Edição 123

Matéria Âncora

Uma pedagogia quântica

Christianne Galdino

Há muito tempo, em um diálogo de uma das peças mais famosas de William Shakespeare, o personagem principal da trama, Hamlet, afirmava ao estudante Horácio (personagem que representava a racionalidade) que existiam coisas que a razão não ia conseguir explicar nunca: “Há mais coisas no céu e na terra, Horácio, do que foram sonhadas na sua filosofia”. Essa proposição de integração e ampliação da percepção humana que aparece no pensamento de Shakespeare e passou um longo período abafada pela supremacia da razão, que ainda rege as sociedades ocidentais, vem sendo retomada nas últimas décadas.

A ciência, de uma maneira geral, tem feito um movimento de retorno às práticas integrativas, considerando razão e emoção como partes igualmente importantes do ser humano e abandonando a era do domínio absoluto do materialismo científico. Os atendimentos com as chamadas terapias holísticas, por exemplo, já foram incorporados aos serviços de medicina convencionais e oferecidos, inclusive, no Sistema Único de Saúde (SUS).material_estudo_AdobeStock_289590354__BillionPhotos

Na educação, essa direção nos levou a uma abordagem chamada Pedagogia Quântica, criada há cerca de oito anos pela psicopedagoga brasiliense Andrea Wolney. Mas calma, antes de explicar melhor os caminhos de mudança propostos por ela, vou fazer uma breve apresentação da matriz dessa onda de transformações: a Física Quântica. Porque, apesar de a sociedade já aceitar e até buscar a integração, tudo o que é baseado em algo não palpável ainda provoca muito estranhamento, não é verdade?

As descobertas dessa área são bem antigas. Já se falava nisso no comecinho do século 20. E, dentre vários estudos avançados realizados para a comprovação dessa outra forma de mecânica, um deles mostrou que as mesmas áreas do cérebro eram ativadas quando os voluntários observavam os objetos e quando, de olhos fechados, só imaginavam os mesmos itens. Outro experimento importante, que aconteceu no verão de 1993, em Washington, nos Estados Unidos, reuniu 4 mil voluntários, vindos de 100 países diferentes, para meditar ao mesmo tempo. Com isso, o índice de criminalidade na cidade foi reduzido em 25%, como era a intenção do evento. A partir dos estudos, os cientistas se perguntaram: “Há mesmo um ‘mundo real’? Existe uma realidade material universal?”.

Aos poucos, foram chegando ao entendimento de que a unidade central da Física não era a matéria, como pensavam até ali, e sim a consciência. E isso podia ser comprovado, sim. Professor aposentado de Física Clássica da Universidade de Calcutá, o indiano Amit Goswami afirma que a única coisa que podemos dizer sobre a Quântica é que ela é a física das possiblidades, ou seja, por ser regida pelo princípio da incerteza, ela elimina qualquer tipo de determinismo. Imagine quantas reações esse e outros teóricos enfrentaram e continuam enfrentando para fundamentar uma ciência que lida com o imensurável! Pois é, mesmo que a gente já tenha ouvido tanto sobre a força do pensamento, acreditar de verdade na transformação gerada a partir da mudança da mente ainda é um desafio enorme. Isso porque a cultura do materialismo ainda é muito arraigada na maioria das sociedades. Apontar caminhos para que a gente avance nessa quebra de paradigma é o legado dos estudos da Física Quântica.

cerebro_AdobeStock_267933363_Aliaksandr_MarkoMas não é só a Física que pode adotar práticas quânticas. Foi isso que Andrea Wolney descobriu quando conheceu essa área e, depois de uma formação com o próprio Amit Goswami, recebeu a certificação de ativista quântica, ou seja, alguém que aplica os princípios quânticos na sua prática profissional, seja qual ela for. E quais são eles? Dizendo de uma forma simples, é tudo que ajuda a desenvolver o poder do pensamento. Nesse sentido, Andrea começou a experimentar em sala de aula vivências de meditação, respiração, Constelação Familiar sistêmica, entre outras. Os resultados na aprendizagem superaram as expectativas, e, assim, ela decidiu formatar uma abordagem sobre Pedagogia Quântica e, ainda, um curso de alfabetização sistêmica.

Mas o que é que muda? Quais são os diferenciais? A condução do processo a partir das referências afetivas dos estudantes é uma das viradas de chave apresentadas como eixo da Pedagogia Quântica, considerando não só o indivíduo, mas todo o seu sistema familiar. “O que muda mesmo é o nosso jeito de pensar a educação, a nossa forma integral de olhar os alunos”, enfatiza Andrea Wolney, que oferece, nos seus canais digitais e nas redes sociais, palestras e cursos para quem quer se aprofundar e aprender a aplicar a metodologia criada por ela. Aos que desejam seguir as infinitas possibilidades do universo quântico, boas doses de coragem e ousadia são bem-vindas, mas fundamental mesmo é a vontade de inovar, de buscar outros conhecimentos e recursos, de encarar o processo educacional como uma experiência em que o aluno é o protagonista.

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