Edição 119
Profissionalismo
Rapport: uma linguagem entre aluno e professor
Nildo Lage
Para romper a distância que espaça aplicador de conteúdos de receptador para construir uma aprendizagem satisfatória, é preciso sintonia, uma linguagem que facilite o entendimento e que, ao mesmo tempo, aborde aplicador e receptador. Do contrário, o alvo crescimento humano no espaço escolar não sobrevirá. E não adianta os envolvidos no processo educacional resistirem, pois a ferramenta tradicional que funciona no espaço sala de aula é a linguagem entre aluno e professor, por ser intercâmbio que agencia um ensinar e um aprender equilibrado. Porque ensinar estabelece além da fomentação de teores; é preciso relacionar, alinhar olhares, aceitar o outro e falar a mesma língua; isso irrompe distância e fortalece o relacionamento.
A linguagem entre aluno e professor é a plataforma que permite trocas de saberes, de experiências… Essa cadência de trocas incita buscas para atender aos anseios pessoais. Esse horizonte é convite ao sistema de ensino para sair do alvéolo e revolucionar, permitir ser conduzido pela magia das ferramentas digitais e, assim, desenvolver metodologias infalíveis de ensino-aprendizagem… Porque a tecnologia é uma fera que não permite ser domada, pois seu alvo é evolucionar, arremeter-se, transcender o humano, e, se esse humano fomentador de conteúdos se aliar às tecnologias, pode converter a sala de aula numa nave espacial para aliciar o aluno em viagens interplanetárias. Pois, no universo sala de aula, a única barreira que a tecnologia não suplanta é o clássico instrumento humano, cognominado professor, por ele ser essencial no procedimento educacional.
O professor foi e sempre será a ferramenta insubstituível no processo de aprendizagem, porque o seu agir é imperativo, por transmitir valores e assentar um aprender homogêneo, excepcionalmente quando a relação aluno-professor é espontânea, suscitada da colaboração e da troca e cingida pelo respeito que harmoniza o crescimento de ambos numa atmosfera que seduz, fascina… Descomplica a convivência.
E o planeta pós-Covid se constitui de humanos refratários, resistentes aos agentes que desequilibram, isolam, ceifam vidas… E um dos maiores desafios da Educação é “trazer de volta” e ousar o segundo passo: criar uma relação, pois o estreitamento interpessoal canaliza objetivos educacionais, aproxima, exclusivamente, daquele que é o centro das atenções: o aluno, estabelecendo, ao educador, sensibilidade para esboçar as coordenadas delineadas por aquele que conduz ao mestre da empatia — Rapport.
Por que Rapport?
É simples! Rapport não é afetividade que estabelece assentar o coração como para-choque, com receio de arranhar o sentimento do outro com a verdade que educa, por exprimir uma linguagem que agencia o entendimento. Rapport não é paternalismo… Rapport é respeito. Se, no processo, a afetividade fluir, é administrada pela empatia, cuja habilidade salienta amor pela profissão com o prazer de aprender. E é precisamente nesse prazer que os elos entre professor e aluno se acoplam para formarem o conjunto de propulsores que os arremessam ao universo das buscas.
Rapport opera na sala de aula como uma bússola, que aponta a rota para restringir a distância, e essa aproximação proporciona segurança e confiança, que se originam do envolvimento que atenua o clima, a ponto de a canalização de pensamentos fluir como fontes que jorram conhecimento.
Rapport tem como alvo edificar a plataforma da empatia e da certeza, por se aliar à comunicação que conecta para aproximar e, no mesmo processo, posicionar o professor no nível do aluno, para que este possa receptar informações como nortes que direcionam a aprendizagem, atenuando os conflitos entre fomentador de conteúdos — professor — com receptador — aluno.
O professor que romper esses reptos aplicará, no seu cotidiano, conceitos do Rapport por meio do “ajuntamento” entre “ensinante e aprendente”, convertendo o ambiente da sala de aula num clima acolhedor.
Clima que, além de atenuar conflitos, arremessa por terra a resistência discente, graças ao agir docente em buscar o outro para restringir a distância e ajustar as diferenças para, assim, canalizarem os olhares no mesmo horizonte, pois a sintonia entre ambos tende a ganhar proporções e, à medida que o espaço da resistência e da apatia é preenchido pela confiança, largueia os horizontes da aprendizagem.
A partir desse estágio, ações de aprender e ensinar se convertem em desafios que excitam e granjeiam forma à medida que dilatam olhares, pois tudo começa a funcionar numa sincronia magnífica, porque o olho no olho conecta; o contato aproxima; o respeito ao olhar do outro gera entendimento, refletindo, nas ações, efeitos positivos de uma relação que, além de afeiçoar a aprendizagem com desenvolvimento humano, posiciona o alvo — aluno — no ponto de convergência para que as ações docentes proporcionem o crescer homogêneo.
Rapport é empatia, e empatia é falar a língua do outro, compreender a linguagem do outro; e, quando há entendimento entre eu e o outro, é possível equilibrar o relacionamento.
E, à medida que o relacionamento se estreita, dá-se início ao compasso de estabilização emocional e psicológica e, até mesmo, ao balanceamento vocal, pois o tom atenua para que o outro possa ouvir melhor, apreender melhor, e, nessa reciprocidade, timing e ritmo regem os diálogos, a ponto de quem ensina e quem aprende se tornar o alvo principal do outro, por imperar o respeito, que facilita a superação das dificuldades, pois tais ações rompem obstáculos e partem em busca de aliados como coaching para aprimorar o relacionamento.
A linguagem entre aluno e professor é intercâmbio; e intercâmbio estreita vínculos e alicia o conhecimento a ponto de se converter numa janela que se maximiza para que o professor visualize as dificuldades discentes e direcione a criação de oportunidades no próprio processo, podendo, assim, trabalhar bloqueios, dificuldades… deficiências… E autoavaliar suas práticas, antes de aferir o aluno.
E, por estarem envolvidos em nome do desígnio da aprendizagem, a sintonia permite que aprendiz e ensinante cresçam em consequência da troca de saberes. Troca que se converte numa justaposição que instrui, pois não apenas falam a mesma língua, a própria linguagem que proporciona o entendimento se torna ponte que interliga o prazer de aprender com o processo ensinar.
É surpreendente como a metodologia que promove a aproximação entre aluno e professor arremessa por terra argileiras históricas que a própria escola não consegue assolar: o conflito de gerações. Esse fator intensifica a tensão em sala de aula, pois a linguagem entre professor e aluno vai além de um acordo; falar a mesma língua canaliza ideias, e a aproximação se converte numa parceria. Parceria que proporciona o equilíbrio entre prematuridade e maturação por promover a introdução de conteúdos que, além de fortalecer as bases discentes, ampliam os horizontes docentes que visualizam a rota para progredir, pois o avanço discente esboça as coordenadas, e, à medida que os trabalhos progridem, sobrevém o tão almejado crescimento humano.
É nesse estágio que a linguagem facilita a inserção de conteúdos ricos em valores, que alargam as fronteiras do conhecimento estabelecendo que é preciso elevar o nível do ensinar, para não interromper o processo de crescimento, e este, no mesmo procedimento, adapta, no próprio ambiente, a nobreza do ato de aprender para crescer humana e profissionalmente.
Esse nível é o retorno de que a Educação finalmente alcançou seus propósitos por conectar os elos que interligam aprender e ensinar para formar um todo, e quando esse todo aufere consistência, eu, o outro… nós… suplantamos os abismos que separam a aplicação de conteúdos com formação, e nós somos fortes por sermos resultado de um relacionamento que dilatou olhares, redirecionou caminhos e nos aproximou, atraídos pela empatia.
“Rapport é empatia, e empatia é falar a língua do outro, compreender a linguagem do outro; e, quando há entendimento entre eu e o outro, é possível equilibrar o relacionamento.
Triiiiimmmm….Caindo na real!
Quem instrui sabe que aprender não é um procedimento simples. E não há autodidata que domine competências para se instruir sobre o que nunca viu… A metodologia autônoma exige, no mínimo, ver… Mesmo inserido num padrão que descarta métodos tradicionais de aprendizagem, não se consegue autodesenvolver, ainda que com a elevada capacidade para aprender, pois essa aptidão é fruto da ambição de se instruir, porque ninguém se autoaprende. Aprender sozinho é uma característica que o autodidata ostenta impulsionado pela curiosidade que o arremessa para ir além, e é na fronteira desse “além” que se desenvolvem as competências que o instruem.
Todavia, é preciso que alguém apresente, nomeadamente, como se faz… Assim, aprender exige procedimento; aprender decreta aproximação entre quem ensina e quem aprende, e a intensidade da linguagem no processo de ensinar constitui a dimensão do aprender.
Então, por que ninguém se autoconstrói? Se a reprodução da vida — humana — estabelece transferência — de espermatozoides para o aparelho reprodutor feminino —, a Educação vai além: decreta transferência de conteúdos com valores intrínsecos ao crescimento humano, pois o processo educacional não é autodidata, tampouco andrógino para se autotransformar e suscitar em si o que cada aluno almeja para ser.
Sai da bolha, sistema! Professor não necessita de bajulações. Professor precisa é de ambiente de trabalho apropriado. Professor precisa ser reconhecido, valorizado, motivado… capacitado… A sala de aula é o ambiente que promove o crescimento humano, e como um profissional desmotivado, desvalorizado e perseguido pela violência pode sorrir, atrair, encarar, dialogar… aproximar para assumir uma relação sem conflitos?
A linguagem entre aluno e professor, de tão vital no processo escolar, torna-se uma ferramenta necessária e responsável por proporcionar suporte, aporte, formação, valorização profissional… Diretor, incentive, atraia os melhores, dê feedback aberto e prático ao professor, porque, somente fora da bolha, poderá receber feedbacks particularmente e, assim, individualizar situações. Dessa forma, aproxima-se, pois, ao se aproximar, está prendendo o laço da empatia entre sistema e educador, e esse approach se converte na mola que impulsiona o educador a preencher os vazios da sala de aula com empatia.
“A sala de aula é o ambiente que promove o crescimento humano, e como um profissional desmotivado, desvalorizado e perseguido pela violência pode sorrir, atrair, encarar, dialogar… aproximar para assumir uma relação sem conflitos?
Aproximação para visualizar que a evolução vai além de ferramentas digitais, modernização inclui metodologias que rompem a cultura do medo, respeitam a cultura do aluno e compreendem que suporte/aporte não é ditar regras e cobrar resultados, é fortalecer as bases de quem pisa no chão da sala de aula para que possa suportar os sismos que o próprio desempenhar do ofício incita.
Infelizmente, não podemos dizer que temos orgulho de oferecer uma Educação que agencia a conformidade aluno-professor. Pois má gestão, péssimas condições de trabalho, deficiência de formação, ausência de valorização e desequilíbrio familiar convertem o espaço escolar num ringue, e essas cadências de conflitos entre aluno-professor-família-gestão-sistema assolam o ponto de equilíbrio do profissional, que necessita de, no mínimo, um ambiente acolhedor, e isso impede que a comunicação aluno-aluno e aluno-professor sobrevenha, e, sem comunicação, o que é falado soa numa linguagem imprópria, em aulas essencialmente expositivas.
Cunhar o elo não é uma necessidade, é urgência. Assim, é urgente Rapport para revertermos esse quadro, para que a Educação cumpra o papel de formar para a vida, pois o que temos é astigmatismo, que arremete o professor num picadeiro para ser vitimado e, até mesmo, desrespeitado.
O que fazer? Nada! A não ser interrompermos para encarar o horizonte e visualizar Rapport, pedindo licença para imergir no universo Educação, para aproximar aluno de professor e família de Educação; e, se ousarmos bifurcar o olhar, entenderemos que Rapport tem tudo em comum no contexto educacional, pois, além de aproximar, assenta como plataforma, confiança, afabilidade e respeito.
Onde há confiança, afabilidade e respeito, barreiras que obstruem o avanço da aprendizagem desmoronam por não resistirem aos tremores de ações que fazem do processo de ensinar e aprender uma experiência única, simplesmente fantástica.
E crescer juntos é tudo que um sistema sem norte tem que proporcionar para reiniciar o seu processo de rotação com coordenadas delineadas, e tais coordenadas devem conduzir para o universo das coisas conectadas. Ou conecta, para que o ensino híbrido se torne realidade, ou ciclos, anos, prosseguirão, ficando para trás.
Covid foi o despertar. Perdemos 2020, 2021 raiou sem horizontes, pois apandemia granjeou forças… E o reinício não permite olhar para trás para asseverar quem errou, quem não fez, quem fracassou… O reinício constitui olhar Rapport como promessa para alargar os horizontes da confiança e do respeito; coaching para estabelecer não apenas uma comunicação satisfatória, mas ferramentas digitais que harmonizem comunicação com aplicação de conteúdos para, assim, proporcionar crescimento, excepcionalmente, humano, por meio de uma aprendizagem condensada.
Tais objetivos, muitas vezes, não são alcançados porque o sistema nega, ao professor, estruturas básicas — como condições de trabalho — e, assim, negligencia, impede-o de conhecer o seu aluno por meio da otimização, precisamente por não falarem a mesma língua, afrontarem o mesmo horizonte, e esse bilinguismo, olhares bifurcados, iça barreiras naturais que desmotivam um profissional que se vê impelido a maquiar, trapacear, sem conseguir sair do lugar-comum, porque o seu discurso não convence, tampouco dissemina teores que agenciam a aprendizagem.
Todavia, se ambiciona participar da evolução, professor, ensaie o primeiro passo, permita uma aproximação… Mesmo que seja para sair do lugar-comum… É difícil? É! Mas não é impossível! Rompa o comodismo, não tenha receio de descer, chegar ao nível do seu aluno para encará-lo diretamente nos olhos.
Essa ação assola as barreiras que apartam… Linguagem entre aluno e professor é reduzir distância. Linguagem entre aluno e professor rompe paradigmas; linguagem entre aluno e professor emana calor humano, que liquefaz o gelo, suplanta os padrões que circundam os ranços e anteparam a aproximação; e aproximação é o princípio de uma relação de convivência estável; e convivência estável ostenta um relacionamento de confiança.
Permita-se evoluir, avançar. Abraçando o Rapport, estará cingindo seus alunos, e esse acolhimento envolve educador, seduz educando; esse envolvimento redireciona o foco para o alvo aprender, estimula a cumplicidade… Assim, descarta o blá-blá-blá para dissimular, rechear plano, embair o tempo e cumprir o calendário sem alcançar as metas do ciclo.
A ausência de linguagem entre aluno e professor arremessa o “professor do futuro” pelas dependências da escola como um livro didático suplantado. Resistir a Rapport é elevar a mão e desativar o dispositivo que o conecta com o seu aluno. Descartá-lo é admitir que o se relacionar com o outro não tem espaço na sua trajetória profissional, pois Rapport adapta aluno e professor numa atmosfera de aprendizagem envolvente.
A sua ausência desintegra, e é nessa deficiência — de Rapport — que a conexão empática aluno-professor não sobrevém, e, sem essa junção, que proporciona a troca de saberes numa atmosfera acolhedora e amolda uma aprendizagem no padrão de cada sonho, elimina sem chances de defesa os planos dos seus alunos de encontrarem a trilha da realização por meio da Educação.
Sabemos que a crise desequilibra, pois a desordem abordou o intolerável. Todavia, sem projetos definidos e acolhimento, a evasão escolar tende a ganhar níveis assombrosos… Tão alarmantes que o blá-blá-blá… “blá!” se conservará para que o “aceita para sofrer menos” prossiga como script de um enredo que atravessou décadas, séculos… Enveredou pelo novo milênio sem alcançar os desígnios da Educação, por não conseguir deixar para trás os “Guias de Ruas” com receio de acionar o GPS e experimentar novos caminhos.
Recusar Rapport é negar a si mesmo a oportunidade de se aproximar do seu cliente. Recusar Rapport é assumir que não tem propósito crescer como profissional nem contemplar a vitória dos seus alunos. Assim, reaja… Vire a mesa, troque a roupagem para compreender que Rapport motiva, e Educação sem motivação é arremessar um barco num mar turbulento, pular no bote salva-vidas e deixar os passageiros à deriva, à mercê da própria sorte.