Edição 131
Matéria Âncora
Um MANUAL para a FAMÍLIA
Entrevista com Gitânia Vargas e Willian Cardoso, autores do livro e do Treinamento Formando Pais
Christianne Galdino
Quando a gente se depara com a pergunta “De quem é a responsabilidade sobre a educação das crianças e dos adolescentes?”, as respostas, invariavelmente, levam-nos a dois lugares: família e escola. E já é assim há muito tempo, pelo menos nas cinco últimas décadas. Dependendo da época e do contexto, a ênfase pode ser nos pais ou nos professores. É inegável o protagonismo desses adultos cuidadores no processo de formação dos indivíduos. Mas será que a gente já pensou em como pais e professores são formados e em quais ferramentas dispõem para conduzir essa importante missão?
Os últimos e trágicos acontecimentos em algumas escolas do Brasil acenderam nosso alerta máximo e fizeram crescer a necessidade de estarmos melhor preparados para enfrentar esses desafios e evitar novos episódios de violência. E não só os pais e professores, até porque, em maior ou menor grau, todos nós somos afetados por essa realidade. Então, por mais que a gente não seja diretamente responsável pela educação de uma criança ou um adolescente, este assunto nos diz respeito; como afirma um conhecido provérbio africano: “É preciso uma aldeia inteira para educar uma criança”. Mesmo que o núcleo familiar seja sólido e bem estruturado e que os pequenos estudem em excelente escola por tempo integral, não estarão livres das influências da sociedade como um todo.
É certo que a família e a escola estão diretamente implicadas no processo da educação, mas é preciso considerar também o contexto social e a realidade do momento histórico no qual vivemos. Os casos de agressão não são as únicas preocupações que afetam os que estão na posição de educadores/cuidadores; há também outras queixas: a falta de compromisso da geração atual, por exemplo. Há, ainda, relatos frequentes sobre o que se convencionou chamar de terceirização da educação, que é o fato de os pais delegarem, exclusivamente, às escolas a tarefa de educar, uma clara distorção de quem confunde educação com escolarização.
Todo esse cenário trouxe para o centro do debate a necessidade urgente de se fazer alguma coisa concreta para conseguir mudar o rumo da educação no Brasil. Em nome dessa transformação, muitos ativistas foram em busca de ferramentas capazes de ajudar pais e professores a conduzirem essa necessária mudança. Porque, como dizia o renomado psiquiatra Içami Tiba, “Nenhum projeto é viável se não começa a se construir desde já: o futuro será o que começamos a fazer dele no presente”.
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Entrando na mente
Nessa direção, começaram a surgir iniciativas destinadas a auxiliar pais e cuidadores no processo de criação dos seus filhos, a partir de instrumentos trazidos do universo corporativo ou terapêutico, como a Programação Neurolinguística (PNL). Criada em 1970, nos Estados Unidos, por um grupo relativamente grande de pesquisadores, encabeçado por John Grinder e Richard Bandler, essa metodologia tem o intuito de possibilitar a mudança de “padrões de comportamento”. Dizendo de uma maneira simples: eles propõem a utilização de técnicas que conseguem acessar o inconsciente dos indivíduos e oferecer estímulos capazes de alterar pensamentos, que, por sua vez, vão gerar novas formas de agir.
Na década de 1980, a PNL chegou ao Brasil e foi se ampliando gradativamente, tornando-se muito popular no meio empresarial, onde costuma ser utilizada para aumentar a produtividade, atingir a excelência e melhorar as relações interpessoais no ambiente de trabalho, tudo isso em um tempo relativamente curto. Com o estabelecimento da profissão de coach (treinador) por aqui, a PNL passou a ser uma das metodologias mais frequentes nos atendimentos “terapêuticos” também e foi expandindo seus lugares de atuação. Afinal, com vivências relativamente acessíveis, consegue “entrar na mente” das pessoas e mudar alguns comportamentos, lá na raiz.
Apesar de não haver comprovação científica suficiente para considerar a PNL como um “tratamento” no âmbito da saúde mental, sua eficácia é constatada em outros variados contextos e situações. Esse é um dos principais alicerces do Instituto Liberdade, sediado no Rio Grande do Sul e fundado pelo treinador, palestrante e especialista em Comportamento Humano Willian Cardoso. Ao longo dos últimos 13 anos, ele vem criando e dirigindo treinamentos em áreas diversas, como finanças, vendas, emagrecimento e evolução pessoal, a partir dos seus estudos em neurociência, hipnose clínica e PNL. Já atendeu mais de 5.500 pessoas nesses cursos e mais de 25 mil nas suas palestras. Uma dessas pessoas atendidas por ele se tornou sua parceira profissional e foi a responsável por trazer o treinador para o universo da educação: a pedagoga Gitânia Vargas.
O encontro com a educação
No começo do trabalho na área educacional, o foco principal da dupla foram ações voltadas para os professores, em uma formação presencial intitulada Pilares da Educação. Os resultados superaram as expectativas, mas ainda havia um entrave no processo, já que a família não tinha acesso às ferramentas. Seguindo a máxima de Içami Tiba, que afirma categoricamente que “A educação não pode ser delegada somente à escola. Aluno é transitório. Filho é para sempre”, eles começaram a pensar em um tipo de treinamento que conseguisse contemplar os pais e os cuidadores.
Em qualquer conversa de família, quando o assunto é a criação dos filhos é comum ouvir os adultos dizerem, em tom de brincadeira, que é uma pena as crianças “não virem com manual” ou alguém perguntar ao responsável onde fica o botão para desligar aquela criança mais agitada. Foi exatamente com o intuito de preencher essa lacuna que, usando a lógica da estrutura de um manual, Willian e Gitânia passaram 2 anos elaborando o Treinamento Formando Pais. O pensamento que guiou os autores foi como apresentar, de maneira prática e fácil, as técnicas da Programação Neurolinguística que pudessem auxiliar na educação, independentemente do tipo de família e do contexto social nos quais estivessem inseridas. O resultado chegou em formato de um curso digital 100% online, com 47 videoaulas recheadas de dicas, exemplos e orientações práticas. E, recentemente, o projeto ampliou ainda mais seu alcance, sendo transformado no livro Formando pais: o manual da família.
A Construir Notícias quis saber como foi esse processo, conhecer os princípios norteadores, entender como funciona a formação; então, ouviu os autores Gitânia Vargas e Willian Cardoso, que revelaram cada detalhe dessa história na entrevista que você confere a seguir.
Construir Notícias – Você já era pedagoga há tantos anos, o que a fez buscar a PNL?
Gitânia Vargas – Tudo começou quando fui mãe e me deparei com os desafios de criar dois meninos. Eu já era professora e pensava que saberia lidar bem com isso. Eu acreditava que meu conhecimento e minha experiência pedagógica dariam conta, e não deram. Aquilo me deixava muito insatisfeita; então, percebi que, para ajudar meus filhos, eu teria que começar por mim, por melhorar como mãe, como pessoa. E, na busca desse aperfeiçoamento, tive a bênção de encontrar o Willian, que já trabalhava com treinamentos de desenvolvimento pessoal. Junto com ele, eu conheci a Programação Neurolinguística e consegui, com essa ajuda, resolver problemas que já se arrastavam há anos na minha família. O meu filho mais velho tinha sido diagnosticado com hiperatividade e déficit de atenção e já tinha passado por um processo com psicólogo e medicação, mas nada resolvia o comportamento. Além disso, ele tinha um transtorno do sono, e o Willian aplicou uma técnica de PNL que resolveu esse problema e acendeu uma esperança no meu coração. Então, eu disse a ele que queria aprender, queria conhecer aquele mundo, até então novo para mim, a princípio para saber lidar melhor com meus filhos, ser uma mãe melhor.
CN – E você, que vem do universo corporativo, Willian, como é que recebeu essa possibilidade de construir um treinamento para pais?
Willian Cardoso – Na verdade, no começo tive uma resistência, porque pensava em como eu poderia falar para pais se eu ainda não era pai. Passei algum tempo resistindo, até que a Gitânia me convenceu, dizendo que eu poderia contribuir muito com minha experiência como filho. Aí, sim, eu me senti com propriedade, porque fui um filho que deu muito trabalho no processo de criação. E cresceu em mim a vontade de ajudar as crianças a se desenvolverem sem passar pelos bloqueios por que passei. As crianças de hoje são muito desafiadoras, e não existe (ou não existia…) um manual de instruções para os pais conseguirem lidar com essas adversidades e ainda proporcionar o máximo desenvolvimento dos seus filhos.
CN – Contem como foi o processo de construção do Treinamento e do livro Formando Pais.
GV – Levamos 2 anos buscando ferramentas — todas com embasamento científico — para disponibilizar o conteúdo de maneira acessível. Nesse processo, uma das nossas preocupações era transformar esse conhecimento científico sobre a mente das crianças em uma linguagem que todo pai e toda mãe pudessem entender. Então, mesmo na época que criamos o Treinamento, fazíamos roteiros escritos do que iríamos falar em cada videoaula. Nesse processo, percebemos que tínhamos produzido um grande volume de conteúdo e pensamos logo em compartilhar esses conhecimentos também no formato de livro.
WC – E, assim, criamos um guia de desenvolvimento dos filhos, mostrando pontos de mudança e transformação nos aspectos comportamental, emocional, cultural e biológico, buscando ajudar em cada um deles. Porque, nos tempos de hoje, se não estivermos munidos de recursos, ferramentas, princípios e planos de ação muito bem definidos para agir contra as adversidades, tendemos a ter atitudes que irão levar o relacionamento de pais e filhos a um resultado indesejado. Costumamos dizer que, para esse relacionamento ser bem-sucedido, seus condutores precisam estar, no mínimo, um passo à frente, porque as crianças irão estar sempre testando, desafiando.
CN – E por falar na geração atual, quais vocês acham que são os principais desafios dos pais na criação dos filhos?
GV – Quando iniciamos o projeto Pilares da Educação, oferecendo treinamento para mais de mil professores do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, constatamos que existia uma distorção no processo de formação, porque as famílias estavam, cada vez mais, transferindo a exclusividade da educação dos seus filhos para a escola. Então, questões de comportamento das crianças e da formação do caráter dos alunos tinham que ser resolvidas pelos professores, que, por sua vez, não estavam preparados para lidar com as emoções dos estudantes.
WC – Notamos também que os pais, talvez até por uma interpretação equivocada da legislação de proteção à criança, como o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), acreditavam que não tinham mais “permissão” para educar seus filhos, passando do extremo da disciplina rigorosa para a total permissividade. E não existe educação sem alinhamento entre família e escola. Os pais hoje em dia, com medo de não terem o amor dos filhos, querem lhes satisfazer todas as vontades. Mas o respeito precisa vir antes do amor e tem que ser cultivado nas famílias. E não tem como fazer isso sem dar limites. Para educar, precisa haver equilíbrio entre amor e limites. E isso requer que os pais tenham um tempo de qualidade com os seus filhos para estabelecer vínculos.
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CN – Em um trecho do livro, vocês destacam que “O pai e a mãe precisam ser os primeiros líderes dos seus filhos e ter consciência de que eles seguirão seus exemplos, e não suas palavras”. E nas famílias com pais separados ou outras configurações, onde os exemplos são diferentes, e às vezes até contrários, em cada casa em que a criança mora, como fica essa questão?
GV – Essa é uma pergunta que sempre surge nos nossos cursos e nas nossas palestras. Mas creio que ela venha da ideia de que cada pai ou mãe é responsável por 50% da criação dos filhos, e isso não é verdade. Não existe meio a meio na educação, cada adulto/cuidador tem que assumir 100% da responsabilidade.
Dessa forma, mesmo estando separados, os pais vão buscar o equilíbrio entre amor e limites e saber que cada um tem que se dedicar integralmente para cumprir bem essa importante tarefa de educar.
CN – Sabemos que o Brasil é um país de dimensões continentais, marcado pela desigualdade social, então pergunto se a ferramenta da PNL, que é a base do livro e do Treinamento Formando Pais, pode ser utilizada em qualquer realidade e se alcançará êxito seja qual for o contexto.
WC – A ciência já explicou e comprovou que o bebê não é apenas um ser biológico, pois, independentemente das suas características genéticas, será desenvolvido nas relações, vivências e experiências do ambiente ao seu redor. Através da PNL, que é uma forma de comunicação que ultrapassa o filtro dos ouvidos e acessa diretamente a mente humana, é possível, sim, programar qualquer criança para adquirir algumas características comportamentais que os pais desejam que façam parte da sua personalidade e caráter. E isso pode (e deve) começar desde a gestação, com palavras da mãe e do pai, repetidas com carinho e amor para o bebê, que está absorvendo tudo lá dentro do útero.
GV – O ambiente é importante, sim, mas o papel dos pais/cuidadores é que é determinante no desenvolvimento dos filhos. Então, se o pai, a mãe ou o cuidador estiver realmente preparado para conduzir esse processo, o meio não terá força suficiente para influenciar. Por isso, o Formando Pais foca na preparação das famílias.
CN – O Treinamento, criado em 2019, já conseguiu contemplar muitas pessoas, e, com o livro, lançado ano passado, acredito que vocês conseguiram chegar ainda mais longe. Quais são os planos para o futuro do projeto Formando Pais?
WC – Lançamos o livro de forma independente, então pensamos em estabelecer parcerias que nos possibilitem fazer novas edições/tiragens e chegar às outras regiões do Brasil. A ideia é expandir nossa atuação, e, para isso, precisamos também capacitar outras pessoas que possam se tornar treinadores do Formando Pais. Temos uma sede administrativa em Porto Alegre e um centro de treinamento/hotel em Teutônia, ambos no Rio Grande do Sul, mas, pelos canais virtuais, podemos chegar a todo o Brasil e até a outros países.
GV – Se esse conhecimento conseguiu transformar a realidade da minha família e de tantas outras que já participaram do curso digital ou adquiriram o livro, sabemos que pode beneficiar a todos, sem exceção. Por isso, nosso desejo é de que cada vez mais pais e cuidadores tenham acesso a essa incrível ferramenta. Agradecemos à Construir Notícias e deixamos aqui o convite para quem se interessar em ser um multiplicador se juntar à nossa equipe de treinadores do Instituto Liberdade e nos contactar pelas nossas redes sociais.
Seus filhos são exatamente o reflexo do que você transparece para eles. Não do que você fala, mas, sim, do que eles interpretam sobre você. Por isso, costumamos orientar que os pais poupem suas palavras e invistam mais tempo em policiar as suas atitudes.
CARDOSO, Willian; VARGAS, Gitânia. Formando pais: o manual da família. pág. 41. Frederico Westphalen: Vitrola, 2022.
Quando se trata da criação dos filhos, as decisões e escolhas devem ser feitas pelos pais, porque as crianças ainda não têm maturidade suficiente para decidir o que é melhor para elas. Esse é um processo que vai sendo ensinado e conduzido.Conforme a idade, os pais vão preparando os filhos para também fazerem suas escolhas, por exemplo: qual brinquedo vão levar para a escola no Dia do Brinquedo, qual livro de história vão ler primeiro ou qual roupa vão escolher entre duas opções de roupas já definidas pela mãe. Perceba que não é perguntar o que a criança quer vestir, mas, sim, escolher entre duas opções já estabelecidas pela sua mãe.
CARDOSO, Willian; VARGAS, Gitânia. Formando pais: o manual da família. pág. 71. Frederico Westphalen: Vitrola, 2022.
É importante destacar que as crianças não nascem sabendo os limites, elas precisam ser ensinadas. Cada limite ensinado gera um resultado, representa uma aprendizagem para a vida da criança e repercute nos seus comportamentos. Da mesma forma, quando os pais deixam de estabelecer limites isso tem as suas consequências.CARDOSO, Willian; VARGAS, Gitânia. Formando pais: o manual da família. pág. 80. Frederico Westphalen: Vitrola, 2022.
É muito importante os pais compreenderem que, quando ensinam os filhos a fazerem as tarefas domésticas, não é simplesmente para diminuir seus próprios afazeres, mas, sim, para ensinar àqueles seres em formação a importância do trabalho, o respeito pelas pessoas e o valor das coisas, pois, caso contrário, as crianças crescem usufruindo dos benefícios do trabalho dos outros.CARDOSO, Willian; VARGAS, Gitânia. Formando pais: o manual da família. pág. 97. Frederico Westphalen: Vitrola, 2022.
De nada adianta você dizer ao seu filho que ele tem que ser honesto, ter respeito e falar a verdade se essa criança não perceber esses valores nas suas atitudes do dia a dia. Se, ao contrário, perceber mentiras e situações de desonestidade, isso é o que vai ser aprendido, pois tudo o que a criança vive até os 8 anos influenciará diretamente no que ela será na vida adulta. É a base do seu caráter!CARDOSO, Willian; VARGAS, Gitânia. Formando pais: o manual da família. pág. 125. Frederico Westphalen: Vitrola, 2022.
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