Edição 123

Matéria Âncora

Experiências quânticas em sala de aula

Entrevista com Andrea Wolney, criadora do método de Alfabetização Sistêmica

Natural de Brasília, a psicopedagoga Andrea Wolney tem mais de 30 anos de experiência como professora e desde os 18 atua na rede estadual de educação do Distrito Federal. Especializada em Neuropsicologia e Educação Inclusiva, ela criou, há cerca de oito anos, uma abordagem diferenciada, uma nova forma de pensar a educação, intitulada: Pedagogia Quântica. A partir das suas experiências pessoais com as terapias holísticas e da formação com o renomado físico indiano Amit Goswami, Andrea se tornou ativista quântica e passou a aplicar, em sala de aula, os princípios norteadores dessa prática. Agregou também os fundamentos de Bert Hellinger, criador do método de Constelação Familiar, às suas tantas referências teóricas da própria pedagogia e construiu o curso de Alfabetização Sistêmica.

Mãe dos jovens Luiza e Vinicius, Andrea está prestes a se aposentar, mas nem pensa em parar; pelo contrário, agora vai dedicar tempo e energia para investir nas suas formações, repaginar os canais virtuais, produzir mais conteúdo para suas as redes sociais (@pedagogiaquantica) e, em breve, abrir um espaço para dar continuidade aos atendimentos psicopedagógicos. E, quem sabe, realizar o sonho de aplicar sua metodologia de Alfabetização Sistêmica também em turmas de adultos.

Para entender melhor os fundamentos e os diferenciais das proposições da Pedagogia Quântica, a revista Construir Notícias realizou uma entrevista especial com Andrea Wolney, que você confere a seguir.

Revista Construir Notícias – Sabemos da sua larga experiência na prática pedagógica, mas como foi que você chegou à Física Quântica?

Andrea Wolney – Sempre fui muito curiosa e, na minha jornada da educação, buscava alternativas para ajudar as crianças a se desenvolverem melhor. Quando me deparava com dificuldades na aprendizagem, trazia outras formas, inovações; mas até então somente dentro do contexto pedagógico. Há cerca de nove anos, desenvolvi um quadroC_pia_de_DSC_0042 depressivo, decorrente de um difícil processo de divórcio, e vi tudo que eu tinha planejado para a minha vida desmoronar diante de mim. Foi aí que, buscando sair daquele estado, comecei a fazer ioga, tai chi chuan, meditação e outras práticas holísticas de autoconhecimento e senti um conforto emocional muito grande. Nessas minhas andanças, ouvia falar muito sobre Quântica e achei tão interessante a relação entre espiritualidade e matéria que eles apresentavam que decidi me aprofundar.

RCN – E quais foram as fontes e formações que você acessou para conseguir esse aprofundamento?

AW – Primeiro, ouvi o professor Wallace Lima explicando sobre o universo quântico, e, para mim, fez muito sentido essa abordagem que trata o ser humano de forma integrada, corpo, mente e espírito conectados. O próximo passo foi fazer a formação em Ativismo Quântico com o físico Amit Goswami. O curso nos dava orientação para usarmos os princípios quânticos dentro da nossa prática laboral, seja ela qual for.

Sempre fui muito curiosa e, na minha jornada da educação, buscava alternativas para ajudar as crianças a se desenvolverem melhor.

RCN – Fale um pouco mais sobre esse mestre quântico.

AW – Amit Goswami é um físico indiano muito renomado e premiado, mas também polêmico. Por quê? Porque ele traz o novo para a Física convencional, levando-a para além da matéria. Muito da prática dele como cientista traz as características da cultura da Índia, que já é naturalmente holística.

RCN – E como você inseriu os elementos quânticos no seu contexto pedagógico?criancas_meditando_aula_AdobeStock_76968763_WavebreakMediaMicro

AW – Bem, eu já estava atuando na sala de recursos, que é o espaço onde fazemos atendimento psicopedagógico aos alunos com deficiência, e comecei a inserir exercícios de respiração, relaxamento, de autoconhecimento mesmo. Aí eu conheci a Constelação Familiar, que foi outro divisor de águas na minha vida, mudou tudo. Vi de imediato a relação com o que eu havia estudado até então na Física Quântica. Aos poucos, acrescentei princípios da abordagem sistêmica também com os alunos e observei, a cada prática, o que funcionava ali no ambiente educacional.

RCN – Imagino que os aspectos inovadores da sua proposta possam ter provocado as mais diversas reações. Você enfrentou algum tipo de resistência quando começou a experimentar em sala de aula as práticas quânticas/sistêmicas?

AW – No início, eu mesma tive receio. Então, fazia as práticas de meditação com os alunos, por exemplo, mas não mostrava nem contava para ninguém. Porém, quando vi os resultados no desenvolvimento dos estudantes, encorajei-me a ousar e expandir a experiência. Claro que vieram muitos questionamentos sobre se havia respaldo científico para o que eu estava praticando. Alguns disseram que era loucura, que não tinha como comprovar a eficácia desse tipo de abordagem porque a ciência ainda é muito vinculada àquilo que pode ser validado por meio de comprovações exclusivamente materiais. E tudo que esteja além disso costuma ser desconsiderado.

RCN – Como você conseguiu expandir o seu trabalho?terapia_emocoes_crianca_mulher_AdobeStock_334333091__Krakenimages

AW – O professor Wallace Lima, que foi quem me apresentou à Física Quântica, realizou seis grandes congressos da área, com palestrantes internacionais, e eu sempre estava presente. Então, ele me convidava para compartilhar minhas experiências quânticas em sala de aula. Um desses eventos foi aqui em Brasília, e, na época, houve uma vasta cobertura da mídia, e eu fui chamada para dar entrevistas para rádios e jornais. Assim, perdi, aos poucos, o medo de expor meu trabalho. E, quando o pessoal da rede da Secretaria de Estado de Educação de Brasília tomou conhecimento das minhas experiências, fui convidada a ministrar muitas palestras e cursos de formação para professores, primeiro em outras escolas e só um tempo depois na própria unidade em que eu trabalhava. Naquela época, fiz uma pesquisa vasta para ver se havia no Brasil outra experiência similar à minha e, como não encontrei, decidi nomear e patentear o termo Pedagogia Quântica. A partir daí, comecei a produzir vídeos sobre essa abordagem e sua aplicação prática e a divulgar na Internet as minhas experiências quânticas de sala de aula e tudo que estivesse relacionado a isso.

RCN – Além do trabalho contínuo nos atendimentos psicopedagógicos da sala de recurso, que outros momentos da aplicação da Pedagogia Quântica na sua jornada você destaca?

AW – Na escola, tinha algumas experiências pontuais, quando uma professora ou outra me procurava para montarmos um projeto específico para sua turma. Os princípios quânticos ficaram muito mais “concretos” para mim com a abordagem sistêmica, depois que fiz a formação em Constelação Familiar. Quando agreguei essas práticas, eu vi muito claramente o impacto disso nas crianças que tinham dificuldade de aprendizagem e, também, nas que tinham problemas de relacionamento. Quando eu trouxe para a sala de aula o sistema familiar da criança, brincando com os bonequinhos que representavam essas relações, eu notei a atenção e o engajamento dos alunos no seu processo de aprendizagem aumentarem significativamente. Mudei a minha forma de olhar para meus alunos, percebendo e considerando também seus sistemas familiares. E esse olhar com respeito à origem dessa criança mostra para os alunos que eles podem ser quem são na sua essência.

RCN – Na sua opinião, as práticas de Pedagogia Quântica podem ajudar a superar quais principais desafios da educação na atualidade?menina_livro_magia_AdobeStock_290177539__Pixel-Shot

AW – Hoje, a gente encontra um cenário de rivalidade entre família e escola que foi construído culturalmente. De um lado, professores responsabilizando os familiares pelas falhas nos processos de aprendizagem; do outro, os pais exigindo da escola que faça isso ou aquilo para garantir a educação das crianças. Então, notei que harmonizar essa relação é fundamental para que tudo flua, e a abordagem sistêmica aliada aos princípios quânticos se mostrou muito eficaz nesse sentido.

RCN – Então, foi com esse objetivo que você criou o método de Alfabetização Sistêmica, certo? Como ele funciona, na prática?

AW – Sim, foi uma forma até mesmo de conseguir comprovar, na prática, os resultados benéficos da Pedagogia Quântica. Formatei um passo a passo do método e disponibilizei como curso digital. Mas, no ano passado, decidi ir além e propus uma experiência de mentoria, com encontros semanais de orientação e a meta de alfabetizar em um período de três meses. Cada profissional tinha que aplicar a metodologia sistêmica em pelo menos uma criança, mas as práticas tinham que ser diárias. Tudo a partir das Leis do Amor, base do pensamento de Bert Hellinger, criador do método de Constelação Familiar. Mesclando com práticas pedagógicas de metodologia global, partimos do trabalho com o sistema familiar do aluno e selecionamos as “palavras geradoras” de cada um, dando maior sentido ao processo de alfabetização, pois eles estavam aprendendo a ler/escrever algo que fazia parte da vida deles, que era importante para eles. Todos os profissionais que conseguiram aplicar a metodologia na íntegra concluíram o processo com sucesso e leveza. Temos tantas referências incríveis, como, por exemplo, Esther Pilar Grossi, educadora brasileira que também utilizo bastante na metodologia sistêmica, que fica difícil entender por que continuamos alfabetizando nossos alunos, na maioria das escolas, através de famílias silábicas ou estudos de fonemas descontextualizados.

RCN – Pois é, e quando se trata do sistema vigente de avaliação, a situação é ainda mais grave. Na Pedagogia Quântica, como é tratada a questão da avaliação de conhecimento dos alunos?

AW – Então, nós estamos em um sistema engessado, porque viemos dessa escola que só sabe avaliar por meio de prova. O diferencial que vejo quando aplicamos os princípios quânticos/sistêmicos é que, como se trata de um processo humanizado e integrativo, o resultado vem naturalmente no dia a dia, sem a necessidade de provas. Não que a gente não tenha estratégias de monitoramento, mas é que são estratégias para apurar e ampliar a nossa observação e que levam em conta o sistema e o nível de desenvolvimento de cada aluno. Eu tenho uma preocupação muito grande com a questão do erro, porque vejo que muitas crianças são travadas no seu processo de aprendizagem pelo medo de errar, pela pressão em provar que sabe. Na abordagem sistêmica, o professor faz a provocação e observa a resposta, não precisa marcar um momento específico, a avaliação está sendo feita constantemente. E, quanto mais o processo de aprendizagem se aproxima da vivência natural da criança, da brincadeira, da alegria, mais a criança avança no seu desenvolvimento.

O tempo todo, a gente está fazendo o que eu chamo de avaliação diagnóstica, com o objetivo de, a partir da situação encontrada, produzir o próximo conteúdo que será apresentado à criança para que ela mesma descubra e alcance os novos aprendizados. A condução pela via afetiva, envolvendo a família e partindo da história de cada indivíduo, é a base que garante o sucesso da Pedagogia Quântica em todos os contextos e para todas as idades. Por enquanto, minha experiência é somente com crianças e alguns adolescentes, mas sonho em aplicar essa metodologia também com adultos e, por tudo que já presenciei, sei que vai dar muito certo.

Nós estamos em um sistema engessado, porque viemos dessa escola que só sabe avaliar por meio de prova.

Andrea Wolney é ativista quântica formada pelo físico indiano Amit Goswami, professora, psicopedagoga, 32 anos de prática pedagógica. Atua com Atendimento Educacional Especializado (AEE) em sala de recursos pela Secretaria de Educação do Estado do Distrito Federal – DF, desenvolvendo um trabalho psicopedagógico com crianças com necessidades educacionais especiais. Ministra cursos e palestras sobre Pedagogia Quântica com enfoque no desenvolvimento emocional de professores e alunos. É pedagoga com especialização em Psicopedagogia e Educação Inclusiva pela Universidade de Brasília e Neuropsicologia pelo Instituto Brasileiro de Neuropsicologia. Foi membro titular da Associação Brasileira de Psicopedagogia Sessão ABPp-DF 2014/2016. Mediadora do Programa de Enriquecimento Instrumental (PEI) pela The International Center for the Enhancement of Learning Potential. É terapeuta holística com abordagem em Saúde Quântica e Neurometria Funcional, Bio e Neurofeedback. Possui certificação em Cura Reconectiva Foundational Practitioner pela Reconnective Healing®. É terapeuta floral, mediadora de Thetahealing, estudiosa e buscadora de autoconhecimento e transformação pessoal. Participou de diversos cursos complementares, como Pedagogia Sistêmica, Constelação Familiar, Coaching, Neurociência e Aprendizagem.

Instagram: @pedagogiaquantica

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