Edição 51

Diversidade e currículo escolar

Diversidade e currículo escolar

Márcia H. Koboldt Cavalcante

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Os estudos e as investigações na área de currículo têm crescido gradativamente. Ao mesmo passo, as concepções sobre ele vêm se modificando e avançando no decorrer da história. Atualmente, pensar o currículo escolar requer um olhar atento para as diferenças e multiplicidades de identidade presentes na escola. Durante longo período da história da Educação, o currículo escolar foi compreendido e implementado nas escolas como remédio, prescrito por alguns e administrado a todos os alunos a fim de transmitir conhecimento uniformemente, sem reconhecer as diferenças estampadas entre eles.

Ao longo dos tempos, a concepção de currículo, bem como a de educação, tem se alterado. Essa importante ferramenta educacional passou a ser compreendida para além da listagem de conteúdos, passando a ser um conjunto de ações e reflexões que possibilitam garantir a construção de conhecimento.

Pensar o todo

Dar vida ao currículo é ter claro, em primeiro lugar, que, além dos conteúdos, temas, eixos norteadores abordados em sala, tratamos do todo da escola. Ou seja, do conjunto de ações realizadas no âmbito escolar que servem para a promoção da aprendizagem.

A escola está traçando seu caminho curricular quando: define como será, ao longo do ano, a formação de professores; promove a participação dos alunos nas decisões e na gestão da escola; pensa a sua filosofia; planeja ações complementares realizadas no turno inverso às aulas; integra-se a atividades culturais da cidade; entre outras decisões pedagógicas.

Portanto, o processo de criar/elaborar/pensar o currículo também tem assumido nova forma, deixando de ser criado apenas por alguns, como professores ou supervisores escolares. E, assim, ficam responsáveis pelo processo de elaboração do currículo, junto com a equipe pedagógica da escola, os demais protagonistas do processo educativo, ou seja, professores, alunos, pais, mães, responsáveis, funcionários, etc.

Essa alteração na constituição do processo de criação curricular não é apenas para, democraticamente, dividir responsabilidades. Procura garantir a representatividade de interesses, desejos e necessidades das pessoas que contribuem no processo de construção escolar, a fim de diversificar a construção do currículo. Rompe-se, dessa forma, com a ideia de mais uma ação burocrática do campo administrativo-escolar para servir como instrumento de construção de cultura.

Currículo multicultural

Um dos principais desafios para as escolas é justamente criar estratégias para encantar os alunos. Como garantir que tenham interesse em aprender? Que queiram frequentar a escola? Que o prazer e a alegria predominem sobre a falta de limites e o descaso pelo conhecimento formal?

Não há receita pronta. Uma possibilidade, diante da pluralidade cultural presente nas escolas, é pensar no desenvolvimento de currículos que reúnam referências de diferentes universos culturais. Ou seja, escolher juntos ações/temas que, em uma perspectiva intercultural, possam promover, dentro da escola, a diversidade já encontrada por nossos alunos fora dela.

Nessa perspectiva, a escola ganha formas de centro cultural, espaço de promoção da vida. Onde o conhecimento universal, construído ao longo da história pela humanidade, será aprendido, sim, mas sem esquecer a vida dos alunos de hoje e suas múltiplas identidades contemporâneas.

O professor passa a ter o papel fundamental de mediador na construção das relações interculturais, promovendo processos de interação entre os alunos e o conhecimento.

No processo de formação de professores, é preciso abrir espaço para debates sobre temas contemporâneos, como cultura juvenil, reestruturação familiar, violência urbana e drogadição, tecnologia e educação, além das abordagens didático-pedagógicas necessárias à prática do professor.

Na escola de hoje, sem dúvida, há espaço para aprendizagem mútua, em que professores e alunos são, ao mesmo tempo, aprendentes e ensinantes. Basta que estejamos dispostos a fazer cada vez melhor e diferente!

A Escola

Jorge Palma

Eu nasci lá para os lados do rio,
passava os dias a jogar a bola.
Mas eu não era exceção.
E, antes que desse por isso,
já estava na escola.

O programa era elementar,
entre Euclides e Arquimedes.
Mas sempre que a informação
dá uma volta no espaço,
eu quero sintonizar.

A escola ainda não acabou,
há sempre tanta matéria a estudar
que eu chego mesmo a ter medo
de, em qualquer momento,
já não ter lugar
para mais conhecimento.

Já consigo filosofar,
sei uma ou duas palavras em grego.
Enquanto o tempo deixar
e a escola não se afundar,
vou alterando o meu ego.

Vou deixando as moscas pirarem,
vou vendo se Godot já chegou.
E, quando me dá na tola,
dou um chute na bola,
só para me aliviar.

Para assistir ao vídeo dessa música, acesse:
http://www.youtube.com/watch?v=2afhT7PRs.

Márcia H. Koboldt Cavalcante é professora, atua na realização de projetos sociais e integra a equipe de redação do jornal Mundo Jovem.
E-mail: marcia.cavalcante@pucrs.br

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