pedagógica com os professores na Escola. Tudo o que aconteceu foi determinante para que as professoras adotassem atitudes essenciais para que os projetos/programas tivessem a leitura como alvo: a troca de experiência entre os professores, a leitura dos livros de literatura infantil que existem no acervo da Escola e a busca de referenciais teóricos que subsidiem a prática.

“É impressionante o resultado conseguido quando os professores assumiram essas atitudes. Sentimos, na Gostar de Aprender, que a equipe pedagógica ficou muito entusiasmada, o que se refletiu diretamente no sucesso das situações de aprendizagem vividas com as crianças”, comenta Celeste Santos, diretora da Escola Gostar de Aprender.

E como escreveu Ziraldo:

“Livro é para levar para casa.
É pra criança ler com a mamãe,
o papai, a vovó, a família toda!
É um objeto para ser amado
pela criança. Pra ela
dormir abraçada,
escrever seu nome nele,
colorir suas figuras, usufruí-lo.
Deixe a criança VIVER com o livro!”

ESTAMOS FAZENDO E ESTÁ DANDO CERTO! FAÇA TAMBÉM!

Na volta das férias, os alunos são recepcionados com os novos livros adquiridos.

A cada mês, na sala de leitura, um autor recebe um destaque especial, e os livros dele ficam expostos para a criançada manusear. E para motivar ainda mais a garotada, uma turma escreve a biografia do autor escolhido.

Os livros confeccionados pelos alunos também fazem parte do acervo da sala de leitura.
Há um ateliê permanente na Escola, com diversos objetos e roupas, que proporcionam a criação de diferentes personagens que favorecem o “mundo da imaginação” das crianças.

Alunos, desde o Maternal, são incentivados a levar livros emprestados para serem lidos em casa (Obs.: Fazemos uma reunião com os pais e os orientamos para que leiam para os filhos).

Maiores informações: Escola Gostar de Aprender Tel.: (81) 3429-8698

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