Edição 42

A fala do mestre

Vaidade e Motivação na Aprendizagem

Armando Correa de Siqueira Neto

motivacao

A motivação relacionada à aprendizagem é objeto de estudo há considerável tempo, haja vista ela ter uma enorme relevância em tal processo. Por diferente que seja uma época da outra, bem como a cultura existente em cada lugar, a motivação é uma condição necessária, globalmente e em qualquer momento, para uma adequada aprendizagem. Desconsiderar a sua importância e impor apenas o conteúdo daquilo que se pretende ensinar é difi cultar (em enorme escala) a relação ensino–aprendizagem. Witter e Lomônaco (1984, p. 40) afi rmam que “Qualquer atividade a ser aprendida poderá ser afetada pela motivação”. A motivação, portanto, merece destaque e, sobretudo, que seja bem compreendida e utilizada da melhor maneira em favor do desenvolvimento da pessoa.

Todavia, o que se pretende focalizar aqui é a vaidade, que pode ser estimuladora a ponto de motivar alguém a continuar aprendendo um dado assunto. Refi ro-me ao desejo que certos alunos têm de ser importantes a partir de seu reconhecimento em níveis mais abrangentes. Isto é, há estudantes que gostam de perceber que professores e colegas o observam favoravelmente pelo seu destacado nível de aprendizagem. Há outros, contudo, que desejam ir além, ao buscar mais realização por meio de aparições de maior envergadura, tais como as apresentações musicais públicas de aprendizes que se desenvolvem tocando determinado instrumento. É possível detectar algo ainda mais pitoresco nessa análise, considerando-se que quase não há limite de idade para que ocorra tal situação.

É aí que entra a vaidade, observada em um aluno de apenas 5 anos cujo instrumento musical em questão é o violino. Ele não se motiva apenas pela aprendizagem, mas também pela oportunidade de se apresentar publicamente quando lhe é oferecida tal chance. Há variáveis que devem ser levadas em conta neste estudo. Para Witter e Lomônaco (1984, p. 45): “A motivação intrínseca é aquela em que a atividade surge como decorrência da própria aprendizagem, o material aprendido fornece o próprio reforço, a tarefa é feita porque é agradável”. E ainda: “A motivação extrínseca ocorre quando a aprendizagem é concretizada para atender a um outro propósito, por exemplo, galgar um posto, ser agradável para outra pessoa (pai, mãe, namorada), para ‘subir’ socialmente”.

Não bastasse a oportunidade para se motivar com a apresentação de sua performance no violino, outro elemento é capaz de estimulá-lo: a aprendizagem relacionada ao caratê. É claro que é devido considerar o simbolismo presente em tal esporte (força, poder, etc.), mas, nesse caso especifi camente, a vaidade acompanha o carateca quando existe algum tipo de exibição, tal como a Copa Regional de Karatê, levando a criança a um bom nível de desenvolvimento da motivação, tanto pelo evento, que reúne um enorme número de espectadores, quanto pela sua exposição pessoal.

Observa-se, então, a força que possui a motivação com certa base na vaidade para a aprendizagem do aluno. Ela pode ser reforçadora e gerar um determinado nível de manutenção e persistência favorecedor à continuidade da prática para se atingir o objetivo que se tem em mira (os exemplos aqui são aprender a tocar violino e lutar caratê).

O aluno de 5 anos aqui descrito respondeu a algumas questões que lhe foram feitas a respeito dos dois tipos de aprendizagem e das respectivas aparições públicas, evidenciando a força de sua motivação para a aprendizagem, ora relacionada ao conteúdo do que aprende, ora à vaidade que demanda ser atendida nas oportunidades sociais através das exibições públicas.

• Questões sobre o violino:

Você gosta de tocar violino?
Guilherme Siqueira: Gosto.

Do que você mais gosta quando toca violino?
GS: De aprender.

Você se apresentou em público numa praça de sua cidade. Você gostou de se apresentar?
GS: Gostei.

Você se apresentaria em outras ocasiões, em outros lugares?
GS: Me apresentaria.

Você continuaria estudando para aprender mais e aparecer mais em público em outras apresentações?
GS: Sim.

Você se sente importante ao se apresentar na frente de outras pessoas?
GS: Sim.

• Questões sobre o caratê:

Por que você gosta de aprender a lutar caratê?
GS: Porque eu quero ser faixa-preta.

Você se sente importante vendo as pessoas olharem você lutar caratê?
GS: Eu me sinto.

Para quem conhece essa criança, as suas respostas são apenas o refl exo de como ela se sente cotidianamente. É bom lembrar que existem crianças com certos tipos de personalidade que, ao contrário, não gostam de aparecer podendo uma situação pública de evidência significativa lhes causar mal-estar.

No entanto, para aquele que deseja satisfazer a sua vaidade, e se é possível conciliá-la com o desenvolvimento por meio da aprendizagem, vale a pena facilitar o caminho para tal evolução. Cabe aos pais e ao educador a percepção a respeito de como se motiva a criança em sua convivência social, para não deixar passar despercebida uma chance considerável de crescer, formar um bom autoconceito e se satisfazer conforme as suas próprias necessidades, levando-a a um treino que lhe poderá ser útil na vida adulta, caso continue a exercitar os seus direitos de ser humano e progredir.

Armando Correa de Siqueira Neto é psicólogo (CRP 06/69637) e diretor da Self Consultoria em Gestão de Pessoas. É professor e Mestre em Liderança pela Unisa Business School. Contato: selfcursos@uol.com.br.

Referência Bibliográfica

WITTER, Geraldina Porto e LOMÔNACO, José Fernando Bitencourt. Psicologia da Aprendizagem. São Paulo: EPU, 1984.

cubos