Edição 131
Professor Construir
FORMANDO PAIS UM PROJETO EXITOSO DE UMA ESCOLA PARA PAIS
Rosangela Nieto de Albuquerque
Grande parte da sociedade entende o desafio que é educar uma criança, sem uma “bula” pronta, sem ter como prever as mudanças sociais e comportamentais. Os pais e/ou responsáveis iniciam sua trajetória numa composição de família em que buscam fazer o melhor na educação dos filhos.
Apesar de vivenciarmos as novas concepções de família, para Lévi-Strauss (1974, p. 17) “[…] a família é um grupo social que tem origem no casamento, é uma união legal com direitos e obrigações econômicas, religiosas, sexuais e de outro tipo. Mas também está associada a sentimentos, como o amor, o afeto, o respeito ou o temor”. Do ponto de vista de Lévi-Strauss (1974), a família é necessária para a reprodução social de um grupo humano, pois garante a sobrevivência e a continuidade biológica e social do próprio grupo.
Já para Minuchin (1990), a família é consequência das relações de parentesco, é um grupo doméstico corresidente e com limites variáveis segundo os contextos culturais.
Para se pensar em educar os filhos, remete-se ao ambiente em que a criança está inserida: a família, que pode ser considerada como uma unidade que envolve as economias individuais e que pratica uma economia moral ou cultural coletiva — é o que Bourdieu (1998) denomina economia oculta do parentesco.
As relações familiares na pós-modernidade constituem um desafio para os pais, pois a perspectiva de identidades contraditórias e pluralidade de centros de poder, que compõe o cenário cultural da família, perpassa pela comunicação entre pais e filhos como um sistema flexível, que revê os limites e as fronteiras, o que pode e o que não pode, que transitam nas demandas da pós-modernidade.
Assim, a família como matriz do desenvolvimento psicossocial de seus membros vai se adequando às exigências culturais da pós-modernidade. Desse modo, ao se modificar frente às demandas socioculturais, ainda mantém a continuidade do crescimento de cada membro e tem como objetivo garantir as diferenças de comportamento num sistema aberto e flexível.
Minuchin (1990), em seus estudos, apresenta a ideia de que a família opera por meio de padrões transacionais, que reforçam e regulam o próprio sistema familiar; portanto, são padrões de relacionamento. Assim, a família, enquanto sistema, na visão de Minuchin (1990), mantém-se num interjogo de resistência à mudança e manutenção de padrões preferidos. No entanto, a adaptação da família a novas situações promove o conflito da mudança que irá depender dos padrões transacionais e da própria flexibilidade.
Quando pensamos em família, há que se entender os papéis e as funções que estão igualmente implícitos e constituem-se, ao longo dos tempos, em agregações sociais. E, certamente, renunciam ou assumem funções de socialização e proteção dos seus membros, conforme as necessidades da sociedade pertencente.
A família precisa, então, responder às mudanças externas e internas, sem, no entanto, fragmentar a continuidade, permanecendo sempre como um esquema de referência para os seus membros (MINUCHIN, 1990).
Nessa perspectiva, as funções da família se regem por dois objetivos, sendo um de nível interno, como a proteção psicossocial dos membros, e o outro de nível externo, como a acomodação a uma cultura e sua transmissão.
Nesse contexto, as famílias, os pais e/ou responsáveis vivem numa apreensão e dúvida se estão educando da “melhor forma”. Eles clamam por orientação e buscam ajuda sempre que necessário, pois desejam “dar o melhor” aos filhos. Observa-se que, fundamentados no desejo de “fazer o melhor”, muitas vezes se esquecem de dar limites. Pais/responsáveis por vezes “fraquejam” nos limites porque têm dificuldade de dizer não quando necessário, pois vivem numa culpa de ausência (por estarem fora de casa — no trabalho).
A criança que cresce sem ouvir a palavra não tem dificuldade em lidar com as frustrações e fica prejudicada emocionalmente. Assim, quando surgem os desafios da vida, não sabe como agir, tem dificuldade de relacionamentos e chega a comportamentos extremos. Os estudiosos sobre o assunto dizem que os altos índices de depressão, suicídio, alcoolismo, tabagismo e até utilização de drogas têm relação com o manejo das frustrações.
É verdade que os pais e/ou responsáveis sabem a importância de estabelecer limites no processo de educação da criança, de ensinar regras para a convivência em sociedade; entendem a necessidade de ensinar valores como respeito, generosidade, humildade, paciência, amizade, persistência, coragem, justiça, responsabilidade, amor, entre outros, mas se sentem inseguros se estão “fazendo o certo”. Os pais clamam por orientação. Como agir? É necessária uma escola para pais…
Quando os pais deixam de estabelecer limites, certamente essa ação promoverá consequências no futuro. Crianças que não sabem lidar com as frustrações não sabem esperar a vez de falar, não sabem ouvir o outro, não têm paciência e não desenvolvem uma postura cidadã.
A escola pode desenvolver o projeto Escola para Pais para “cuidar” da necessidade dos pais — de como educar nossas crianças. Assim, disponibilizamos a vivência de um projeto exitoso em sua aplicabilidade realizado em escolas públicas e particulares.
Projeto Escola para Pais
• Local: Escola
• Carga horária: Cada encontro tem 2h de duração.
• Horário: Das 19h às 21h.
• Número de participantes: Conforme o objetivo de cada encontro.
• Público-alvo: Pais e/ou responsáveis dos alunos da escola.
Introdução
O projeto Escola para Pais surgiu da necessidade de desenvolver o relacionamento entre família e escola, no sentido de orientar os pais para a necessidade de caminharmos juntos na prática educativa de seus filhos, nossos alunos.
A Escola para Pais está descrita dentre as ações estabelecidas para apoiar e fortalecer a relação família-escola, buscando, além da interação e participação dos pais dentro da escola, a orientação a esses familiares para que compreendam o processo educativo na Educação Básica.
A fase da Educação Básica é o período de construção do desenvolvimento cognitivo, emocional e social da criança e do adolescente e ressalta a importância da socialização, da construção do conhecimento, de caminhar juntos e, portanto, de falar a mesma linguagem, para que o desenvolvimento seja saudável e harmonioso.
O projeto pretende fortalecer e valorizar a relação família-escola, oportunizando uma reflexão sobre como educar dentro dos novos paradigmas do século XXI.
Objetivo geral
Refletir e desenvolver o relacionamento família-escola, buscando ponderar sobre os paradigmas de educação, promovendo interação e participação na prática educativa.
Objetivos específicos
• Informar e orientar os pais no contexto de “Quem ama educa”.
• Fortalecer as relações entre família e escola, buscando a manutenção da confiabilidade e fidelizando o aluno (família) quanto à prática educativa.
• Fornecer orientação sobre o ato de educar e como orientar seus filhos na prática pedagógica.
• Refletir sobre “Quem educa quem?” — as fronteiras dos limites.
• Interagir com as famílias num processo dialético, para juntos, numa tríade estudante-família-escola, construir o processo educativo com sucesso.
Metodologia
O projeto Escola para Pais acontecerá ao longo de sete encontros no ano letivo, com aproximadamente um encontro por mês (abril, maio, junho, agosto, setembro, outubro e novembro), com a duração de cada um prevista para 2 horas, trazendo temas previamente selecionados conforme a necessidade de construção do processo educativo, buscando atender o público-alvo.
O projeto Escola para Pais será pautado na seguinte estratégia:
• 1° momento: Acolhimento/sensibilização.
• 2° momento: Ceia fraterna coletiva.
• 3° momento: Tema do mês de abril: Pais, filhos, escola – Estamos falando a mesma
linguagem?
• 4° momento: Discussão do tema planejado, avaliação e proposta de tema para o próximo mês.
• 5° momento: Avisos e encerramento.
O acolhimento é o momento de aproximação entre os pais e a escola, além de estarmos particularizando algumas situações e avaliando o entendimento do projeto. No primeiro encontro, será explanada a iniciativa.
A ceia fraterna é um pequeno lanche coletivo, já que a maioria dos pais vem direto do trabalho.
O método de trabalho será basicamente através de dinâmicas de grupo, fóruns de debates, mesas-redondas, seminários e atividades lúdicas.
Material utilizado
• Material impresso diverso (mensagens, letras de música, textos).
• Equipamento de som, TV, notebook.
• Vídeo (pequeno filme com duração máxima de 5 minutos).
• Pastas, papel ofício, canetas, lápis.
• Brinquedos educativos, bolas, cordas, tecido, caixas de papelão, jornais e revistas.
Cronograma e temas abordados
MÊS | TEMA |
ABRIL | Pais, filhos, escola – Estamos falando a mesma linguagem? |
MAIO | Como a criança aprende? – O desenvolvimento cognitivo e emocional da criança depende de todos nós. |
JUNHO | O tempo da criança – Ritmo e caminhar… |
AGOSTO | A questão dos limites – Quem ama educa, quem educa quem? |
SETEMBRO | Comunicação e relacionamento familiar – Expectativas em relação aos filhos. |
OUTUBRO | Educação emocional: uma competência essencial – A importância dos pais como suporte no desenvolvimento emocional. |
NOVEMBRO | Como educar no século XXI? – Exigências da sociedade. |
Expectativa de resultados
Buscamos atingir o objetivo geral e os específicos e proporcionar maior interação entre as famílias e a escola com mudanças efetivas na compreensão da prática educativa.
A (con)vivência na Escola de Pais proporcionará também a compreensão de uma nova configuração sobre o papel da escola e o papel da família no processo educativo.
O cuidar e o educar são responsabilidade de todos nós, família e escola.
Referências
BOURDIEU, P. (Org.). A miséria do mundo. Petrópolis: Vozes, 1998.
LÉVI-STRAUSS, Claude. Antropologia estrutural. Tradução: Beatriz Perrone-Moisés. São Paulo: Cosac Naify, 1974.
MINUCHIN, S. Famílias: funcionamento e tratamento.
Porto Alegre: Artes Médicas, 1990.
Rosangela Nieto de Albuquerque é ph.D. em Educação (Universidad Tres de Febrero), pós-doutoranda em Psicologia, Doutora em Psicologia Social, Mestre em Ciências da Linguagem, psicanalista clínica, professora universitária de cursos de graduação e pós-graduação, psicopedagoga clínica e institucional, pedagoga, licenciada em Letras (Português/Espanhol), autora de projetos em Educação e da implantação de uma clínica-escola de Psicopedagogia Clínica como projeto social e autora e organizadora de treze livros nas áreas da Educação e da Psicologia.
E-mail: rosangela.nieto@gmail.com