Edição 131

Como mãe, como educadora, como cidadã

Que pais queremos ser para nossos filhos?

Zeneide Silva

“Ser pai ou mãe é uma das tarefas mais difíceis do planeta. Comparativamente, a engenharia espacial é moleza. Gerenciar uma grande empresa com centenas de funcionários? Café pequeno. Participar de uma maratona? Nem se compara. Ser pai ou mãe exige muito mais. Seu cérebro ficará sobrecarregado, e você será pressionado até o limite de sua capacidade, até quase o limite de sua resistência física. Mas que jornada!”

Bruce e Stan


Tenho que trabalhar para dar uma educação boa para nossos filhos.


Eles não atendem quando falo, não escutam.


Passam mais tempo no celular.


“Não quero.”


“Não gosto.”


Eu teria que ser mais firme com o que comem, porém não consigo…

 

Frases como essas e muitas outras podem ser ouvidas em conversas de amigos em relação à educação de seus filhos.

Alguns anos atrás, poucas mulheres trabalhavam ou estudavam, a jornada de trabalho era curta, a violência e o perigo nas cidades eram menores. Os pais tinham mais tempo para estar com seus filhos, viviam em sociedades mais harmônicas e com menos mudanças. Era um mundo muito diferente, nem melhor nem pior… diferente.

É muito gratificante saber e ver que muitas mulheres chegaram às universidades e ao mercado de trabalho fazendo uma grande diferença. Vemos hoje as mulheres dividindo seus espaços com os homens, e isso é muito bom. Porém, todos esses avanços trouxeram algumas dificuldades em relação à educação das crianças.

Por falta de tempo para se dedicar à educação dos filhos, muitas vezes os pais se sentem culpados e, com isso, superprotegem-nos, criando, como aponta o escritor e psicólogo Leo Fraiman, crianças imperatrizes, que recebem uma ordem e simplesmente reagem dizendo “Eu não vou fazer”. Elas se colocam como o centro do mundo e não respeitam os limites. Não estou culpando as mães que trabalham fora e lutam por seus direitos, que devem ser respeitados, mas não podemos negligenciar a criação dos nossos filhos. Estamos os criando para o mundo, e eles precisam entender que tudo na vida exige limite e respeito.

Para ilustrar o texto, lembrei-me desta lenda, que nos faz refletir sobre quais exemplos estamos sendo para nossos filhos:

Certa vez, uma jovem indiana decidiu que seria importante seu filho parar de comer açúcar. Ela falou ao filho para deixar de consumir o produto, mas a criança adorava açúcar e não o dispensava.A mãe procurou Mahatma Gandhi e contou seu desafio, pedindo que ele falasse ao filho. Gandhi, contudo, pediu-lhe um prazo de 15 dias. Decorrido o tempo, ela deveria retornar com o filho até ele.

Chegou o dia, e ela levou o filho até a presença do idealizador, que se demorou falando com o garoto. A mulher, assim que pôde, perguntou a Gandhi porque ele a fez esperar tantos dias, para só depois conversar com a criança.

“É muito simples”, respondeu Gandhi. “Há quinze dias, eu também consumia açúcar e precisava do prazo para abandonar o hábito, pois, se não o fizesse, não teria autoridade moral para lhe pedir que o evitasse.”

 

A formação dos filhos depende das informações que eles recebem diariamente do ambiente que os cerca. Isso significa que as crianças crescem e se desenvolvem por espelhamento, aprendendo com o que observam do comportamento dos seus pais e responsáveis.

Qual será o problema dessa tensão muito presente na formação de nossos filhos? Será que acabamos por nos tornar pais superficiais, pouco convincentes, cheios de dúvidas, medrosos e pouco claros?

Para as crianças, é muito difícil crescer com pais que sempre discutem, duvidam, confundem-se, pois essas inseguranças as deixam com poucas referências concretas.

As crianças amam seus pais, e essa relação é incondicional, não depende de avaliações. O problema é quando os pais não conseguem ser uma referência, uma autoridade, um guia e, principalmente, espelho de verdade para elas.

Gandhi falou: “Sejamos a transformação que desejamos para o mundo”. Então, devemos começar por nós mesmos, sendo coerentes com aquilo que queremos viver com nossos filhos, pois somos os maiores influenciadores na formação do caráter deles; depois, vêm os professores, que irão reforçar as influências positivas, o desenvolvimento emocional, o que fará a diferença na qualidade de viver de nossas crianças.

Portanto, se quisermos construir um mundo melhor, nós, pais e professores, precisamos desenvolver em nós mesmos habilidades, valores e atitudes que possibilitem essa conquista.

Só podemos influenciar verdadeiramente pelo exemplo. Isso possibilitará uma educação integral que prepara realmente o aluno para uma vida mais saudável, ética, bem-sucedida e feliz, pois só assim construiremos uma sociedade mais ética e um mundo melhor.

1. Crianças não aprendem ouvindo discursos. Elas observam e imitam os adultos.
Dr. Ruy Pupo Filho

 

2. Os pais precisam estar atentos e apoiar os filhos quando precisarem de ajuda, mostrando que o seu amor é incondicional.
Paulo Vieira

 

3. Culpa, falta de tempo, insegurança, medo, ansiedade, enfim, muitas coisas que envolvem diversas situações do dia a dia dos pais acabam por dificultar a implementação de práticas saudáveis para a educação dos filhos. Ninguém gosta de dizer não e ver seu filho chorar; ou, numa situação de conflito, tomar uma atitude justa mesmo que esta não beneficie seu filho; ou exercitar decisões, estimular seu filho a aprender coisas novas, dialogar; enfim, tudo isso dá muito trabalho e exige muita dedicação, dedicação de quem ama verdadeiramente e que busca educar os filhos para a vida, e essa tarefa não é fácil.
Luciana Brites

 

4. Não são apenas as crianças que crescem; os pais também. Assim como ficamos atentos a tudo o que nossos filhos fazem com a vida deles, eles também nos observam para ver o que fazemos com a nossa. Não posso pedir aos meus filhos que sonhem alto. O que posso fazer é sonhar alto por conta própria.
Joyce Maynard

 

5. Em casa, os pais educam seus filhos para que eles aprendam a viver, convivendo no espaço privado que é a família, e isso supõe amores, ódios, expectativas e conflitos. Na escola, os professores educam os alunos a exercitar a cidadania no espaço coletivo.
Rosely Sarjão
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