Edição 13

Espaço pedagógico

Educação para a Paz é disciplina em escola municipal

A proposta originou-se da I Conferência Juvenil para o Futuro, realizada em julho de 2000, na Terra Sagrada de China–Japão. Contou com a participação de representantes do Movimento Juvenil pela Unidade, composto de adolescentes dos cinco continentes que se dedicam à construção do mundo unido e do Movimento Humanidade Nova, coordenado por adultos e difundido nos cinco continentes com a finalidade de construir uma sociedade nova. Esses movimentos discutem a paz, em todos os campos das ciências, e partilham suas experiências de construtores do mundo unido.

Após a participação de representantes brasileiros do Movimento Juvenil pela Unidade, nesta primeira conferência, os adolescentes tiveram a iniciativa de buscar, junto aos representantes políticos (Congresso Nacional, assembléias legislativas e prefeituras), o compromisso para elaboração de projetos de promoção da paz no nosso país. Por esse caminho, um grupo articulou-se com os representantes públicos mais próximos, Câmara de Vereadores e Prefeitura de Igarassu, e lançou a proposta de inserção da disciplina Educação para a Paz na Matriz Curricular do Ensino Fundamental do Município. A Lei nº 2.351, de 28 de dezembro de 2000, consolida a proposta em projeto.

O projeto da inserção da disciplina, a ser iniciado na Educação Infantil e no Ensino Fundamental, objetiva formar uma consciência de solidariedade social que contribua para o crescimento moral e a aquisição de valores éticos que guiem o comportamento do indivíduo na família e na sociedade. A escola é o lugar mais adequado para a disseminação de valores humanistas, é onde se adquirem habilidades e se forjam projetos de vida. Com essa concepção, o processo de ensino–aprendizado amplia-se na prioridade do saber pelo pensar e fazer, como também do ser e conviver, promovendo, assim, harmonia entre as exigências do indivíduo e da sociedade, favorecendo o enriquecimento coletivo na cooperação e fraternidade.

O projeto foi implantado como experiência-piloto em duas escolas da Rede Municipal de Igarassu-PE (Escola Maria Cecília Vaz e Escola José Luiz de Barros), com envolvimento de todos os segmentos da escola, e constou das seguintes etapas:

1ª etapa – Formação de um Grupo de Trabalho para articulação e contatos com todos os envolvidos nos movimentos pela paz e com representantes da Secretaria de Educação do município.

2ª etapa – Sondagem do projeto, com discussão em todas as instâncias educacionais (escola, famílias e comunidade).

3ª etapa – Capacitação dos professores envolvidos na experiência-piloto.

4ª etapa – Desenvolvimento da proposta curricular a partir das etapas anteriores.

Como Proposta Curricular, a disciplina Educação para a Paz foi desenvolvida e fundamentada nos seguintes pressupostos:

* Ser um processo sistemático: aulas semanais com carga horá-
ria de trabalho correspondente às das outras disciplinas.
* Ser um processo globalizado: a formação do educando deve
envolver a escola, a família e a comunidade.
* Ser um processo transformador: integrar formação e ação, con
duzindo o aluno a ser agente e construtor de paz no seu ambiente.

O projeto de inserção da disciplina visa contribuir para a formação integral do educando, capacitando-o para ser um agente promotor da paz, desenvolvendo valores éticos que fundamentem e estimulem uma cultura da não-violência nas suas relações interpessoais e sociais, oferecendo, para tanto, oportunidades que viabilizem experiências e vivências para uma educação de qualidade.

Para o cumprimento desses objetivos, o projeto apresenta, como experiência-piloto, os seguintes princípios:

* A Paz não é apenas o fim de conflitos; a paz é um comporta-
mento: reconhecer e valorizar a paz com fundamento na exis-
tência humana, através dos temas Direitos Humanos – Direitos da Criança, Valores Universais, etc.
* Despertar a criticidade diante de situações ideológicas e desu-
manas, através dos temas: agressões à vida — diante de pre-
conceitos, desemprego, etc.
* Exercitar a autodeterminação diante das influências do consu-
mismo, das informações transmitidas pela mídia, através de vio-
lência (divulgada e silenciada), da invasão cultural pela TV, etc.
* Valorizar os fenômenos religiosos emergentes na cultura bra-
sileira e predispor ao diálogo, superando os preconceitos de
anticonfessionalismo, através de temas como: fenômenos re-
ligiosos, religiões, etc.
* Formação de atitudes afetivas, sociopolíticas e relações
interpessoais, através de temas como: sexualidade — na fa-
mília, no bairro, na escola, na cidade —, de organizações estu-
dantis, militância, etc.
* Despertar consciência ecológica, através de temas como: meio
ambiente, educação e comunidade — agressores à vida, etc.

Este projeto fundamenta-se na experiência da Escola Santa Maria, cuja metodologia se desenvolveu a partir dos processos de reflexão e vivência de valores, como a partilha e a solidariedade, por parte de todos os profissionais e das pessoas da comunidade, apresentando um resultado eficaz no trabalho social inovador e viável para nossa sociedade.

A Escola Santa Maria está localizada na Mariápolis Santa Maria, em Igarassu, cidade da Região Metropolitana do Recife (PE). Foi fundada pelo Movimento dos Folcolares em 1967 e sua filosofia pedagógica pauta-se
nos princípios da construção de uma Cultura da Paz.

Autoras: Maria de Lourdes Cavalcanti, Margarida Mendonça, Lúcia Cardoso, Gilda Lins, Maria José Luna, Mirian Cardoso Borges e Corine Raboud.

 

cubos