Edição 126
Profissionalismo
A força que há em cada professor e professora
Nildo Lage
Profissão: professor! Um ofício exclusivo dos fortes! Na verdade, é encargo para herói! Não é revestido pelo sistema com a capa da justiça, todavia é respeitado pela importância do seu trabalho; não é reconhecido pelo legado deixado a cada vida que passa sob a sua regência, mesmo assim não recua, tampouco abdica do posto, por não se intimidar perante os desafios.
Sua ousadia transcende aos reptos de uma sala de aula tumultuosa, agressiva, pois, quando tudo parece estar perdido, angaria coragem, arrosta as más condições de trabalho e dosa o desânimo incitado pela baixa remuneração, sobressaindo com atitudes que incentivam e seguindo em frente.
Como todo herói que não foge à luta, suplanta maus tempos, ultrapassa destratos que afetam o eu, graças à força gerada pela aspiração de desempenhar seus desígnios em nome de um ser denominado aluno.
Essa força o torna tão genuíno que permite, também, ser tratado como máquina, cujo combustível — o sonho de ver seus alunos vencedores — não o fortalece o bastante para encorajá-lo. Todavia, ainda desabastecido de valorização, recorre à força interior e gera em si a energia para se autofortalecer; assim, não interrompe a caminhada.
Por amor à profissão, reage, blinda o eu, adiciona forças ao desejo de chegar e segue adiante, triturando problemas sociais e familiares. Para suplantar as dificuldades discentes, não contabiliza esforços nem se detém ante aos golpes… tão somente progride, para que o processo educacional não seja interrompido.
Ainda não sendo reconhecido como o melhor, faz a diferença por ofertar o seu melhor àqueles que dependem de um agir humanizado para avançar na caça dos sonhos de humano. Porque, se agisse pela importância profissional e valorização financeira, a educação desfaleceria.
Professor tem que despertar para a realidade e compreender que deveres e direitos são caminhos paralelos.”
Seu operar desprendido de pretensões converte o espaço escolar em um ambiente tão expressivo que o processo educacional sobrevém numa sequência de ações ininterruptas, decompondo a sala de aula num lugar de transformação humana, pois a formação crítica sobressai ao potencial humano, prevalecendo a inclusão; e essa inserção do indivíduo como ator principal no enredo do processo educacional faz cumprir os desígnios da educação.
Todavia, chega o instante em que o grito não pode mais ser comprimido! É preciso bradar: “ABANQUE A LEI NA MESA!”, para que dê a aluno o que é de aluno e a professor o que é de professor!
Aceitar ser tratado como anho é consentir o holocausto! Professor tem que despertar para a realidade e compreender que deveres e direitos são caminhos paralelos. A partir do instante que os seus deveres docentes são cumpridos, pode estender a mão e impor o que lhe é de direito conquistado. Contudo, ele conhece esses direitos instituídos por lei?
Abdique do giz por um momento para termos uma conversa de professor para professor: vamos começar pelo estipêndio! Relaxa! Não é nenhuma variante! É remuneração! Seu transpirado ordenado, e, se esse for por hora-aula, fique precavido, porque muitos cálculos são feitos sempre para baixo — quatro semanas.
Independentemente de feriado ou recesso, o cálculo é o mesmo e deve ser feito em quatro semanas e meia. Ou seja pode-se trabalhar até 44 horas semanais e, como as jornadas são divididas em turnos — matutino, vespertino e noturno —, dois turnos — oito horas diárias —, com acréscimo das horas de preparação de conteúdo das disciplinas.
Como sabemos que remuneração é o motor que impulsiona as paralisações por melhorias da classe, é bom saber que esse direito é amparado pelo art. 320, precisamente no Parágrafo primeiro da CLT: “A remuneração dos professores será fixada pelo número de aulas semanais, na conformidade dos horários”.
Que o pagamento será mensalmente, todos sabemos, mas é bom considerar — só para aprendermos a fórmula do cálculo — que cada mês é constituído de quatro semanas e meia, conforme descrito na Súmula 351 do TST: “O professor que recebe salário mensal à base de hora-aula tem direito ao acréscimo de 1/6 a título de repouso semanal remunerado, considerando-se para esse fim o mês de quatro semanas e meia”. Esse clarear vai dilatar o seu olhar para visualizar direitos trabalhistas do professor que muitos desconhecem.
Vamos nos deparar também com a muralha 5.531, edificada em 27 de agosto de 2015! Lei que decreta, no seu art. 1º, medidas que proporcionam a zona de segurança do professor, garantindo a autoridade docente em sala de aula, pois “Estabelece procedimentos e medidas para assegurar a proteção ao professor e ao servidor ou empregado da educação no convívio com estudantes e seus pais ou responsáveis”.
Não discorra que professor contratado está desamparado, à mercê dos vilões do planeta educação. Muitas vezes, aceita ser explorado por desconhecer direitos e, em casos exclusos, admite isso para garantir a vaga.
Tem direito, inclusive, de aposentadoria. Fator que provoca ansiedade, principalmente com as novas regras. Essa insegurança acende angústia, que é ostentada pelo atroz INSS.
Seu sistema é eficaz! Nunca falha, pois não altera a configuração da sua calculadora, programada para a conta do servidor nunca fechar. Essa onda de pontuação desafia aqueles cuja idade não permite ter mais forças para interligar com o tempo de contribuição.
Como a convergência foi desenvolvida, exclusivamente, para dificultar, professor que bater à porta do carrasco hoje tem que ter exatos 57 anos e 6 meses; professora, 52 anos, sem descrever que deve levar os comprovantes da contribuição estipulados para que a contabilidade idade-contribuição-pontos conclua com literalidade.
Os que não suportarem a sobrecarga idade-contribuição, devido às corrosões físicas, psicológicas e emocionais provocadas pelos desgastes do serviço, dependendo da idade e do tempo de contribuição, podem renunciar ganhos futuros e recorrerem à aposentaria proporcional. Todavia, com perdas proporcionais provocadas pela soma idade-contribuição.
Já os que não tolerarem o peso dos encargos de uma sala de aula têm uma veia de escape: correr e bradar por auxílio ao carnífice INSS, requerendo um “encosto” até que a idade chegue, as forças se esgotem e sejam contemplados por uma aposentadoria.
[…] não é preciso uma base de cálculos para assentarmos um trabalho que resgata vidas para a vida.“
Nesse caso, professor e professora não podem fraquejar?
Não há peso nem medida, tampouco dispositivo contemporâneo que meça a força de um profissional que dilata caminhos pelos labirintos de uma sala de aula para resgatar vidas.
O encargo instiga afrontar, de peito aberto, as violências doméstica e urbana e sustentar todos os sentidos em alerta para que a habilidade de se esquivar das flechadas arremessadas pelos conflitos sociais e familiares e da própria violência discente o permita transitar pelas dependências da escola e chegar ao final de mais um dia letivo ileso.
Ante tamanha entrega, aferimos a eficácia de cada professor e professora; não é preciso uma base de cálculos para assentarmos um trabalho que resgata vidas para a vida. Basta salientarmos, através do reconhecimento e da valorização, direitos estabelecidos por lei a um lutador nobre, cujo trabalho enriquece o indivíduo para crescer na vida. Nem é necessária uma pesquisa minudenciada. É só questionar na sala dos professores: “Quais são os seus deveres?”.
A resposta ressoa num coro sincronizado: na verdade, professor não tem deveres, desempenha encargos, pois o sistema assenta em seus ombros uma carga de obrigações; entre elas, ser frequente e pontual.
Do contrário, o gestor emite uma ocorrência que coloca em xeque sua eficácia profissional, o comprometimento com seus alunos, a própria segurança da regência da sala. Cumprir essas obrigações vai além de desempenhar funções. O professor é impelido a abdicar de compromissos pessoais, doar-se a ponto de abrir mão de momentos com a própria família para acatar às reivindicações da escola.
O fato é que professor não pode nem adoecer, do contrário é inserido no classificado “folgados”. Porque o afastamento, mesmo em caso de doença de filhos ou cônjuge, interrompe o extraordinário processo de relações interpessoais que ativam a vida escolar do seu cliente.
O sistema, de tão imparcial quanto à situação do professor, torna-se frio a ponto de não se relacionar com o profissional, cuja força agencia a rotatividade de vidas na escola… Contudo, declara em alto tom que a relação professor-aluno é tudo… Tão fundamental que, se o professor fraquejar impactado pela doença ou até mortes de parentes próximos, um ponto do processo é desligado, porque a sua ação educacional é basilar no procedimento ensino-aprendizagem, para não desviar seus alunos do foco sucesso educativo.
Trocando em miúdos, professor tem que ser imune aos vírus que ameaçam a própria vida e a vida de filhos e familiares e trazer na ponta da língua a lista de obrigações. Contudo, tem conhecimento e usufrui dos seus direitos?
A dança de cadeiras na sala de aula obedece a uma cadência ininterrupta. Uns entram e se afastam, regressam, aposentam-se ignorando os próprios direitos. A deficiência da informação docente é de tal dimensão que a população educadora avança alheia aos benefícios que esses direitos podem lhes proporcionar no próprio presente, caso necessitem recorrer a benefícios, como afastamento por motivo de doença.
Perdeu a direção? Não! Às vezes, negligencia por falta de ciência em relação aos direitos, e essa proporção se estende ao universo educação, que não se impacta para romper as trincheiras da ignorância docente.
A deficiência é de uma altivez que os ecos dos gritos de direito à educação são confundidos com os dos direitos da educação. E sabemos que, para cumprir deveres para se beneficiar de direitos, não é necessário investimentos exorbitantes, obras faraônicas; basta querer o melhor àqueles que buscam, na educação, uma oportunidade para conquistar um lugar ao sol.
Sobral, no Ceará, é um exemplo de que podemos crescer com o que temos, pois é possível atender a demandas ajustando falhas educacionais sem sacrificar outros setores do serviço público. O caminho? Escolha verdadeira dos gestores! Quer mais exemplo? Nova Viçosa, extremo sul da Bahia!
Com menos de dois anos de gestão, a educação nova-viçosense apresenta uma roupagem contemporânea — se comparada ao que se tem na região —, com melhorias das unidades de ensino, que receberam, além de adequações, móveis, quadros de vidro, merenda de qualidade, climatização e ajustamento salarial do professor.
É pouco para um profissional que forma todas as profissões? É! É ser bonzinho, fazer uma gracinha para o professor? Não! É direito instituído por lei! E lei constitui obrigação, comprometimento, execução que deve ser refletida por ações que proporcionam condições de trabalho dignas.
Reconhecer e valorizar o professor é unir forças com aquele que se doa, excede, oferece o seu melhor, posiciona-se como haste para proporcionar equilíbrio e fazer da escola um espaço que agencie o desenvolvimento humano.
A justiça ao trabalho do professor humaniza o setor que prepara para a vida, estendendo essa essência aos que chegam ambicionando ser tratados como seres que acreditam no poder da educação para dilatar os horizontes das oportunidades, salientado aos que atracam o bote da educação numa corredeira que evolução não sobrevém de pinotes aleatórios. Evolução é um processo que estabelece gerir recursos para atender a demandas por meio do agir ininterrupto, todavia cônscio, para acatar anseios.
Não adianta embromar, apresentar planos mirabolantes. O indivíduo reflete o que recebe, e a educação escolar o aperfeiçoa para progredir como indivíduo consciente do seu papel, excepcionalmente, de cidadão.
Se conhecemos o caminho, basta levar a educação a sério para que o alvo, educação formadora, seja acertado; e tal propósito só será atingido quando professores forem calçados pela sandália da justiça, e, para tal, é primordial que sejam tratados como agentes que se tornam mestres na arte de perfilhar sonhos, porque esse humano necessita, além de condições dignas de trabalho e valorização profissional, de respeito.
Quando agir? Agora! Para que o procedimento de extrusão a que a educação foi submetida no pós-Covid não estrangule o profissional que é fundamental no processo educativo.
Sobral, Nova Viçosa e outros, cujos gestores fazem a diferença, salientaram ao País que querer o melhor para o outro é a mola propulsora para principiar o processo de avanços; harmonizar oportunidades por meio de uma educação formadora é humanizar para atender aos gritos de justiça procedentes da sala de aula e o fazer com justiça, é a energia para atrair justiça social! Sendo assim, por que o não fazer?
Se o não fazer vigorar, a qualidade despontará em pontos isolados, e imperará a transferência de dados sem a construção do conhecimento, sequenciando a falta de oportunidades que alimenta a injustiça, porque o ato de ensinar progredirá no molde genérico, num processo que repassa conteúdos, e não conhecimentos, e, de tal modo, prosseguiremos às cegas, sem atingirmos os objetivos da educação.
É surpreendente como a educação está sempre em segundo plano no país do futuro.“
A deficiência de conhecimento que agencia o esquecimento de direitos
Num país com expansão continental, cuja realidade educacional não exibe retornos ante aos valores investidos, expõe-se a inabilidade de um sistema que gira, corre, ostenta, repele o foco para se esquivar dos fracassos, impele a sujeira para baixo do tapete, silencia e foca no horizonte com cara de quem cumpriu a missão com sucesso.
É surpreendente como a educação está sempre em segundo plano no país do futuro. Vivemos tão atrelados ao passado que é inevitável o grito: que futuro?
Que futuro? Se professor não é valorizado, reconhecido pelos seus valores? E o mais insuportável: alardeamos na culminância da classificação que ostenta o Brasil no topo de países onde o professor é mais agredido.
O massacre em massa salienta que até as entidades da classe usam a força que há em cada professor como combustível para fazer girar a máquina política, dando as costas para um setor cujos envolvidos — professores e professoras — permitem ser ludibriados, humilhados e manuseados como ferramenta eleitoreira.
A submissão é tamanha que esses heróis relutam em angariar forças para conservar a mão direita estendida ao aluno e a esquerda implorando valorização, reconhecimento, aporte e suporte.
É tanto indeferimento de direitos que a carreira docente se torna uma cadência de mendigação por subsídios quando a dor se energiza, grita por justiça, por leis. Que leis? Estão aí, estampadas na tabuleta. Por que não ler, não pesquisar? Conhecimento dilata os horizontes das conquistas profissionais, professor! Busque-o! Professor fortalecido fortalece a educação!
Seja consciente, acenda-se para a realidade… Consciência estabelece maturidade! Sendo assim, amadureça por meio de preceitos que anteparam a classe. Esse subsídio o faz crescer financeira e profissionalmente. Portanto, cresça. Crescer é estimar a si mesmo, que se doa para o outro impelido pela esperança de edificar um mundo sem tantas injustiças.
Deem-se as mãos, unifiquem forças! Professor e professora são fortes pela própria natureza. Usem essa força para romper as barreiras da injustiça com a classe… Por que se agigantam para cumprir obrigações e, no instante seguinte, silenciam-se e se reduzem ante aos desafios de buscar os próprios direitos?
Diante de tanta força, por que se permite ser manobrado por um sistema gerido por manigâncias políticas e, mesmo comprimido num ambiente agressivo, cumpre obrigações, atinge metas para atender aos direitos daqueles que são postos sob a sua regência?
Não é falta de alerta, direcionamento, pois o sistema tem consciência de que ser professor no Brasil é padecer no paraíso.
O depoimento da professora Quézia Amorim, da Escola Laura Bandeira, em Nova Viçosa, é reflexo de que a primeira medida a ser tomada é fazer justiça, pois, ao ser questionada sobre a força, os direitos e a valorização do professor, não oscilou antes de dar uma declaração seguramente afiançada nas mais de duas décadas em sala de aula. Confira o depoimento dela:
Quando se fala em direitos e valorização do profissional da educação, é preciso ponderar questões intrínsecas a esse tema! Uma delas é o próprio conhecimento que alguns professores não possuem a respeito de seus direitos, o que o atrapalha na reivindicação desses direitos e os impede de saber em quem confiar para defendê-los!
Muitas vezes, por alguns não terem conhecimento de direitos que são estabelecidos por lei, confiam as suas causas a órgãos públicos, que, no que lhe concernem, usam de intenções e manobras meramente políticas e dissociadas da verdadeira valorização do profissional.
Como professora, anseio por uma escola que esteja aliada a órgãos competentes, que visam uma qualidade educacional ampla, em que todos os envolvidos nesse processo de construção do conhecimento humano sejam dignamente guiados por políticas educacionais justas, capazes de promover mudanças reais e que saiam das linhas escritas em papéis.
Precisamos de mudanças que busquem atingir pais, alunos e profissionais da educação, em conjunto, para formarem o todo, com respeito, estrutura física nos espaços educacionais, auxílio socioemocional e psíquico, dentre tantas outras necessidades básicas no espaço escolar.
Porque educação acontece não só com livros ou palavras ditas e escritas, mas com ações que fazem a diferença para muitos que necessitam de transformação para transformarem também a sociedade!
Contudo, vale salientar que todos os que fazem parte do magistério devem e podem defender seus direitos, como uma boa remuneração e uma escola bem estruturada, afinal passamos parte dos nossos dias dentro dela, o que nos torna vulneráveis a receber uma carga emocional que, muitas vezes, traz transtornos e síndromes psicoemocionais.
Como todo profissional que ambiciona ser valorizado, o professor sonha com uma escola mais humanizada, com os direitos respeitados, verdadeiramente garantidos, não como um favor, mas como reconhecimento de um ofício que deve ser valorizado pela grandeza da sua atuação na formação profissional do próprio ser humano.
É esse sonho que me fortalece, faz-me prosseguir, acreditando que este país pode encontrar o caminho da justiça, excepcionalmente social, por meio da educação!
Em meio aos desconhecimentos, o grande desafio para o sistema
Adotar a ferramenta retidão para esfacelar manobras que impedem ações que equiparem a qualidade em todas as regiões do País é o primeiro ato para
movimentar as enferrujadas engrenagens de um sistema que não atrai os melhores para a sala de aula, pois os melhores se valorizam. Assim, é preciso valorização profissional, pois os melhores têm preço, e reconhecimento ao desempenho que apresenta resultados positivos e constitui justiça para motivar, pelo menos, os que estão em atividade.
Somente com justiça, é possível rever preceitos e reavaliar direitos para as quase 270 mil escolas de ensinos Infantil, Fundamental e Médio, cuja demanda de professores ultrapassa os 2,5 milhões e salienta uma desproporção de direitos e valores, excepcionalmente nos vencimentos. Mesmo com os altos investimentos — superiores aos de países desenvolvidos —, a qualidade do ensino oferecido não atende ao desejado, e os resultados estão na tabuleta para quem quiser ver: 59ª posição, e mais: perdeu duas posições no Anuário de Competitividade.
Colocando esses algarismos na prancheta, visualizaremos números exorbitantes, pois, se fizermos o paralelo com a Finlândia, que tem 5.531.000 habitantes (2020) — Banco Mundial — e uma das melhores educações do planeta, temos uma nação de mestres arremessados pelos portões da escola e largados à própria sorte.
Onde erramos? Não termos a própria tendência? O que falta? Gestão de recursos ou de pessoas? Ou tamanha desordem é reflexo da inexistência de incentivo e valorização dos profissionais da educação?
Ante tantos retrocessos e empecilhos, é impossível não prosseguirmos com questionamentos: os professores conhecem os seus direitos? Por que permitem que tais direitos sejam esmiuçados pela marreta política?
Até quando se conservarão na dependência, delegando a instituições autonomia para reproduzirem o seu grito, admitindo serem encabrestados e conduzidos para atenderem a ambições políticas de grupos?
Vocês lotados nas entidades privadas têm conhecimento de que, na CLT, há uma seção que foi prenotada, exclusivamente, para assegurar os direitos fundamentais aos que exercem o magistério? Têm ciência de que o art. 318 da Consolidação das Leis do Trabalho assegurava que: “Professores não podem dar mais de quatro aulas consecutivas por dia para uma mesma escola nem mais de seis intercaladas”?
Sabiam que esse desfalque foi revogado pela mesma CLT no art. 318 da Lei nº 13.415, de 2017: “[…] o professor pode lecionar em um mesmo estabelecimento por mais de um turno, desde que não ultrapasse a jornada de trabalho semanal estabelecida legalmente, assegurado e não computado o intervalo para refeição”?
Se não sabem, é uma pena! É dolente, mas devo lhes dizer que professor necessita ler mais, analisar mais… Parar de viajar em alusões, obedecendo às coordenadas delineadas pelas entidades de classe que o usa como instrumento para atingir interesses políticos, e ouvir a voz do eu, do outro, só para se certificar de que professor forte é professor informado.
O desconhecimento dos próprios direitos desmotiva os sonhadores a se tornarem professores! Virou fábula cujo bicho-papão afugenta os sonhadores das salas dos cursos: ninguém quer ser professor porque o descaso com a profissão desmotiva, e você perde batalhas importantes por ignorar direitos prescritos, excepcionalmente, no art. 67 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional:
“Os sistemas de ensino promoverão a valorização dos profissionais da educação, assegurando-lhes, inclusive nos termos dos estatutos e dos planos de carreira do magistério público:
I — Ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos.
II — Aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive com licenciamento periódico remunerado para esse fim.
III— Piso salarial profissional.
IV — Progressão funcional baseada na titulação ou habilitação e na avaliação do desempenho.
V — Período reservado a estudos, planejamento e avaliação incluído na carga de trabalho.
VI — Condições adequadas de trabalho.”
É muita informação? Que seja! Mas se informe que dói menos! Resete os velhos códigos, os ultrapassados procedimentos… Exclua os discursos essencialmente políticos, pois o seu não saber, além de o impedir de usufruir de benefícios descritos por direito constitucional, provoca o maior crime no ambiente escolar: a exclusão do seu aluno.
Se você faz parte da parcela que tem receio de arrebatar a viseira para visualizar que direitos são cidadania, lucros e, por que não?, política, desperte, informe-se dos seus direitos, atualize o seu sistema para usufruir deles! Toda transformação começa com o despertar. De tal modo, abra os olhos, dê um passo à frente, saia das trevas do desconhecimento para entrever o horizonte que a sua força pode dilatar para larguear a vereda dos seus direitos.
O desconhecimento é uma nuvem que impede o professor de conceber o horizonte à sua frente, pois bloqueia a visão. Essa cegueira, de tão intensa, converte-se numa muralha que dificulta contemplar e compreender que se conservar estagnado à espera da iniciativa do outro é ceifar direitos pela ferramenta ignorância, e essa deficiência de informação promove o desequilíbrio que aloca a classe num aglomerado de subordinados, salientando o ponto em que estamos: uma educação engessada, em que o principal membro é fincado diante de uma turma como um poste que ilumina as vidas que passam por ele e se conserva na penumbra da própria existência.
Porque o sistema, perdido nos crivos, não cadencia os passos para sustentar a sequência didática. Tais oscilações o impede de abordar o planejamento do professor e suas dificuldades. Assim, não cura a chaga aberta pelos dois anos que a Covid dilatou ao estagnar o planeta: alfabetizar pós-pandemia.
Como não conseguem cumprir desígnios, municípios tropeçam, desligam o farol que guia a educação, por não atingirem a meta 5 do Plano Nacional de Educação: “Alfabetizar todas as crianças do País até, no máximo, o final do 3º ano do Ensino Fundamental”. E, se prosseguirmos dilatando a fratura, chegaremos ao epicentro do que provocou a greta da prática docente, refletindo a origem do câncer que impede a educação de dar certo: pobreza aliada à falta de oportunidades.
Assim, fica difícil inserir conteúdos por disciplinas que atendam ao básico do Direito Constitucional, e, sem cumprimento de direitos, a cidadania progride na contramão, porque os fundamentos de crianças, jovens e adolescentes que são desenvolvidos nessa trajetória não advém, mesmo com um esquadrão de milhões de professores e professoras dando o seu melhor.
O que dizer mais?
Reconhecer essa força que arrasta o País para distanciá-lo das trevas do analfabetismo! Sendo assim, tudo o que resta é bater palmas e bradar: “parabéns, professor! Parabéns, professora! Parabéns, heróis da obstinação, cuja resistência aos desafios faz com que a educação ainda seja a esperança daqueles que aspiram vencer na vida!”.
Ao deliberarem pelo ofício do magistério, a primeira qualidade que ressaltaram foi a que fortalece o humano para exceder aos desafios em que o próprio humano, muitas vezes, é deficiente: a coragem!
Coragem para afrontar as provocações arremessadas pelos que chegam necessitados de quase tudo.”
Coragem para afrontar as provocações arremessadas pelos que chegam necessitados de quase tudo, elevando seus alunos a um nível que somente os braços educadores alcançam: a plataforma que suplanta a complexidade humana e, mesmo entre tantas dificuldades, acata as necessidades individuais, projetando para a vitória.
As competências que formam sua estrutura profissional para transmitir conhecimentos que a faculdade não lhe deu são granjeadas no exercer do próprio ofício, graças ao amor, à dedicação, aos esforços na lida com aqueles que chegam nus de saber e partem em busca de seus ideais vestidos de conhecimentos e valores que o acompanharão por toda a vida.
Por isso, não desistam do amor! Não desistam da vida! Porque, se abandonarem o posto, vidas serão deixadas à própria sorte. Porque é em vocês, professores e professoras, que exala a força do saber que conduz ao sucesso.
Aos que ainda não vislumbraram esse horizonte: saiam da bolha e divisem que essa força que há em vocês gera a energia que ilumina vidas na escuridão social. De tão importantes para essas vidas, suas atuações se tornam essenciais à vitória do humano numa coletividade cada vez mais desprovida de valores.
Milagre? Não! A beleza na sua ação de ensinar adapta o agir com a nova realidade educacional, aperfeiçoando o próprio eu para ser transportado pelo veículo da sabedoria, salientando não apenas nobreza, mas a importância da força suscitada em cada professor e cada professora na reconstrução de um mundo que brada por direcionamento e que somente o seu toque aciona o dispositivo que proporciona a formação humana, oportunizando aos que passam sob sua regência estruturas para se auto-orientarem por meio do farol da educação.