Edição 25

Professor Construir

A Importância da Avaliação Física na Criança e no Adolescente em Fase Escolar

301961_8928A Avaliação Física durante o período escolar tem como base a aplicação de uma série de procedimentos que visam a acompanhar, minuciosamente, o desenvolvimento da criança e do adolescente. Sua prática consiste na aplicação sistematizada e científica de técnicas de mensuração que permitam analisar, de forma qualitativa, os aspectos físicos e as adaptações em função do tempo. A aplicação de uma avaliação física periódica possui inúmeros benefícios, principalmente o de identificar possíveis distúrbios de ordem motora, postural e metabólica. Dessa forma, pode-se classificar indivíduos ou grupos de risco e, através de descrições e comparações, elaborar programas preventivos ou até mesmo interventivos no contexto escolar.

Distúrbios físicos comuns na criança e no adolescente em fase escolar

Concomitantemente às constantes modificações ocorridas nos padrões de comportamento no mundo contemporâneo, observa-se um aumento nos distúrbios físicos e psíquicos entre crianças e adolescentes. Entre os distúrbios físicos mais comuns, podemos citar: a obesidade, os desvios posturais, as alterações no crescimento e o comprometimento dos padrões motores.

Obesidade infantil

A obesidade é um problema crescente no mundo. Segundo a Organização Pan-americana de Saúde (Opas), “a obesidade infantil já apresenta dimensões epidêmicas em algumas áreas e ascendentes em outras. No mundo, existem 17,6 milhões de crianças obesas com idade menor que 5 anos”. No Brasil, segundo a Opas, o índice de obesidade infanto-juvenil subiu 240% nas últimas duas décadas. Em estudo recente, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem) indica que 15% das nossas crianças estão obesas.
Essa também é uma preocupação que deve sensibilizar as instituições de ensino, pois a obesidade, além de criar dificuldade de socialização, pode aumentar a incidência de problemas ortopédicos e dermatológicos e favorecer a aquisição de doenças crônicas degenerativas, como: diabetes, acidente vascular cerebral, cardiopatias, hipertensão, osteoartrites, câncer, osteoporose, entre outras, aumentando, consideravelmente, os fatores de risco para a mortalidade. Estudos indicam que crianças obesas aumentam em três vezes as chances de ser um adulto obeso, enquanto adolescentes obesos apresentam 70% de chances de adquirir algum tipo de doença crônica na idade adulta.
A obesidade pode ser adquirida através de um conjunto de fatores: biológicos (ex.: genéticos e fisiológicos), culturais (ex.: prática alimentar e atividade física) e psicológicos, proporcionando ao organismo o acúmulo excessivo de energia sob a forma de gordura. Apesar de sua etiologia multifária, o aspecto preponderante no desenvolvimento da obesidade é a relação entre a quantidade de energia ingerida e a gasta. Assim, a “epidemia” de obesidade é atribuída, principalmente, a mudanças de hábitos alimentares (aumento na aquisição de energia) e ao sedentarismo (diminuição no gasto de energia). Nesse contexto, podemos destacar alguns hábitos indesejáveis adquiridos na infância e adolescência que são determinantes no desenvolvimento da obesidade: declínio no número de crianças que participam de atividades físicas na escola e no lar, aumento de passatempos sedentários (televisão e computador) e aumento da ingestão de alimentos hipercalóricos e de baixo valor nutritivo.

339494_3631Alterações posturais

No Brasil, estima-se que 70% dos jovens entre cinco e catorze anos possuem ou vão adquirir alguma alteração postural. Vários são os fatores que podem causar desvios posturais em crianças e adolescentes. Entre os mais comuns, destacam-se: permanecer muito tempo sentado (televisão, computador, sala de aula), transportar mochilas escolares pesadas e sedentarismo.
As patologias ortopédicas de ordem postural surgem, em sua maioria, entre os sete e catorze anos de idade, principalmente por ser nesse período que a criança está mais susceptível a alterações no sistema ósseo e articular, favorecendo o surgimento de deformidades. Também é devido à enorme plasticidade das estruturas relacionadas à postura que a implementação de programas de prevenção e correção postural durante o período de crescimento encontra maiores chances de êxito. Justifica-se, diante disso, a importância da prevenção e do diagnóstico de desvios posturais nas idades mais tenras. Se a má postura não for corrigida, o indivíduo poderá apresentar uma série de doenças na fase adulta: artrose, artrite, bursite, hérnia de disco, entre outras.

Avaliação da aptidão física e sua importância

O Colégio Americano de Medicina Esportiva (ACSM), em seu posicionamento oficial sobre a aptidão física na infância e adolescência, considera que:
A avaliação do condicionamento físico é uma visível e importante parte dos programas de aptidão física. Escolas, comunidades, estados e organizações nacionais devem adotar uma aproximação lógica, consistente e científica sobre a avaliação da aptidão física. O foco da avaliação física deve ser relacionado à saúde, em vez de ser relacionado à forma. A aptidão física é primariamente determinada pela prática de atividade física e é operacionalmente definida como o desempenho atingido nos seguintes testes: potência aeróbia, composição corporal, flexibilidade, força e resistência dos músculos esqueléticos. A aptidão física é importante durante a vida para desenvolver e manter a capacidade funcional para as demandas vitais e promoção de saúde.

O auxílio da informática no processo de Avaliação Física

Atualmente, existem programas informatizados que trazem avaliações antropométricas, psicomotoras e posturais específicas para serem aplicadas em crianças e adolescentes, facilitando mais ainda sua operacionalização. Dessa forma, as instituições de ensino deveriam desenvolver estratégias que contemplassem a realização periódica dessas avaliações, que, incontestavelmente, demonstram ser um instrumento eficiente, seguro e de baixo custo no acompanhamento do desenvolvimento e da maturação da criança e do adolescente, possibilitando a detecção, a prevenção e a intervenção precoce sobre possíveis distúrbios físicos que possam acometê-los durante a fase escolar.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GOBBI, Sebastião; VILLAR, Rodrigo e ZAGO, Anderson Saranz. Bases teórico-práticas do condicionamento físico. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.
Organização Pan-americana da Saúde / Organização Mundial da Saúde. Doenças crônico-degenerativas e obesidade: estratégia mundial sobre alimentação saudável, atividade física e saúde. Brasília, 2003.
Aptidão física na infância e adolescência – Posicionamento Oficial do Colégio Americano de Medicina Esportiva (Publicado no site www.acsm.org).
ASTRAND, Per-Olof. Why exercise? Medicine and science in sports and exercise, v. 24, n. 2, p. 153-62, 1992.
LAPIERRE, André. A reeducação física. v. 1. São Paulo: Manole, 1982.
BRACCIALLI, Lígia Maria Presumido & VILARTA, Roberto. Aspectos a serem considerados na elaboração de programas de prevenção e orientação de problemas posturais. Revista Paulista de Educação Física. São Paulo, 14(1):16-28, jan./jun. 2000.
Diretrizes do ACSM para os testes de esforço e sua prescrição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003.

AUTORES:
ANDRÉ LUÍS AMARAL RODRIGUES ALMEIDA
Graduação: Escola Superior de Educação Física da Fundação de Ensino Superior de Pernambuco; Título: Licenciatura Plena em Educação Física; Mestre em Educação Física (Área de concentração: Biologia Celular e Tecidual) ICB-USP/SP; Especialista em Condicionamento Físico Aplicado à Prevenção Cardiológica Primária e Secundária pela Universidade de São Paulo (USP) e Instituto do Coração (Incor); Ministrante no Programa de Pós-graduação lato sensu da Faculdade de Educação Física das Faculdades Metropolitanas Unidas de São Paulo (FMU); Ministrante no Programa de Pós-graduação lato sensu da Universidade Gama Filho (UGF) do Rio de Janeiro. E-mail: andrerod@usp.br.

RONALDO VILELA BARROS
Mestre em Educação Física (Área de concentração: Biodinâmica do Movimento Humano) – EEFE-USP/SP.
Pós-graduação lato sensu em Treinamento Desportivo – FMU/SP.
Certificação Nível II pela International Society for the Advancement of Kinanthropometry (Isak).
Membro do Laboratório de Desempenho Esportivo – Ladesp, EEFE/USP.
Professor colaborador no livro: Esporte e exercício: avaliação e prescrição.
Coordenador do Departamento de Prescrição de Atividades Físicas da Cia. Athletica/Cia. Express.
Diretor da empresa Inforfisic Acessoria esportiva.
E-mail: andrerod@usp.br

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