Edição 124

Professor Construir

Literacia e numeracia na educação

Nildo Lage

literancia-numeranciaA evolução das coisas conectadas transcendeu o desenvolvimento do humano, que se desnorteou nos próprios caminhos por não conseguir escoltar a sua cadência.

O interessante é que esse humano não acua ante desafios; pelo contrário, encara as provocações como impulso para prosseguir, dilata as veredas para atingir propósitos e, como o hodierno o seduz, afronta, por não se permitir ficar para trás e, assim, estender as suas buscas para navegar na onda do novo.

O ímpeto de ir além o instiga a correr. Corre tanto que transpassa o próprio tempo tão somente para não perder o compasso das inovações. Todavia, o planeta das coisas conectadas estabelece novos procedimentos a cada desenvolvimento, para que olhares se redirecionem para um horizonte indefinido, constituindo ferramentas que auxiliem no percurso, cujos caminhos decretam contabilizar as necessidades, para que sonhos e desejos que abrolham em meio às ameaças invisíveis possam subsistir, exigindo, da educação, novas metodologias para formar o cidadão moldado para um novo mundo.

E antes que a máscara seja descartada como garantia de proteção à vida, é preciso que tais ferramentas sejam inseridas como estremeção para dilatar os horizontes da sala de aula, pois, com ou sem anuência do sistema, a roupagem será trocada, e, se a própria evolução é inevitável, por que não aproveitar a temporada de reinício colivrosarceiros como literacia e numeracia?

Literacia? Numeracia? É uma nova variante? Ou objetos não identificados que ameaçam invadir o planeta educação?

O que é literacia e numeracia?

Para os letrados, que buscam respostas etimológicas, não perderem tempo, embarcam na revolucionária nave que imerge no universo da língua portuguesa e partem num voo sem escalas à origem: o latim litteratu, que é culto, e, como todo culto, tem ciência de que literacia é um substantivo feminino que expressa a desenvoltura para leitura e escrita e, mais, salienta a capacidade de ler e escrever.

E numeracia? É simples! É tão somente literacia matemática! E daí? Daí que numeracia, ou literacia matemática, acoplada à plataforma da literacia, unifica as competências que proporcionam desenvoltura para leitura e escrita à capacidade de implantar conhecimentos matemáticos. Essa junção desenvolve ações que auxiliam na solução de problemas para fazer do dia a dia uma escalada de superações.

As competências desenvolvidas pelo entendimento coerente é impulso para novos desafios e, por meio dessas habilidades, expressam os conceitos numéricos, ou seja, relacionar-se com os números para contabilizar perdas e ganhos.

Na verdade, numeracia adapta o discernimento matemático que aproxima dos resultados almejados, por facilitar o intercâmbio com os números, que promovem estrutura para delinear táticas que auxiliam no enfrentamento de situações do cotidiano sem tantos prejuízos.

Mas, se numeracia é literacia matemática, então é tudo literacia?

Não é difícil compreender, pois podemos demonstrar em poucas palavras que literacia é alfabetização. Nada além de um processo de escrita e leitura; já numeracia são as desenvolturas matemáticas.

O interessante é que esse humano não acua ante desafios; pelo contrário, encara as provocações como impulso para prosseguir, dilata as veredas para atingir propósitos e, como o hodierno o seduz, afronta, por não se permitir ficar para trás e, assim, estender as suas buscas para navegar na onda do novo.

Sendo assim, numeracia e literacia matemática, no frigir dos ovos, são literacia! Se a matemática alarga as competências para justapor conhecimentos matemáticos, literacia, alfabetização, é tudo literacia. Perdi a conta! Numeracia ou literacia?

Tanto faz? Não! Os desígnios são distintos! No desafiante processo de alfabetizar, literacia desobstrui as barreiras que dificultam a aprendizagem, uma vez que a língua escrita e oral metodologicamente corretas são o retorno de que a aprendizagem sobreveio num nível satisfatório, e esse retorno é sinal de que a essência da literacia foi absorvida pelos envolvidos.

Já numeracia facilita a contabilidade do próprio viver, pois, quando seus caminhos convergem com o da literacia, dilata olhares para visualizar o que a língua, escrita ou oral, exprime no próprio silêncio: o desejo de se instruir.

Já numeracia facilita a contabilidade do próprio viver, pois, quando seus caminhos convergem com o da literacia, dilata olhares para visualizar o que a língua, escrita ou oral, exprime no próprio silêncio: o desejo de se instruir. Mesmo conscientes de que literacia e numeracia não ajustam as contas do existir.menina_lendo_

Todavia, podem ser rotas para os que buscam, no ler e no escrever e, por que não?, no manuseio dos números, estrutura para adquirir resultados positivos por meio do conhecimento que transforma sonhos em realidade.

O surpreendente no universo literácico é que, de suas fontes, jorra tudo o que a educação ambiciona para formar para a vida, pois, além de promover uma aprendizagem homogênea, educa para a cidadania, uma vez que o processo de ensino-aprendizagem sobrevém num contorno natural, como resultado de um procedimento que atrai, aproxima, e, nessa interação, o intencional propósito da educação, que é o desenvolvimento humano, finalmente é alcançado.

Tais alvos são atingidos porque o particular que atende às ambições de cada eu é atendido, como amparo aos gritos que ecoam na sala de aula, salientando que a autêntica educação é a que acata os anseios dos que buscam um norte para alcançar desígnios pessoais.

O professor alfabetizador deve preparar sua base técnica para elaborar um currículo cujas ações arremessam para trás o jurássico, para que o novo assuma, definitivamente, o seu posto.

Porque o novo rejeita os algoritmos completos, o molde universal. Salientando que educar a geração alfa estabelece profissional experiente e consciente do seu desempenho de mediador do conhecimento. Porque literacia é um processo que promove a maturação discente por desobstruir as barreiras por meio do conjunto de aptidões e informações que transitam como veículos que facilitam a superação de dificuldades.

Todavia, estabelece que o mediador atenda ao particular para materializar desejos pessoais. Assim, respeitar o tempo, a anteposição discente, para evitar conflitos entre fomentador de conteúdos e receptador é trilhar os lineamentos da literacia para educar para a vida.

Como o tempo do aluno é o ritmo a ser escoltado, o professor deve recorrer ao universo digital para angariar subsídios que atraiam e prendam a atenção. E, por não desconectar nem conseguir viver socialmente no modo analógico, alicia em caráter de emergência a literacia digital como ferramenta mediadora, para que o fundamento da literacia na educação seja atingido.

Como o tempo do aluno é o ritmo a ser escoltado, o professor deve recorrer ao universo digital para angariar subsídios que atraiam e prendam a atenção.

Por que literacia digital?

Mesmo aqueles que não se preocupam com o desenvolvimento do seu aluno têm ciência de que a consciência digital é uma necessidade do humano do século XXI. De tal modo, não adianta se esquivar, dissimular, pois a competência digital é sustentáculo da aprendizagem.educacao

A troca de conhecimentos no modo analógico não seduz uma geração que se informa, comunica, compartilha, produz, reproduz, apresenta e expõe suas ideias por meio das plataformas digitais.

A dependência é de tal dimensão que estar online é viver. Se conexão é vida para o educando, educação e educador têm que se acoplar à vida do aluno.

O surpreendente é como educação e educador se conservam alheios. Todos têm noção de que literacia digital é inclusão, pois seus princípios respeitam a capacidade individual, acatam ideias, visualizam sonhos e os alocam numa plataforma que os contemporizam para granjear forma. Aplicá-la como metodologia é promover a dependência de uma geração formada por uma mídia opressora e permitir que a socialização seja bloqueada.

E educação sem socialização não forma para a vida. Sem socialização, o grito do eu não é ouvido, o pensamento particularizado não é manifestado e a capacidade de compreender é asfixiada num espaço que apenas informa, dispersa conteúdos e não é acessível ao tempo daquele que chega almejando crescer, não apenas pessoal, mas profissionalmente. Assim, a solução dos problemas, que deve sobrevir com a capacidade de sanar as dificuldades do cotidiano, não sobrevém.

socializacaoNosso aluno é originário de uma sociedade digital. Se a educação não desenvolver habilidades para que esse originário possa suplantar problemas com coerência, para que compreender, traduzir os símbolos?

Como formadores, compreendemos que a sociedade automatizada estabelece ir além. E habilidades para transitar entre plataformas que germinam o novo, para anteparar o próprio tempo, é apenas o norte do primeiro passo. É preciso coerência para atuarmos sem provocar perdas em si e no outro.

Do contrário, seguir adiante não vale a pena. Porque literacia prepara para competir. E o planeta pós-covid decreta aptidões para competir com os melhores. Para travar essa batalha, os sentidos têm que estar alinhados para vislumbrar além.

Afinal, literacia e numeracia instigam o indivíduo a se autodirecionar para delinear o norte que o conduz à realização. Os que são agraciados pelas suas essências declaram: metas, a gente atinge; caminhos, a gente traça; desafios, a gente enfrenta; sonhos, a gente realiza, porque a vida é agora, e esta decreta que seja vivida sem tantos desentendimentos e prejuízos.

Sem socialização, o grito do eu não é ouvido, o pensamento particularizado não é manifestado e a capacidade de compreender é asfixiada num espaço que apenas informa, dispersa conteúdos e não é acessível ao tempo daquele que chega almejando crescer, não apenas pessoal, mas profissionalmente.

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