Edição 128

Mensagem inicial

Sim, eu posso! (Eu posso tudo n’Aquele que me consola!)

Neimar de Barros

Sim, eu posso!

Posso porque a pobreza do berço
Enriqueceu-me o espírito.
Posso porque, depois da queda,
Houve o levantar.
Posso porque o desemprego
Não me levou ao desespero.

Sim, eu posso!

Posso porque a fome da carne
Não matou a sede de amar.
Posso porque o título no cartório
Não me deixou a alma protestada.
Posso porque, no meio da briga caseira,
Encontrei o diálogo que faltava.

Sim, eu posso!

Posso porque, quando subi, não pisei
E, quando desci, entendi as patadas.
Posso porque minha face está exposta,
À mercê de beijos ou agressões.
Posso porque amo, apesar de tudo,
E vejo no agora o sentido do depois.

Sim, eu posso!

Posso porque exorcizei o egoísmo
E entreguei meu futuro sem perguntas.
Posso porque me viraram o rosto,
E encontrei forças para a oração.
Posso porque perdi o conforto
E me acostumei ao imprescindível.

Sim, eu posso!

Posso porque saí da fétida fossa
Envolto no lençol branco do perdão.
Posso porque o sofrer não me deprime
E faz valorizar meus goles de alegria.
Posso porque sou um peregrino
Que vive na massa sem deixar-se levar.

Sim, eu posso!

BARROS, Neimar de. O dia da sua morte. 10. ed. São Paulo: Sorvil, 1985.

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