Edição 131

A fala do mestre

O RESGATE DO EMPODERAMENTO NA EDUCAÇÃO DAS CRIANÇAS E DOS ADOLESCENTES

Leo Fraiman

Vejo com olhos assustados que cada vez mais adultos têm acreditado em um modelo educacional no qual três premissas têm sido praticadas: o individualismo, o palpitismo e o clientelismo.

Percebo isso claramente nas situações simples do dia a dia, como no mercado, no sacolão, no shopping e nas redes sociais. É muito comum ouvirmos pais e mães que, com as melhores das intenções e com amor no coração, norteiam a educação de seus filhos no pode/não pode, faço/não faço, compro/não compro, concordo/discordo, educo/deixo pra lá dependendo do calor do momento.

“Eu acho…”
“Hoje em dia…”
“Todo mundo…”

 

É a vontade que impera no momento que acaba sendo o eixo norteador de um modelo educacional que tem criado problemas graves na educação de nossas crianças e nossos adolescentes.

Só para citar um exemplo, não é raro vermos familiares dando carteirada em professores que oferecem limites aos alunos. Também não é incomum, em grupos de WhatsApp, ouvir relatos de xingamentos e ofensas aos profissionais da escola quando estes adotam medidas que frustram o ego das crianças.

A partir da ideia de que “Meu filho é muito especial, é mais importante do que os demais”, “Já que sou cliente, estou pagando, eu tenho sempre a razão”, em muitas escolas do Brasil temos observado uma desonra à figura do professor, que se torna refém dessa postura individualista, palpitesca e clientelista.

Tenho procurado, em minhas redes sociais, em meus livros e minhas palestras, sensibilizar os familiares acerca do fato de que os novos tempos serão cada vez mais complexos, dinâmicos, acelerados e exigentes. Sem desenvolver competências sociais e emocionais,

sem um caráter fortalecido, muitas crianças e jovens de hoje tendem a se tornar seres à margem da sociedade, seja por uma saúde depauperada ou mesmo pela dificuldade de encontrar o seu propósito profissional e de construir uma postura vencedora, o que exige, como já dito acima, competências sociais, emocionais e de caráter, além de um projeto de vida nobre, voltado ao servir.

Concluindo, tenho procurado alertar aos familiares de que existem cinco elementos que podem, sim, fazer a diferença na educação, que são:

Presença: quando um filho percebe que seus pais se importam de verdade, ele tende a respeitar, pois é a partir do vínculo que a criança entende que aquela regra, que aquele combinado merecem, sim, ser preservados.

 

Organização: dividir tarefas e ter horários e rotinas bem cuidados na família e a colaboração de todos para o andamento da casa cria um senso de união, fortalece o caráter e desenvolve a solidariedade nas situações mais simples, como o fato de, querendo ou não, irem todos ao mercado ou arrumarem a casa no fim de semana.

 

Disciplina: crescer em um lar em que se valoriza o fato de terminar aquilo que se começou, em que se dá o máximo de si nas atividades que são feitas, em que se estimula a perseverança e a dedicação naquilo que se faz ajuda no controle dos impulsos e no desenvolvimento do freio moral, elemento essencial para uma vida boa.

 

Engajamento: um dos elementos de maior proteção emocional de uma criança e de um adolescente, curiosamente, é o número de refeições que ela faz com os seus familiares. Momentos simples juntos, nos quais cada integrante mostra ao outro que se importa, que se interessa e que se consideram mutuamente, fortalecem consistentemente a saúde física e mental.

 

Formar a mentalidade de crescimento continuado e de superação ajuda na tão importante resiliência, uma força essencial diante dos novos tempos.

Você acabou de ver o acrônimo da palavra poder. São ações simples, mas não simplistas, pois exigem um autoconhecimento e um compromisso com o ato de formar não os melhores filhos do mundo, mas, sim, os melhores seres humanos para o mundo.

Fica aqui o convite. Posso contar com você?

Para ir mais a fundo nessa temática, deixo aqui como sugestão de leitura a minha obra A síndrome do imperador: pais empoderados educam melhor, disponível nas maiores livrarias do Brasil e no e-commerce.

Resiliência: que maravilha crescer em um lar em que, diante das dificuldades, das adversidades e das frustrações, temos um pai e uma mãe que nos façam uma pergunta muito simples, porém poderosa: “O que de melhor você pode fazer com isso, meu filho?”. Ou ainda: “O que você aprendeu dessa experiência que pode ser útil na próxima vez?”.

 


 

Leo Fraiman é psicoterapeuta, palestrante internacional, escritor e autor de mais de vinte livros, dentre os quais se destaca Metodologia OPEE (Projeto de Vida e Atitude Empreendedora), presente em mais de 1.500 escolas no Brasil. Foi conferencista na ONU no Simpósio Internacional – Formando Lideranças para o Desenvolvimento Futuro, em Genebra/Suíça. Com mais de 30 anos de carreira, foi membro do Comitê Mundial de Educação para a Autonomia, em Paris; ganhador do Prêmio Shift – Agentes Transformadores, com o case da Metodologia OPEE; e, atualmente, é autor aprovado pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) com a obra Pensar, sentir e agir.
Instagram: @leofraimanoficial

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