Edição 25
Espaço pedagógico
Projeto Vivenciando a cidadania
ALUNOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL E DO ENSINO FUNDAMENTAL DA ESCOLA NIETA TABOSA VÃO ÀS URNAS
Introdução
Nas séries iniciais dos Ensinos Infantil e Fundamental, a experimentação e a vivência são de suma importância para que os alunos construam saberes e sua própria identidade. Isso significa fazer a própria história.
Para que a história de cada um seja construída por si mesmo, é preciso ser desencadeado, na escola, um trabalho significativo que oportunize ao aluno a experiência e a situação concreta, num conjunto de atividades que possibilitem a compreensão das semelhanças e diferenças, as permanências e as transformações no modo de vida social, cultural, político e econômico de sua região, de sua comunidade.
A melhor estratégia para a realização desse tipo de trabalho é a utilização de projeto. Essa modalidade de articulação dos conhecimentos escolares apresenta-se como uma das melhores maneiras de organizar as atividades de modo flexível.
A pedagogia de projetos permite viver numa escola alicerçada na realidade, aberta às diferentes relações com o mundo exterior. Segundo Jolibert e outros, essa prática permite uma série de ações que geram a atividade dos alunos, tais como: não depender mais apenas das escolhas do adulto; viver a experiência positiva do confronto com os outros e da solidariedade; decidir e comprometer-se após a escolha; projetar-se no tempo através do planejamento de suas ações e de seus aprendizados; assumir responsabilidades; ser agente de seus aprendizados, produzindo algo que tenha um sentido e uma unidade.
Esse projeto aborda de forma real a importância das eleições, na visão da Escola Nieta Tabosa, e desperta em seu público-alvo (seus alunos) o exercício da cidadania, reafirmado pelo voto, instrumento de valor único na prática da democracia.
Justificativa
No período das eleições, percebemos uma grande mobilização discente pelo assunto e decidimos, então, utilizar essa temática para dar oportunidade aos nossos alunos de desenvolverem algumas habilidades que consideramos importantes para o seu crescimento pessoal e cultural, como a construção da escrita, a leitura de seus planos de governo, a participação crítica, a autonomia e a autoria de suas aprendizagens.
Usamos como estratégia um projeto que iniciamos com os alunos da Alfabetização e do Ensino Fundamental denominado Vivenciando a Cidadania: os alunos do Infantil e Fundamental da Escola Nieta Tabosa vão às urnas, durante o mês de setembro de 2004.
Objetivos
Mobilizar os alunos e conscientizá-los da necessidade de votar como exercício da cidadania.
Mobilizar o aluno à participação no processo eleitoral.
Promover momentos de discussão de idéias.
Estimular a procura de informações para seu plano de governo.
Possibilitar uma vivência real da cidadania, mostrando aos pais como é possível o desenvolvimento de um processo eleitoral em que o importante seja sua proposta de governo e condenando veementemente a venda do voto, a propaganda enganosa e o desrespeito ao ser humano nos comícios e nas músicas de campanha.
Desenvolvimento
As atividades propostas para o alcance de tais objetivos, descritas a seguir, ocorreram no período de 25 dias, aproximadamente.
Inicialmente, fomos ao cartório eleitoral de nossa cidade, expusemos nossa idéia à juíza eleitoral, que concordou plenamente, nos cedendo, a título de empréstimo, a urna eletrônica usada para treinamento junto aos eleitores do município.
O Sr. Itamar Gomes de Medeiros, do cartório eleitoral, nos explicou que usaríamos o mesmo programa instalado na urna para treinamento dos eleitores e que nossos alunos seriam representantes vivos de personalidades que fizeram história nas artes, na literatura, na música, na televisão, etc.
Numa segunda etapa, alunos da 1ª à 4ª série do Ensino Fundamental menor, juntamente com seus professores, escolheram representantes para prefeito, vice-prefeito e vereadores, tendo sido feita, imediatamente, a distribuição dos números para os supracitados candidatos.
Matérias de propaganda política, panfletos e faixas foram trazidos para a escola pelos alunos e pais.
Dois candidatos trouxeram pirulitos e bombons para serem distribuídos com seus eleitores, no sentido de ganharem seu voto através dessas doações. Foi um bom momento para reflexão e conversa com esses alunos, mostrando que, infelizmente, essa realidade existe lá fora, mas não devemos alimentá-la como exercício de cidadania. Precisamos criar novos valores com relação a esse tipo de “comércio político”.
A fim de promover um debate entre os alunos representantes dos candidatos, realizamos atividades de síntese dos principais pontos que cada um defenderia em sua campanha eleitoral.
Será realizado um comício no pátio, quando grupos de alunos simpatizantes transitarão pela escola com bandeiras e panfletos dos candidatos envolvidos na eleição.
Conversamos com os alunos sobre como acontecia o momento da votação, onde ocorria e quais as pessoas responsáveis pelo seu andamento. Explicamos, também, que cabe ao Tribunal Regional Eleitoral a escolha e a convocação dos mesários, por meio de correspondência que, quando chega ao destinatário, precisa ser assinada. Discutimos sobre a função das pessoas integrantes da mesa e a importância de sua responsabilidade e de seu comprometimento com a tarefa no dia da eleição e, a partir disso, os alunos poderão fazer sua escolha. Os mesários serão escolhidos junto ao Ensino Fundamental maior, alguns dias antes das eleições.
Foram confeccionados títulos de eleitores, listas com nome dos votantes, espaços para assinatura e canhotos de comprovante de votação no computador.
Em outra etapa, processar-se-á a eleição, em que haverá a votação para a escolha do(a) prefeito(a) e dos(as) vereadores(as).
Por fim, serão apurados e divulgados os resultados da eleição.
Conclusão
Temos certeza de que plantamos algumas sementes de cidadania nessas crianças. O incentivo à participação foi dado. No entanto, não basta que projetos dessa natureza sejam realizados de forma solitária e sem continuidade. É preciso que tomemos consciência da importância de promovermos momentos e movimentos de participação e discussão, em todos os níveis ou séries. Todos os alunos são capazes, basta que façamos a adequação do tema ao nível de cada turma.
Mesmo alunos que ainda não conseguiam ler participavam das atividades que envolviam essa habilidade, com o auxílio dos pais, de colegas e dos professores. Com esse projeto, perceberam que ler, escrever e compreender faz parte do nosso dia-a-dia. Aprenderam que podemos:
Ler imagens, gestos, palavras, frases, textos, músicas, números e gráficos.
Registrar idéias, sentimentos, reivindicações e aprendizagens de diferentes formas.
Ter opiniões diferentes e, mesmo assim, respeitar os colegas.
Escutar o que os outros têm a dizer.
Refletir sobre o que foi escutado, lido e debatido.
No início do projeto, tínhamos receio de como os pais receberiam essa proposta, mas, no decorrer do trabalho, contamos com o auxílio e a participação de grande parte deles. Como eram solicitados pelos filhos para auxiliarem nas tarefas de casa, houve maior aproximação das famílias com a vida escolar de suas crianças.
Aprendemos com nossos alunos que podemos elaborar projetos que desafiem a todos na construção do conhecimento.
Bibliografia
MICHALANY, Douglas. Novo curso de Estudos Sociais. Edições Michalany. São Paulo, 1987.
Almanaque Abril – 1999.
JOLIBERT, J. et al. Formando crianças leitoras. Artes Médicas. Porto Alegre, 1994.
Revista do professor – abril a junho de 2004, ano XX. Nº 78.