Edição 120
Refletindo
Uma paráfrase em tempos de pandemia
Marcos Bezerra (Bezerroft)
E agora, professor?
A escola fechou,
a luz apagou,
o aluno sumiu,
a sala esfriou.
E agora, professor?
E agora, você?
Você que é sem reconhecimento,
desvalorizado por muitos;
você que faz planos,
que ensina, educa?
E agora, professor?
Está sem sala de aula,
está sem discurso,
está sem atenção,
já não passa o dever,
já não o pode corrigir,
fugir já não pode,
a sala esfriou,
o retorno ainda não veio,
o decreto não veio,
a revisão não veio,
e veio a pandemia,
e tudo parou,
e tudo fugiu,
e tudo travou,
e agora, professor?
E agora, professor?
Sua doce palavra,
seu instante de inércia,
seu silêncio e aflição,
sua escola,
sua biblioteca,
seu livro de ponto,
sua resiliência,
sua lousa — e agora?
Com o lápis na mão,
quer escrever na lousa,
não existe lousa;
quer navegar na Internet,
mas o wifi parou;
quer ir para os dados móveis,
dados não há mais.
Professor, e agora?
Se você apelasse,
se você estremecesse,
se você tocasse
a canção Pra não dizer que não falei das flores,
se você caminhasse,
se você cantasse,
se você desistisse…
Mas você não desiste, não é mesmo?
Você é resiliente, professor!
Sozinho na tela escura,
qual internauta despreparado,
sem metodologia,
sem poder sair na rua
para se comunicar,
sem a adequada proteção
que evite o contágio do inimigo invisível que reina.
Tenha calma, professor!
Professor, vai passar!